Subprodutos da produção de azeite de oliva têm potencial para reduzir emissão do gás metano
Um projeto de pesquisa desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sul, com a participação da Embrapa Gado de Leite (MG) e da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), pretende avaliar a utilização de subprodutos da indústria de azeite de oliva na suplementação de bovinos.
Os objetivos são verificar a utilização na composição de concentrados para alimentação de bovinos, seu potencial de reduzir a produção de metano e também melhorar a qualidade da carne e do leite produzido. “A suplementação será utilizada na fase de terminação de bovinos de corte e também na alimentação de bovinos de leite”, informa a pesquisadora da Embrapa, pesquisadora Cristina Genro.
Segundo ela, esse subproduto é rico em gordura, que tem um efeito direto na redução na produção de metano. A gordura envolve as fibras ingeridas e as bactérias que atuam sobre elas, principalmente as metanogênicas, que não conseguem atingir esse alimento. “Com isso, ocorre uma transformação no rúmen dos animais, uma redução na população dessas bactérias metanogênicas, responsáveis pelo processo de produção do gás”, explica.
Metodologia
A olivicultura teve um grande crescimento no Sul do Rio Grande do Sul na última década, região que possui condições para um bom desenvolvimento da cultura. Em paralelo com o crescimento da área cultivada com oliveiras, estima-se que são mais de 14 mil hectares plantados, várias indústrias para produção de azeite de oliva se instalaram na região.
De acordo com a também pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul Renata Suñé, a escolha desse subproduto deu-se porque, além do potencial para a nutrição, representa um passivo da agroindústria instalada na região e não está sendo utilizado ou está sendo subutilizado. “Além disso, possui a característica da gordura que diminui a metanogênese, e pelos compostos secundários que a azeitona tem, como os taninos, que faz com que esse produto também seja mais bem aproveitado no intestino dos animais”, observa.
Segundo Renata, a ideia é transformar esse passivo ambiental em um produto que possa ser utilizado na alimentação de ruminantes. “Estamos buscando, num primeiro momento, uma forma prática de transformar esse material em um produto que possa ser adicionado em um concentrado”, informa e acrescenta que esse subproduto também tem potencial para substituir as fontes de energia mais tradicionais utilizadas nos concentrados, como o milho.
Expectativas
Além do potencial em relação à diminuição da emissão de metano, a expectativa é que o subproduto também tenha um efeito benéfico na qualidade da gordura, tanto da carne como do leite. “A oliva tem um perfil de ácidos graxos distintos que pode afetar a gordura da carne, possivelmente com efeitos positivos para a saúde humana. Podemos classificar como um alimento funcional, de forma que o consumo dessa carne, que já possui vitaminas e proteína, possa, por exemplo, contribuir na redução do colesterol”, pondera Cristina.
Na pesquisa serão desenvolvidos testes in vitro (no laboratório), in vivo (usando animais) e também avaliações a campo. No caso de bovinos de corte, a suplementação será oferecida na fase de terminação em área de pastagem de inverno, durante aproximadamente 120 dias. Serão analisados, além de aspectos nutricionais e produtivos, a emissão de metano em dois momentos distintos durante a suplementação.