Variedades escolhidas apresentaram excelente desempenho e se mostraram aptas ao manejo orgânico, segundo avaliação de pesquisa realizada pela USP/ESALQ
O cultivo do feijão mostra-se de fundamental importância pelo fato desse grão ser um alimento de baixo custo, porém essencial para a alimentação de milhões de pessoas. É um dos alimentos básicos e fonte acessível de proteína, vitaminas e minerais, com elevado conteúdo energético. Com a crescente preocupação sobre a conservação dos recursos naturais, as práticas agrícolas modernas são vistas como fatores que contribuem para a degradação de solos e mananciais, poluição das águas e dos alimentos. “A procura por manejos sustentáveis de produção gera uma grande demanda em pesquisas em agroecologia. São poucos os trabalhos científicos de adaptação de cultivares para o sistema orgânico, e grande quantidade refere-se à cultura da soja, conduzidos na região Sul do país”, revela a agrônoma Jacqueline Camolese de Araújo que, em sua pesquisa de mestrado, desenvolveu uma avaliação de cultivares de feijão para o sistema orgânico de produção. O estudo, que fora desenvolvido durante o plantio de inverno de 2008, na Fazenda Areão (estação experimental pertencente à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP/ESALQ), analisou as variedades do grupo Carioca (BRS-Pérola, BRS-Aporé, IAC- Votuporanga e IPR- Juriti) e do Grupo Preto (IAC-Tunã e BRS-Valente).
Orientada pelo professor Antonio Luiz Fancelli, do departamento de Produção Vegetal (LPV), a pesquisa avaliou as características e o comportamento das diferentes cultivares de feijão de inverno irrigado em sistema de produção orgânico. Como resultado, as variedades apresentaram um alto desempenho produtivo, com uma média de 3500kg/ha. Como parâmetro, uma boa produção varia em torno de 2500 a 3500 kg/ha. Neste experimento, a produção de feijão orgânico foi excelente, melhor que muitos convencionais. No geral, a produção orgânica feita corretamente apresenta o mesmo desempenho que o convencional ou ligeiramente abaixo.
Para o sistema orgânico como um todo, a principal necessidade é a escolha correta de variedades e uma adubação equilibrada. No caso do feijão, as variedades escolhidas apresentaram ótimo desempenho e se mostraram aptas ao manejo orgânico para a região de Piracicaba-SP. “Precisamos dar preferência para variedades resistentes às doenças da região. Em seguida, a variedade deve estar adaptada ao clima do local, não adianta plantar uma variedade do nordeste na região sul do país”, salienta a autora do projeto.
Segundo Jacqueline, a produção de feijão orgânico é uma boa alternativa econômica para pequenos produtores. “Trata-se de uma excelente opção, pois em pouca área e bem cuidada é possível ter uma boa produção de feijão, que apresenta uma grande aceitação e procura do mercado. Além disso, apresenta um preço de venda maior que o convencional”, finaliza.
Caio Albuquerque – ESALQ/USP
Fotos: Jaqueline Camolese de Araújo-USP/ESALQ
Pessoas de meia-idade são as que mais compram produtos orgânicos
Pesquisa estuda o hábito que os brasileiros têm de comprar alimentos orgânicos
A compra de orgânicos no Brasil está relacionada à idade das pessoas. Assim, enquanto a média geral dos brasileiros que declararam ter adquirido orgânicos no último mês de abril, quando da realização da pesquisa, é de apenas 9%, em meio às pessoas entre 50 e 59 anos, estes compradores representam 15% e entre indivíduos de 40 a 49 anos, eles são 12%. Consumidores com mais de 59 anos somam o mesmo valor que a média nacional (9%). Este hábito é menor entre os mais jovens. Somente 8% dos brasileiros entre 30 e 39 anos adquirem orgânicos, entre os 20 e 29 anos eles são 7% e entre os adolescentes, de 13 a 19 anos, eles são apenas 5%.
Estes dados foram coletados pela GfK, uma das quatro maiores empresas de pesquisa do Brasil e do mundo, que entrevistou 1.500 consumidores, homens e mulheres, maiores de 13 anos, das classes A, B, C e D, representando a população de nove regiões metropolitanas do País: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Segundo a norma federal (lei Nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003), considera-se produto orgânico aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. Assim, estes alimentos são produzidos sem o uso de substâncias químicas e, portanto, são considerados mais saudáveis. Os vegetais orgânicos só recebem aplicação de fertilizantes e pesticidas de origem natural que são livres de substâncias sintéticas. Com relação às carnes desta categoria, além dos animais só ingerirem alimentos que obtenham estes mesmos cuidados, eles não recebem tratamentos com hormônios ou antibióticos. Todas estas características garantem a isenção de resíduos, porém encarecem os alimentos.
Orgânicos: consumo nas classes sociais
A diferença entre o consumo dos produtos orgânicos entre as classes sociais é grande. A porcentagem de pessoas da classe A1 que adquirem orgânicos é mais que o dobro da porcentagem de pessoas que têm este hábito da classe B2 e C e quase o triplo da classe D. Assim, 17% dos consumidores da classe A1 usam produtos orgânicos, contra 13% das classes A2 e B1 e 8% das classes B2 e C. Somente 6% dos brasileiros da classe D declararam ter comprado algum produto orgânico no último mês.
O comportamento também apresenta mudanças regionais. A população de Belo Horizonte é a que mais adquiri orgânicos (17%), seguida pela de Belém (14%), São Paulo (12%), Fortaleza (10%) e Recife (9%). Estão abaixo da média de consumo nacional os moradores de Salvador (7%), Curitiba (5%), Rio de Janeiro (4%) e Porto Alegre (3%).