Pesquisa da Epamig obtém resultados positivos no Vale do Jequitinhonha
O desafio de produzir azeite e azeitona em território mineiro está sendo superado pelos pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que mantém experimentos com sete variedades de oliveira em diversas regiões de Minas Gerais, inclusive em condições antagônicas às encontradas na região de origem da planta, o Mediterrâneo.
É o caso do plantio de 200 oliveiras na Fazenda Experimental Acauã, da Epamig, em Leme do Prado, no Alto Jequitinhonha, onde as plantas estão demonstrando resistência às condições adversas e estão se desenvolvendo e florescendo, apesar da pouca idade. “Os indícios são positivos”, afirma o pesquisador Adelson Francisco de Oliveira, responsável pelo experimento.
Ele explica que no Alto Jequitinhonha, ao contrário do Mediterrâneo, o inverno não chega a ter temperaturas abaixo de 10º, a não ser ocasionalmente, e um verão quente, porém com chuvas concentradas em três meses. A oliveira, originalmente exige calor e tempo seco para crescer, e temperaturas baixas para frutificar.
Para substituir as baixas temperaturas, a exemplo do que é feito com a manga, no Vale do São Francisco, os pesquisadores irrigam em abundância e aplicam um regulador de crescimento. Com a manga deu certo e a produção da fruta está ocorrendo até fora da temporada tradicional. As conclusões, embora preliminares, em função de ser um período curto para as oliveiras, que exigem quatro anos para frutificarem, indicam que as plantas estão se desenvolvendo bem e florescendo.
Produção promissora
Já em Três Corações, no Sul de Minas, com condições mais favoráveis, o florescimento, segundo o pesquisador é abundante e a expectativa de produção nos primeiros meses de 2010 é bastante positiva. Temperaturas mais baixas são mais frequentes na região que também apresenta períodos de calor intenso.
O técnico agrícola, Enilson Ribeiro de Oliveira, responsável pelo cultivo de 200 oliveiras na Fazenda Dafé, em Três Corações, explica que 60 dessas plantas já estão com quatro anos e floresceram. “Em vários pés a carga é boa e a produção promete”, afirma.
O proprietário Marcos Arruda Vieira, no início, achou muito incerto trabalhar com azeitonas, mas resolveu apostar e agora não tem do que reclamar. “Há pouco mais de três anos adquiri 60 mudas na Epamig, tive uma cobertura extraordinária dos técnicos e tive uma surpresa agradável, pois em tese, a oliveira precisa de 100 dias de frio intenso, e as plantas se desenvolveram, estão com um porte interessante e deram flores, o que me faz acreditar no potencial. Dentro de poucos anos teremos uma produção muito boa”.
A propriedade tem 150 hectares, dos quais 75 dedicados ao café. Animado com os primeiros resultados, Arruda já encomendou mais mudas e o plantio das oliveiras, restrito a meio hectare, será ampliado para 15 hectares em 2010. “Se, em 1.400, os navegadores europeus não acreditassem, não haveria o Caminho das Índias e nem existiríamos como nação”, finaliza Arruda.
Dependência brasileira
A dependência brasileira de azeite e azeitona vem desde que a primeira nau de Cabral aportou em praias baianas. Várias tentativas foram feitas nos estados do sul do Brasil sem, contudo alcançar produção comercial.
De janeiro a agosto de 2009, o Brasil importou 24,5 mil toneladas de azeite de oliva, das quais 145,5 toneladas abasteceram o mercado mineiro. A importação custou ao País US$ 110,8 milhões e US$ 512,9 mil ao Estado. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Pioneirismo
A Epamig é pioneira nas pesquisas sobre a oliveira, especialmente na seleção de variedades mais adequadas às condições brasileiras e na produção de mudas de qualidade. As pesquisas sobre a oliveira estão concentradas na Fazenda Experimental de Maria da Fé, no Sul de Minas, com resultados promissores para o desenvolvimento da cultura no Brasil. A empresa produz anualmente 20 mil mudas.
As pesquisas tiveram início há três décadas em Maria da Fé, onde já foram plantadas 100 mil oliveiras e na região o número chega a 200 mil. O coordenador do Núcleo, Nilton Caetano de Oliveira, informa que no início de 2010 será feita a extração do azeite para comercialização. A previsão é de colher 50 toneladas de azeitonas que renderão 20 mil litros de azeite. No início de 2009 foi feita a extração de forma experimental.
E, desde 2007, os pesquisadores da Epamig iniciaram experimentos em várias regiões de Minas para testar a capacidade de adaptação de sete variedades de oliveira em condições diferentes de clima, água e solo. Integram este experimento as fazendas experimentais da Epamig no Jaíba, em São Sebastião do Paraíso, em uma propriedade particular em Piedade do Rio Grande, no município de Barbacena, além das fazendas experimentais de Maria da Fé e Acauã e da Fazenda Dafé, em Três Corações.