Desde a década de 1990 o plantio de cereal é empregado na recuperação de pastagens
O arroz de terras altas, ou de sequeiro, que abria as fronteiras agrícolas no Brasil na década de 1960 no Cerrado, volta a se estabelecer na região após perder espaço, nos anos 1990, para as lavouras irrigadas no Sul do País e para outras espécies graníferas.
Porém, no plantio atual é feito por agricultores altamente tecnificados, que utilizam o cereal em rotação com outras culturas e aproveitam sua boa aceitação no mercado, graças a novos materiais e manejos desenvolvidos pela pesquisa científica.
O novo emprego do arroz de terras altas tem sido observado, principalmente, nos Estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais e Tocantins que juntos produzem um milhão de toneladas do grão em uma área de 400 mil hectares. Em dos anos 1980, essa área chegou a ser dez vezes maior, ocupando cerca de quatro milhões de hectares do Cerrado, com produção superior a cinco milhões de toneladas.
Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (GO), há seis décadas, o arroz de sequeiro era usado como primeira cultura de plantio, após o desmate. Atualmente, com maior restrição para a abertura de novas áreas, os produtores estão aproveitando a cultura para a recuperação da fertilidade de solos de pastagens degradadas, uma prática já bastante utilizada, ou como nova opção de renda em rotação de culturas com a soja, por exemplo.
O gerente de vendas da Agropell Sementes, em Sinop (MT), Fábio Fadanelli, que comercializa sementes de arroz de terras altas em Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí, ilustra essas situações. Segundo ele, são dois tipos de produtores: os que têm uma pastagem degradada e precisa renovar e os altamente tecnificados.
“Os primeiros entram com o arroz na área degradada, porque os custos de recuperação do pasto ficam mais baratos (os insumos gastos para o cultivo do arroz beneficiam a retomada do vigor do pasto e a produção do grão é uma renda extra que abate os custos dessa renovação)”, detalha Fadanelli.
“Já os mais tecnificados procuram, por exemplo, uma cultivar para rotação com a soja, e até mesmo para o cultivo em pivôs centrais, e aproveitam as oportunidades de mercado com os preços chamativos como estavam no ano de 2020 para inserir o arroz em rotação.”
De acordo com pesquisador, o arroz de terras altas vem sendo utilizado na recuperação de pastagem degradada há 15 anos, mas a inserção do cultivo em rotação de cultura em áreas mais tecnificadas começou há 5 anos.
Fadanelli ressalta que o grão do arroz de terras altas proporciona é um produto agulhinha longo-fino de alta qualidade, ou seja, de maior valor para a indústria e o mais procurado pelos consumidores. “Desde que seja feito o manejo completo recomendado para a lavoura, esses grãos são bem aceitos e comprados pelas indústrias”, garante.
Sustentabilidade
A pesquisa que abrange o novo arroz de terras altas no Cerrado, voltado a ambientes de solo corrigido e de alta fertilidade, em rotação com outras culturas de grãos, permite compatibilizar melhor o cultivo ao compromisso brasileiro com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os ODS são hoje um alinhamento de entendimento global e podem facilitar a captação de recursos para a pesquisa em fontes de financiamento internacionais; e ainda possuem conexão aos critérios ESG (Environmental, Social, Governance), que é empregado para medir as práticas sustentáveis de empresas.