Brasil tem aproximadamente 6,5 milhões de pessoas com algum problema de visão, mas somente 2% desse total contam com a ajuda de um cachorro para se locomover, principalmente, pelas ruas das cidades
O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, de 2010) mostra que o Brasil tem aproximadamente 6,5 milhões de deficientes visuais. As cidades, em geral, não estão totalmente adaptadas para que pessoas com problemas de visão transitem, sem riscos, pelas ruas e até mesmo pelo transporte público e estabelecimentos comerciais. Daí a importância de um animal de estimação pra lá de especial: o cão-guia.
De acordo com a médica veterinária da Vetnil, Fernanda Cioffetti Marques, esses animais são fundamentais para a acessibilidade e até mesmo inclusão social de deficientes visuais.
“É importante ampliar o número de cães-guias para atender a essas pessoas e ajudá-las a ter uma melhora na qualidade de vida. Além de melhorar a locomoção, ele auxilia na sociabilização de pessoas com graves problemas de visão, permitindo uma interação com seu ambiente de forma mais autônoma e segura”, explica Fernanda.
Você sabia?
O trabalho de um cão-guia, que vai além de ser somente um animal de estimação para as pessoas com deficiência visual, é tão importante no Brasil a ponto de ter data própria: 25 de abril.
Treinamento
Informações de instituições e associações brasileiras, que treinam esses fiéis amigos, indicam que adestrar bem um cão-guia requer um longo período de treinamento e adaptação à rotina do novo dono. As raças mais utilizadas para essa tarefa, no País, são o Labrador e Golden Retriever.
Conforme a Vetnil, o período de treinamento, em geral, é feito em três etapas: sociabilização, treinamento e instrução. Na primeira fase, filhotes com dois meses de vida são selecionados e adotados por famílias voluntárias, que irão ensiná-los, com a supervisão de um instrutor, a conviver em sociedade e frequentar ambientes privados e coletivos.
Na segunda etapa, que se inicia entre um ano e um ano e meio de idade, os cães retornam para a escola de adestramento, onde passam de quatro a seis meses com um treinador que tem a missão de transformá-los em cães-guia.
Já na última fase, que dura de três a cinco semanas, o deficiente visual convive com o cão-guia e o treinador para criar e estreitar o vínculo entre eles. Este processo é finalizado quando o cão tem entre um ano e meio e dois anos de idade.
O que diz a lei no Brasil
A médica veterinária Fernanda Cioffeti destaca que “a legislação brasileira garante, às pessoas deficientes visuais, o livre acesso a lugares públicos”.
Também conhecida como “Lei do Cão-guia”, a Lei nº 11.126/2005, regulamentada pelo Decreto nº 5.904/2006, garante à pessoa com deficiência visual e usuária de cão-guia o direito de ingressar e permanecer com o animal em veículos (até mesmo transportes públicos, como ônibus, metrôs e trens) e nos estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo em todo o território brasileiro.
Lei do Cão-guia
Também conhecida como a Lei do Cão-Guia, a Lei nº 11.126/2005 diz que a pessoa com deficiência visual usuária de cão-guia tem o direito de ingressar e permanecer com o animal nos veículos e estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo, em todo o território brasileiro.
Segundo Fernanda, é importante conscientizar as pessoas que, quando um cão-guia está “trabalhando”, ou seja, “desempenhando seu papel de guiar um deficiente visual, não devem alimentar e nem desviar a atenção do animal”.
“As pessoas devem ter bom senso e sempre consultar o condutor se podem ou não interagir com o animal. Um descuido ou um desvio de atenção do cão-guia pode ocasionar problemas e até acidentes”, alerta a médica veterinária.
Dicas de como lidar com o cão-guia
Iniciativa sem fins lucrativos, que surgiu no ano de 2016 para dar assistência a quem precisa – pessoas carentes de recursos, com deficiências ou idosos –, o Instituto Magnus tem como primeira atividade o treinamento de cães-guias, como forma de oferecer mais autonomia, mobilidade e uma nova perspectiva de vida às pessoas com deficiência visual.
Para tanto, a instituição dá dicas de como lidar com um cão-guia:
1 – Não chame a atenção do cão-guia. É importante lembrar que ele está trabalhando e não se encontra na posição de um bichinho de estimação naquele momento;
2 – Não o toque e nem o acaricie enquanto ele estiver usando o peitoral com alça de trabalho. O animal pode se distrair e acabar causando algum acidente com a pessoa com deficiência visual;
3 – É preciso que os tutores de cães de estimação controlem seus animais, utilizem coleiras e, de preferência, fiquem afastados dos cães-guias. Caso contrário, ele poderá acabar perdendo o foco de sua atividade principal;
4 – Nunca ofereça alimentos ao cão-guia. Ele tem horário certo para comer e certamente estará bem alimentado pelo seu tutor;
5 – Fale sempre com a pessoa com deficiência visual primeiro e nunca diretamente com o cão-guia. Já que ele sabe que alguém poderá distrai-lo, e só permitirá a intervenção, caso o cão não esteja a trabalho;
6 – Caso alguma pessoa com deficiência visual peça ajuda, o ideal é aproximar-se pelo lado direito dele, de maneira que seu cão-guia fique à esquerda;
7 – Se por ventura a pessoa com deficiência visual aceitar ajuda, ela irá pedir para que você ofereça seu cotovelo esquerdo. Neste caso, usará um comando para indicar ao cão-guia que ele estará temporariamente fora de serviço;
8 – Ao passar informações para a pessoa com deficiência visual, é preciso indicar com clareza o sentido em que se deve dobrar ou seguir para chegar ao local, assim ele poderá passar a rota ao cão;
9 – Não pegue o braço de uma pessoa com deficiência visual que está acompanhado de um cão-guia, sem antes conversar. Muito menos toque na guia do animal, pois a mesma é só para uso do seu tutor;
10 – O cão-guia foi treinado e está habituado a viajar tanto dentro como fora do país, em todos os meios de transporte, acomodado aos pés do seu tutor, sem atrapalhar os passageiros;
11 – Os cães-guias são capacitados para entrar e permanecer junto aos seu tutores em todos os tipos de estabelecimentos, tanto de saúde como em lojas, restaurantes, supermercados, cafeterias, cinemas, teatros, centros de estudo ou trabalho, sem causar alterações no funcionamento dos locais e nem incomodar os funcionários ou o público;
12 – Devido ao treinamento que recebem, os cães-guias estão capacitados para exercer suas funções e nunca vagam pelos recintos. Eles têm o mesmo direito de gozar de livre acesso a todos os locais públicos como seus tutores.
No site do Instituto Magnus, é possível obter outras informações sobre como ter um cão-guia, ser uma família voluntária, entre outras dicas. Para mais informações, acesse www.institutomagnus.org.