Ensaios realizados pela Embrapa, no Amazonas, mostram que combinações de copa e porta-enxertos melhoram a produtividade e a qualidade dos frutos
Novas combinações de copa (parte aérea da planta) e porta-enxertos (base de sustentação da copa) para produção de laranja no Amazonas reduzem a vulnerabilidade da cultura a pragas e doenças, aumentam a produtividade e a qualidade dos frutos e agregam valor à produção.
Esse é o resultado dos ensaios realizados por pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) e da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) para avaliar o comportamento produtivo de variedades e contribuir para a sustentabilidade da citricultura no Estado. O cultivo de citros envolve 2.400 produtores nos municípios vizinhos a Manaus, como Iranduba, Rio Preto da Eva, Manacapuru, Itacoatiara, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Careiro.
Segundo o pesquisador da Embrapa Marcos Garcia, além de diminuírem a incidência de pragas e doenças (fatores bióticos), as novas combinações de variedades reduzem também a vulnerabilidade da cultura frente aos riscos ocasionados por variações de clima e solo (fatores abióticos). “As variedades de porta-enxertos e copas, avaliados pela primeira vez no Amazonas, têm mostrado bom desempenho em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Sergipe”, informa.
Experimentos
Nos experimentos foram selecionadas novas combinações de copa e porta-enxertos que são alternativas à única opção utilizada pelos citricultores do Amazonas: laranjeira pera (Citrus x sinensis (L. Osbeck) enxertada em limoeiro cravo (Citrus x limonia Osbeck).
Os ensaios avaliaram a taxa de sobrevivência e a produtividade para 28 combinações de variedades de copa e porta-enxertos. As mais altas produtividades foram obtidas nas combinações copa/porta-enxerto Pineapple/Cravo Santa Cruz, Valência Tuxpan/BRS Bravo e Valência Tuxpan/Cravo Santa Cruz, de 64 t/ha, 53 t/ha e 50 t/ha, respectivamente.
Produtividades entre 30 t/ha e 38,5 t/ha foram registradas nas combinações Rubi/Riverside, Rubi’/BRS Bravo, Pera/Cravo Santa Cruz, Valência Tuxpan/Índio e Pineapple/BRS Bravo. Produtividades entre 20 t/ha e 28 t/ha, superiores à média estadual, foram alcançadas nas combinações de Pera/Riverside; Valência Tuxpan/Riverside; Pineapple/Índio; Pineapple/Riverside; Rubi/Cravo, Pera/BRS Bravo; Valência Tuxpan/Sunki Tropical e Pera/Índio.
Verificou-se ainda, nas diferentes combinações de copa e porta-enxerto, atributos de qualidade dos frutos como teor de sólidos solúveis totais (% de açúcares), acidez (% de ácido cítrico) e rendimento de suco. Os resultados indicam alto potencial de uso comercial dos porta-enxertos Índio, Riverside e BRS Bravo.
Conforme a pesquisa, as variedades de copa Rubi, Pineapple e Valência Tuxpan são alternativas para a diversificação do pomar, em adição ao uso da laranjeira Pera D6 CPMF, na busca de maior sustentabilidade comercial para a citricultura no Amazonas.
Mudas
Segundo Garcia, as sementes desses porta-enxertos já são utilizadas por alguns viveiristas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Um deles é o agricultor Nilton Passos, que trabalha com citros há 40 anos, em sua fazenda de 25 hectares, localizada na Rodovia AM-010 em Manaus.
Passos destaca a importância da pesquisa de novas alternativas para a citricultura regional. “Hoje temos um problema seriíssimo, porque a maioria dos pomares tem como porta-enxerto apenas o limão-cravo, que é dos mais suscetíveis a pragas e doenças como a gomose”, relata Passos. Segundo ele, as sementes usadas para produzir suas mudas são adquiridas de órgãos inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), com certificado de origem. “Quem ganha é o produtor ao comprar um produto livre de doenças.”
Diversificação
O pesquisador José Eduardo de Carvalho, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que já trabalhou no Amazonas, afirma que um dos grandes desafios para o crescimento do setor citrícola na região é aumentar a diversificação de combinações de copa e porta-enxerto buscando-se, além da diversidade genética, maior resistência a doenças e eficiência no uso de nutrientes, visando ao aumento da produtividade, qualidade de frutos e longevidade dos pomares.
“O uso exclusivo da combinação laranjeira Pera (C. x sinensis (L.) Osbeck) enxertada em limoeiro Cravo (C. x limonia Osbeck) torna a citricultura amazonense muito vulnerável às doenças gomose e declínio, pela estreita diversidade genética dos seus pomares”, observa o pesquisador.
Projeto
As pesquisas foram conduzidas pelo Programa de Melhoramento Genético de Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura, a partir de 2011, com a produção de mudas para os ensaios em condições de clima e solo locais. A identificação das novas combinações de copa e porta-enxertos é resultado de um projeto de pesquisa e transferência de tecnologia sob a coordenação da Embrapa Amazônia Ocidental e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).