Um levantamento divulgado pela Comissão Estadual de Sementes e Mudas (CSM), junto com a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do RS (APASSUL) mostra que, pela primeira vez na história da triticultura gaúcha, o produtor conta com mais da metade do volume de sementes certificadas com classe industrial de trigo pão. Para a safra 2010 estão disponíveis mais de 107 mil toneladas de sementes de 29 cultivares. A BRS Guamirim, da Embrapa, foi a cultivar que conquistou a maior área para sementes na última safra, gerando um volume estimado em 22.800 toneladas.
O número de cultivares em produção no Rio Grande do Sul diminuiu de 45 na safra 2006 para 29 na safra 2008. Reduziu em número, mas aumentou em qualidade com a maior oferta de cultivares da classe comercial pão, preferida pela indústria e com maior valor no mercado. “Historicamente, o Rio Grande do Sul tem se mostrado como produtor de trigo brando, resultado de fatores como ambiente e clima. O melhoramento genético das empresas trabalha no desenvolvimento de cultivares que atendam as exigências da indústria, mas continuem rentáveis ao produtor. O aumento da oferta de sementes de trigo pão mostra o esforço da pesquisa para tornar o trigo gaúcho mais competitivo”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Pedro Scheeren.
O mercado de sementes de trigo no Estado é abastecido por quatro obtentores: Fundacep, OR-Sementes, Embrapa e Coodetec, ligados a 125 produtores (média dos últimos três anos). O volume de sementes certificadas tem ficado em torno de 100 mil toneladas, com média de 38% da classe comercial pão. Para a próxima safra, o produtor conta com 53% de trigo pão, 40% de trigo brando e 6% de trigo melhorador. “Estima-se que 70% da área com trigo no RS usa semente certificada, então o volume disponível para esta safra é suficiente e pode até gerar algum excedente, que poderá ser comercializado para outros estados”, explica o gerente da Embrapa Transferência de Tecnologia, Francisco Tenório Falcão, do escritório de negócios de Passo Fundo.
Escolha da cultivar
A grande oferta de cultivares pode confundir o produtor no momento de definir a compra da semente. A Embrapa Trigo orienta a importância de fazer escalonamento na semeadura, optando por cultivares com ciclos diferentes. A estratégia ajuda a evitar perdas maiores por doenças, granizo ou chuva na colheita, além de permitir o planejamento da semeadura de verão. O local de cultivo também afeta a escolha, já que lavouras de baixadas vão precisar de cultivares resistentes à geada, assim como regiões mais úmidas vão exigir resistência a doenças. “Como a geada causa maiores prejuízos na fase reprodutiva (principalmente no florescimento e formação de grãos) do trigo, o produtor pode verificar o histórico da região para tentar escapar da geada adequando melhor a época de semeadura”, explica agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha.
A definição da cultivar precisa considerar, ainda, o investimento tecnológico que cada cultivar exige. Algumas cultivares, como o BRS Guamirim, respondem ao investimento, com porte baixo que permite aumentar o volume de N, garantindo bom rendimento e deixando residual do adubo para a lavoura de verão. Mas se a capacidade de investimento for pequena, deve-se optar por cultivares mais rústicas, aptas a áreas de baixa fertilidade e grande resistência a doenças, como a BRS 208, BRS Umbu, BRS 276 ou a nova cultivar de oferta pública BRS 296.
Qualquer que seja a escolha, é fundamental olhar para o mercado, atendendo a quesitos como qualidade e estabilidade no trigo produzido. “Uma planta pode apresentar excelente porte agronômico, alta produtividade, mas se apresentar baixo PH e baixa força de glúten estará fora do mercado”, conclui a analista de marketing da Embrapa Trigo, Lisandra Lunardi.