O resultado do Censo realizado pelo IBGE em 2006 divulgou que os estabelecimentos orgânicos brasileiros representavam 1,8% dos estabelecimentos agrícolas entrevistados. Desse total, a produção de lavouras temporárias representa 33%, a criação de pequenos animais chega a 42% e as lavouras permanentes ficam com 10%. Ainda hoje, uma boa parte dos produtores orgânicos brasileiros é composta por centenas de agricultores familiares e pequenos produtores rurais. Por outro lado, as estatísticas do IFOAM até o fim de 2008 apontam que, no mundo, 35 milhões de hectares das terras agricultáveis estão certificadas. Isso representou um acréscimo de 3 milhões se comparado ao ano anterior. O instituto constatou também que o maior crescimento aconteceu na América Latina e Europa.
Já o instituto inglês de pesquisa Organic Monitor avaliou em 50 bilhões de dólares o mercado global do setor nesse mesmo ano, conduzido por quase 1,4 milhões de produtores orgânicos. Apesar do crescimento no Hemisfério Sul, os maiores consumidores continuam na América do Norte e na Europa. Já no Brasil, com uma certa estabilidade da economia, vem se mantendo a demanda por produtos orgânicos nas principais cidades brasileiras. E, aos poucos, o conceito de alimentos orgânicos começa a ser compreendido pelos consumidores, cada vez mais interessados em alimentos saudáveis, sem aditivos químicos ou conservantes.
No Brasil, a cadeia da produção orgânica está sendo construída gradualmente. Mas há grandes obstáculos a serem enfrentados, como os baixos investimentos realizados nas agroindústrias e na produção, que têm dificuldade de gerar escala. Desta forma, a demanda dos consumidores atraídos pelo conceito de alimentos orgânicos ainda é bem maior do que a oferta desses produtos. Também é necessário um avanço quantitativo em termos de pesquisa, assistência técnica especializada e produção de insumos e sementes. Embora a expressão “agricultura orgânica” aparente uma atividade simples, requisitos como a adubação natural, conservação da área e proibição de fertilizantes químicos, dentre outros, requerem cuidados específicos – e bem distantes da agricultura convencional, que dispõe de ferramentas próprias.
Enquanto isso, os supermercados estão percebendo o potencial do setor orgânico. A rede Pão de Açúcar foi a pioneira a criar uma linha específica, Taeq, que apresenta um crescimento contínuo, aliado a um esforço de marketing que vem sendo realizado: em 2009 o faturamento chegou a R$ 57 milhões, meta pretendida somente para 2012. Tal iniciativa tem semelhança em outras redes, que oferecem produtos orgânicos com marca própria e aumentam seu espaço de exibição nas lojas. Outra tendência no mundo dos supermercados brasileiros é a diminuição de fornecedores. A intenção é buscar negócios com menos empresas que ofereçam a maior diversidade de produtos possível, o que pode se tornar um obstáculo aos pequenos produtores. Limitados a poucos produtos, mais uma vez a alternativa é que eles se integrem e organizem – seja em cooperativas ou grupos – melhorando sua atratividade para os supermercados e favorecendo negociações.
Contudo, na contramão da expansão do mercado, a esperada certificação brasileira dos produtos orgânicos por meio da implantação do selo único “Orgânicos Brasil” não ocorreu em janeiro de 2010. A prorrogação foi solicitada pelas empresas certificadoras para se adequarem à nova legislação, e espera-se que comece a partir de janeiro de 2011. A implantação desse selo em termos nacionais ajudará a organizar os produtos ofertados no mercado, deverá trazer transparência ao sistema, construir estatísticas, levar informações ao público sobre os produtos e alimentos consumidos e firmar as bases do sistema de rastreabilidade. Também espera-se que, com a implantação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, os investimentos na agricultura orgânica incrementem a oferta de insumos e sementes que contribuam para o aumento da produtividade.
O mercado interno continua sendo muito importante para os produtores brasileiros, sobretudo para as pequenas agroindústrias e produtores familiares, cuja produção é limitada. Isso porque a exportação é um empreendimento muito mais pesado, pois requer grande escala, rastreabilidade, logística eficiente, estabilidade e padronização na oferta de produtos e muitos outros aspectos que atualmente não estão ao alcance dos pequenos produtores. A consequência é que, ao serem comparados aos similares encontrados nos mercados europeus e norteamericano, os produtos brasileiros têm preços bem superiores. Embora dura, esta é uma observação da situação atual de feiras e eventos internacionais: ela mostra que os pequenos produtores ainda não alcançaram um nível de competitividade que os permita se desenvolver no mercado internacional. Além disso, a exportação de orgânicos brasileiros continua marcada pelas commodities como açúcar, soja e café, com pouca participação de produtos de alto valor agregado.
Porém, uma boa oportunidade de comércio ainda no Brasil é a venda dos produtos orgânicos sob a bandeira do comércio justo (“fair trade”). É uma prática bem de acordo com os preceitos orgânicos, seguindo critérios de comercialização mais favoráveis ao produtor. Dentre eles destacam-se ações para reverter parte da receita para projetos sociais dos produtores ou suas cooperativas; zelar pela manutenção e estabilidade do comércio e até para diminuir a dependência dos produtores de créditos bancários com altas taxas de juros.