É fácil supor que as lavouras precisem de sol, água e solo apropriado para que se desenvolvam. O segredo está em descobrir a medida certa de todos esses componentes, ainda mais sob os princípios da agricultura orgânica.
Como a luz do sol e a chuva ainda estão um pouco além do controle humano, a empresa Agrobiológica dedicou-se a produzir insumos especiais para nutrir diversos tipos de solo.
A Lavoura entrevistou Rafael Netto Moreira Garcia, proprietário da empresa, mais uma integrante do projeto OrganicsNet. O engenheiro agrônomo, além de comentar seu trabalho com a agricultura biológica, explica como o produtor orgânico pode fornecer a melhor “alimentação” às suas culturas, sem recorrer aos aditivos químicos convencionais.
A LAVOURA: Quem faz parte da direção e como se organizaram para abrir a empresa?
A Agrobiológica foi a consequência de um processo. Iniciamos nosso trabalho com agricultura orgânica em 1998, e na época não existiam insumos disponíveis no mercado. Começamos então a fabricá-los para uso próprio. Posteriormente os insumos ganharam mais destaque que a produção
agrícola em si, e em 2006 iniciamos oficialmente o trabalho pela Agrobiológica. Seu corpo técnico e administrativo é composto apenas por Engenheiros Agrônomos e técnicos agrícolas, permitindo uma evolução mais próxima à demanda do produtor.
A LAVOURA: Como foi a pesquisa de formulação até chegarem aos produtos atuais da Agrobiológica?
Buscamos fazer formulações que fossem diferentes do que existia no mercado e que atendessem a demandas do produtor e de seus mercados envolvidos. Temos laboratório próprio para desenvolvimento, porém terceirizado para o controle de qualidade. Um exemplo ocorreu com a formulação do produto Nimigo, que foi resultado de mais de cinco anos de trabalho: hoje ele é reconhecido como o melhor produto à base de Nim do mercado brasileiro.
A LAVOURA: Qual (is) foi (foram) os investimentos mais pesados que a empresa teve que realizar?
Os investimentos mais pesados, além das máquinas e instalações, certamente são os gastos de registros exigidos pela legislação brasileira, que muitas vezes são incoerentes e proibitivos ao livre acesso de empresas a este mercado. Mesmo que a legislação busque defender o consumidor dos riscos da atividade, favorece em seu processo as multinacionais, promovendo quase que uma reserva de mercado.
A LAVOURA: Como enfrentam a concorrência dos adubos industriais?
Diferenciando nossa linha e introduzindo no mercado produtos que atendam às demandas produtivas, seja dos produtores ou do mercado internacional de insumos ecologicamente corretos. Só no estado de São Paulo surgem mais de 30 empresas de fertilizantes foliares por ano, muitas delas fabricando “mais dos mesmos” produtos existentes, o que provoca um achatamento de margens e uma competição destrutiva no setor.
A LAVOURA: Explique, de maneira geral, os princípios da agricultura biológica.
A Agricultura Biológica é um movimento mundial que busca produzir alimentos de alta qualidade, produtividade, com alto valor biológico e livre de resíduos de agrotóxicos. Para alcançar este objetivo, a maior ferramenta utilizada é potencialização da biologia, seja nos solos ou na superfície das folhas. Na agricultura biológica o grande indicador de qualidade do sistema é a biologia dos solos. Desta forma quem afirmará se um fertilizante é bom ou não para produção agrícola é a biologia do solo e não as certificadoras. Vale ressaltar que quando afirmamos “alto valor biológico” significa alimentos que promovam a saúde, seja para animais ou pessoas.
A LAVOURA: O tamanho da propriedade é um limitante da aplicação das técnicas da agricultura biológica pelo custo ou outro motivo?
De forma alguma. Cada propriedade possui uma forma diferente de aplicar as técnicas da agricultura biológica. Os pequenos podem aplicá-la de forma mais intensiva, com respostas mais rápidas, porém os grandes, com pequenas alterações em seus sistemas produtivos, conseguem ganhos em escala bastante interessantes.
A LAVOURA: Quais as maneiras pelas quais o produtor pode conhecer as características do solo de sua propriedade?
Análise de solo. Esta ferramenta é a mais barata e mais fácil, porém na maioria das propriedades ela ainda não é realizada. A análise é o “pontapé inicial” para qualquer avaliação de um sistema produtivo. Qualquer técnico que fizer uma recomendação em uma área nova de atuação sem as análises certamente estará blefando. Somente avaliando a relação cálcio/magnésio, níveis de potássio, fósforo, enxofre e todos os micronutrientes é que poderemos realizar recomendações e promover uma trofobiose aplicada.
A LAVOURA: Até que grau é possível a correção/recuperação de solos?
Em todos os graus. Claro que existem situações mais complicadas que tendem a ser mais custosas, porém são passiveis de serem realizadas, e o mais importante, organicamente.
A LAVOURA: Existe algum de seus produtos que não possa ser usado na agricultura orgânica?
Nenhum. Todos eles são certificados pela Ecocert Brasil. Para esclarecer, todos os insumos utilizados na agricultura orgânica (inputs) são obrigatoriamente permitidos pelas IN normativas respectivas. No caso de fertilizantes para agricultura, a IN 64 apresenta listas positivas do que podem e não podem ser utilizados. Por exemplo, ela permite o uso de sulfato de potássio natural como fonte de potássio, mais proíbe o uso de cloreto de potássio, por entender que o cloro é muito prejudicial à microvida do solo. Desta forma, seguimos as regras existentes para a fabricação de nossos produtos.
A LAVOURA: Pelo que já vivenciaram em seu trabalho de consultoria, como avaliam a capacitação e conhecimento técnico dos produtores?
Está evoluindo muito e de forma muito rápida. Há algum tempo falar de biologia dos solos era quase um palavrão. Hoje é consenso a sua importância no sistema produtivo. A adubação orgânica de base é quase que obrigatória nos dias atuais.
A LAVOURA: A atividade agrícola de grande escala tem provocado impactos ambientais intensos; em sua opinião, é possível que pequenos/médios produtores possam minimizar a sua influência com a aplicação de técnicas mais ecológicas sem perder sua lucratividade?
A atividade agrícola de grande escala provoca impactos por terem sido mal inseridas na paisagem agrícola, sem quebra-ventos, faixas de floresta que inibem expansão de pragas, falta de rotação de cultura com adubações verdes, etc. Os pequenos e médios produtores devem buscar técnicas mais ecológicas, pois seu principal patrimônio está em jogo, seu solo. Somente com técnicas ecológicas e conservacionistas eles darão liberdade a seus filhos e ou netos para que possam permanecer produzindo naquelas áreas. Outro ponto importante é buscar mercados que valorizem a utilização de técnicas ecológicas na fabricação de alimentos e também de alimentos diferenciados. O pequeno já sabe que produzir commodities é cavar a própria falência. A agricultura orgânica é a maior porta da última década para tornar a pequena e média propriedade agrícola lucrativa.
A LAVOURA: Quais as maiores dificuldades que o empreendedor brasileiro enfrenta?
Burocracia e impostos. O sistema nacional inibe novos empreendedores pelo seu excesso de burocracia, o que implica em custos altos de contadores e despachantes. E os impostos penalizam as empresas que trabalham de forma correta.
A LAVOURA: Qual o volume de produção atual? Tem projetos de expansão?
Estamos triplicando nossa área de fabricação de insumos.
A LAVOURA: Existe área própria da empresa para a produção de neem e dos derivados?
Não cultivamos a árvore. Importamos o óleo direto da Índia.
A LAVOURA: Quais regiões estão recebendo produtos da empresa?
Todas as regiões do país.
A LAVOURA: Comente, se possível, algum lançamento e metas da Agrobiológica para 2010.
Estamos lançando uma linha de fertilizantes foliares certificados – ECOFOL – com alta biodisponibilidade, ou seja, pronta absorção pela planta e inibindo nutricionalmente diversas pragas e doenças.