Estudo analisa balanço de carbono, produtividade e renda nos sistema adensado e a pleno sol
Em outubro deste ano, a Embrapa Florestas (Colombo, PR) e a Fundação Solidaridad iniciaram o projeto “Análise de sensibilidade de sistemas de produção de erva-mate com ênfase para o balanço de carbono, produtividade e renda”, para estimar o balanço de carbono de dois sistemas produtivos de erva-mate: adensado e a pleno sol.
A erva-mate é o principal produto florestal não madeireiro da região Sul do Brasil. Segundo o IBGE, em 2019, o Estado do Paraná, onde ocorre o projeto, foi responsável por cerca de 60% da produção de erva-mate do País. Do total de 939.580 toneladas, 559.408 toneladas foram produzidas no Estado.
O estudo é inédito para a cultura da erva-mate e tem como objetivo é projetar cenários e identificar quais variáveis agronômicas exercem maior influência na mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) com os sistemas estudados, contribuindo para a adaptação e aumento da resiliência climática dos sistemas produtivos mais usuais para o cultivo da erva-mate, frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. Os estoques de carbono dos ervais avaliados também serão correlacionados às performances produtivas e de geração de renda por meio de uma análise de viabilidade econômica.
Abrangência
O projeto abrange propriedades rurais localizadas nos municípios de Cruz Machado e Bituruna, no Paraná, todas de pequeno ou médio porte e que implantaram o erval há mais de dez anos. Outros critérios técnicos de seleção das propriedades foram o tipo climático, solo, posição da paisagem, declividade e sistemas de cultivo e manejo dos ervais.
Segundo Marcos Rachwal, pesquisador da Embrapa Florestas responsável pelo projeto, cada sistema de produção tem características próprias que certamente influenciarão a emissão de gases de efeito estufa e o sequestro de carbono.
“Assim, poderemos avaliar as fontes de emissão ou captura de carbono, considerando variáveis como a produção de biomassa, altura média das plantas, percentual de sombra, densidade de plantio, sistema de poda e destinação do resíduo, práticas de manejo do solo e utilização de insumos”, detalha Rachwal. “Com isso, será possível quantificar o balanço de carbono do cultivo de erva-mate e entender como esses sistemas de produção podem contribuir no cenário das mudanças climáticas.”
Josileia Zanatta, também pesquisadora da Embrapa Florestas, afirma que existe demanda por um maior entendimento sobre a relação da produção da erva-mate com a mitigação de emissões de gases de efeito estufa, por meio do armazenamento de carbono, podendo ser também importante fonte de informações para gerar estratégias de agregação de valor a erva-mate num futuro breve.
Por sua vez, o engenheiro agrônomo Gabriel Dedini, coordenador de projetos da Solidaridad, acredita que demonstrar o potencial agroclimático da erva-mate proporciona ao setor a possibilidade do desenvolvimento de estratégias e ações para atrair investimentos e projetos, dentro de perspectivas globais de atuação. “Porém, ainda mais importante é a contribuição do estudo para demonstrar a viabilidade de modelagens agronômicas climaticamente mais eficientes, na mesma proporção que rentáveis, com o intuito de preservar o futuro, de uma dentre as mais importantes cadeias da nossa sociobiodiversidade”.
Análises
Os sistemas com erva-mate também serão analisados financeiramente, com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e financeira de cada sistema de produção ao longo de 20 anos. Além de conhecer os principais indicadores financeiros, como valor presente líquido, tempo de retorno do investimento, relação benefício custo, entre outros, o agricultor precisará organizar suas atividades de campo e planejar suas atividades de manejo e a melhor forma de comercialização.
Segundo o pesquisador Marcelo Arco Verde, da Embrapa Florestas, após a realização das análises financeiras, os sistemas com erva-mate passarão por simulações de cenários em que o agricultor verá o comportamento da erva-mate diante de variações nos custos de mão de obra e insumos, variações nos preços de venda e variações na produtividade e perdas nas podas de colheitas. “Após analisar as várias opções apresentadas, o agricultor poderá escolher como cultivar a erva-mate de acordo com seu perfil de trabalho”, arremata.