Por que tratar os suínos doentes de forma diferenciada? Várias são as razões de ordem prática e econômica para tratá-los de forma individual e em local separado dos demais
Observa-se atualmente na produção intensiva de suínos a exacerbação de algumas síndromes patológicas, com aumento do número de suínos doentes que necessitam de atenção especial, principalmente nas fases de creche e crescimento-terminação.
Em uma granja, o que devemos fazer com os suínos doentes ou em desvantagens competitivas nas baias de creche, crescimento-terminação? Tais suínos, caso sejam deixados na mesma baia, sofrem com a competição e são intimidados pelos companheiros de baia. Nessas condições, eles têm poucas chances de recuperação, mesmo que sejam medicados individualmente. Cada vez mais, produtores e veterinários acham prático e econômico tratá-los de forma individual e em local separado dos demais, para que eles tenham um ambiente mais adequado e maiores chances de recuperação.
Inicialmente, deve-se considerar que suínos doentes possuem valor econômico e podem ser recuperados. Em segundo lugar, para recuperação, tais animais necessitam de um ambiente confortável, sem estresse e de cuidados individuais especiais, respeitando o bem estar animal e a ética profissional, o que não é possível sem removê-los da baia original. Suínos doentes sofrem estresse na baia de origem e potencialmente excretam mais agentes patogênicos, facilitando a infecção nos companheiros de baia. A separação destes animais numa sala-hospital, com menor densidade animal e ambiente mais confortável, além de propiciar maior chance de recuperação, auxilia na prevenção da disseminação de doenças no rebanho.
Parte do sucesso obtido com a remoção dos suínos doentes para uma sala-hospital é a intervenção medicamentosa precoce e individualizada, específica para cada tipo de enfermidade. Quando remover os suínos doentes da baia original? Tão logo se note que estes estejam sendo hostilizados ou agredidos pelos companheiros da baia e sofrendo para ter acesso à água, ração ou área de descanso. Esta situação provoca maior estresse, prejudicando ainda mais as funções de defesa imune, reduzindo a taxa de crescimento e a eficiência alimentar e, consequentemente, a chance de recuperação. Os suínos tendem reagir adversamente à presença de companheiros doentes ou inválidos na baia, tendo consequências comportamentais, fisiológicas e até mesmo patológicas.
Localização e funcionamento de uma sala-hospital
A sala de hospital de uma granja é um local apropriado e separado das outras instalações, destinada a tratar os suínos doentes. Os suínos doentes da creche, crescimento, terminação e da gestação coletiva, caso sejam deixados nas mesmas baias, sofrem competição, são intimidados pelos companheiros, o que limita a ingestão de alimento e água. Nessas condições, as chances de recuperação são reduzidas, mesmo que eles sejam medicados individualmente. Suínos doentes sob estresse são potenciais excretores de agentes patogênicos, facilitando a disseminação da doença entre os companheiros de baia. A separação destes animais numa sala-hospital, com menor densidade e ambiente mais confortável, além de propiciar maior chance de recuperação, auxilia na prevenção e disseminação da doença no rebanho.
Esta instalação deve fazer parte da granja e pode ser localizada no interior da cerca periférica de isolamento, porém respeitando uma distância de 10m da mesma. Pode ser construída ou montada com materiais pré-moldados. O local dessa instalação deve ser seco, com boa insolação e do lado oposto aos ventos predominantes. Caso não seja possível atender este requisito, opcionalmente a sala-hospital pode ser anexa a outra instalação, porém com parede cega e área de circulação independente.
A condição básica da sala-hospital é que ela deve ser o local mais higiênico e confortável da granja: livre de correntes de ar, com ambiente térmico que satisfaça as exigências dos animais, ter boa higiene, permitir limpeza e desinfecção adequadas das baias e corredores e possibilitar fácil acesso dos suínos à água e alimento, porque ali serão alojados animais doentes, com dificuldades próprias.
O piso deve ser bem drenado aquecido ou revestido com espessa camada de maravalha. Em caso de uso de maravalha como cama, prever um sistema de compostagem para maravalha suja. Outra alternativa é o sistema de cama profunda de maravalha (cerca de 50 cm), o qual tem o inconveniente de dificultar as desinfecções, porém proporciona uma ambiente de maior conforto aos suínos.
A sala-hospital pode permitir o alojamento de três categorias de suínos: leitões de creche, suínos de crescimento-terminação e opcionalmente reprodutores. Por isso, deve proporcionar três tipos de baias: algumas pequenas para tratamento de suínos doentes com até cinco meses de idade (com capacidade para dois a quatro suínos cada), outras maiores para manutenção dos animais recuperados (com capacidade para seis a oito suínos/cada) e caso necessário baias para alojamento de reprodutores. Nas baias menores fornecer espaço de 1,5 m²/animal, nas maiores 1,2 m²/animal e para reprodutores 3,0 m²/animal.
A caixa d’água deve ser exclusiva para esta sala. Cada baia deve dispor de um bebedouro e um comedouro de fácil acesso pelos suínos. Os comedouros devem permitir o fornecimento de pequenas quantidades de alimento duas vezes ao dia para não ficar alimento velho no cocho (preferencialmente não devem ser automáticos ou semiautomáticos). Lembrando-se que animais doentes normalmente apresentam maiores dificuldades para beber água e comer, isso deve ser facilitado.
Nesta instalação, algumas questões de biossegurança devem ser atendidas como o uso exclusivo de materiais de limpeza (pás e vassoura), seringas e agulhas para medicações, cachimbo para conter os suínos e calçados para funcionário. Além disso, recomenda-se a instalação de um sistema de nebulização o uso de atomizadores para fazer desinfecções aéreas.
Capacidade da sala-hospital em uma granja
Considerando um rebanho de 200 matrizes de ciclo completo, a instalação deve permitir o alojamento de 32 suínos ou cerca de 8% dos leitões desmamados em um mês: numa granja com desmame de 400 leitões por mês, são necessários 32 lugares na sala-hospital. Em uma unidade de terminação com produção em lotes e vazio sanitário entre lotes, a sala hospital deve permitir o alojamento de 6 a 8% dos suínos alojados: numa instalação para 500 suínos, a sala-hospital deve possuir espaço para alojar 35 animais. Em unidades de produção, apenas de leitões até ao final de
creche, prever lugares para alojar cerca de 5% de leitões desmamados/mês: desmame mensal de 400 leitões, prever espaço para 20 leitões. Se os reprodutores doentes também forem alojados na sala-hospital, prever baias individuais para alojar cerca de 2% a 4% dos reprodutores do plantel ou prever esses lugares adicionais na própria instalação de gestação.
Manejo da sala-hospital
Quando retirar os suínos doentes da baia e transferi-los para a sala-hospital?
Suínos comprometidos necessitam ser removidos da baia original tão logo se note que eles estão sendo hostilizados ou agredidos pelos companheiros da baia e sofrem para terem acesso à água ou ração ou à área de descanso.
Na inspeção das baias e constatação de algum suíno doente proceder da seguinte forma:
- Identificar o animal com bastão marcador, spray ou pelo brinco ou mossa;
- Examiná-lo cuidadosamente;
- Tomar a temperatura retal (normal 38,6OC a 39,5OC);
- Verificar a frequência respiratória com o animal deitado (normal 25 a 30 vezes/minuto numa temperatura ambiental de 20OC);
- Se necessário, tratá-lo de acordo com protocolo estabelecido pelo veterinário;
- Analisar o ambiente (conforto, competição) e decidir se ele pode ficar na baia ou se é necessário removê-Io para a sala hospital imediatamente;
- Examiná-lo duas vezes ao dia com tomada da temperatura retal, e, havendo necessidade, removê-lo para a baia-hospital.
Na sala-hospital:
- os suínos devem ser examinados duas vezes ao dia;
- as baias devem estar secas, limpas, quentes e com boa cama no local de descanso;
- apenas uma pessoa deve cuidar dessa instalação (preferencialmente a mesma que cuida do crescimento-terminação);
- a água deve ser limpa e estar disponível em bebedouro adequado.
- fornecer ração duas vezes ao dia em pequenas quantidades e retirar as sobras, depois;
- manter um sistema de registro das medicações realizadas e dos destinos dos animais tratados nesta sala;
- se o problema for entérico, fornecer ração com no máximo de 16% de proteína bruta e, se necessário, prescrita sob orientação veterinária.
Tempo de recuperação
O tempo médio de recuperação de suínos de creche e crescimento-terminação na sala hospital é de quatro dias, mas muitos leitões podem levar de 1 a 3 semanas, dependendo do problema patológico, do estado em que o animal se encontra e, principalmente, do cuidado e tratamento individualizado fornecido pelo produtor. Vale salientar que para o sucesso na recuperação dos suínos doentes na sala-hospital, além do ambiente adequado a ser fornecido, é essencial seguir orientações de tratamento medicamentoso correto, orientado por veterinário.
Para suínos com dificuldade de locomoção, deve-se prever o fornecimento da água diretamente na boca, utilizando garrafa plástica ou mangueira. A hidratação é fundamental na recuperação de suínos doentes. Se necessário, fornecer aquecimento extra e/ou usar abafadores nas baias para manutenção da temperatura de conforto. Na sala-hospital fazer desinfecções da sala (com aparelho costal ou nebulizadores automáticos ou atomizadores) 2 a 3 vezes por semana. Isto é importante para reduzir a contaminação local e reduzir as chances de disseminação do problema para outras instalações da granja.
Suínos recuperados
Os suínos recuperados, dependendo da disponibilidade de baias, podem ser mantidos até o peso de abate (cerca de 100kg) ou serem comercializados, após expirado os períodos de carência dos medicamentos utilizados. Para aqueles que não apresentarem melhora clínica em três dias, o tratamento deve ser modificado sob orientação do veterinário, ou caso não tenham chance de recuperação devem imediatamente ser eliminados (sacrifício humanitário) e destinados para um sistema de compostagem de carcaças.
A sala-hospital não deve ser vista como um local de “depósito de animais doentes”, onde os suínos são alojados apenas para serem descartados ou sacrificados, e sim como local apropriado para recuperação de animais doentes. Experiências práticas indicam uma taxa de recuperação que pode chegar até 80%, com significativo retorno econômico para o produtor.