Várias doenças podem acometer os seres humanos pela ingestão de carnes não inspecionadas que sejam portadoras de doenças
Noventa por cento dos abates de ovinos são feitos sem fiscalização sanitária. Esse número não está em nenhuma estatística oficial. É uma estimativa, um sentimento de todos que atuam no setor. Um número destes ou mesmo próximo é assustador para quem quer estabelecer um processo contínuo de produção de carne e também atender a um mercado consumidor em crescimento. É um número alarmante porque mostra o quanto as estruturas oficiais de fiscalização estão longe de conseguir terminar com este problema, ou mesmo controlá-lo a ponto de diminuir sua incidência. E o mais chocante é que este é um problema de alcance nacional.
Sabemos que é uma luta difícil, de grande trabalho para todos. Até porque, às vezes, o processo começa no momento da comercialização do produto. Frequentemente, o produtor de cordeiro recebe oferta para seu produto com valor bem superior ao do frigorífico, com pagamento à vista, não importando se serão dez ou cinco animais. O abatedouro, com todas as suas responsabilidades e custos, não consegue competir em preço neste mercado, gerando, então, este problema do abate clandestino. Um cenário que precisamos mudar, de qualquer jeito.
Consequências à saúde humana
Dentre as consequências do abate clandestino estão os riscos à saúde humana. Uma das principais enfermidades dos animais domésticos encontradas pela inspeção sanitária em matadouros, é a tuberculose, uma doença bacteriana que pode ser transmitida pela ingestão de carnes. Existem ainda as doenças parasitárias, como as cisticercoses, que podem transmitir as tênias para o ser humano e, também, cisticercos que se alojam no músculo e órgãos. Outras enfermidades são transmissíveis ao homem via animais como as toxi-infecções e a hidatidose. Todas são evitadas quando a fiscalização detecta o problema dentro dos frigoríficos e abatedouros com inspeção sanitária oficial.
A Associação Brasileira de Criadores de Ovinos-ARCO é uma entidade que busca de várias formas organizar a cadeia produtiva da ovinocultura e luta por este objetivo. Devemos ter claro quais são os principais entraves que impedem o crescimento sustentado do setor. Sabemos que o abate clandestino é uma destas barreiras. Ele afeta também a cadeia bovina é responsável por graves prejuízos para todos. O complicador desta questão é que ela é uma atividade silenciosa, onde nem sempre se consegue encontrar os causadores. Mas acredito que já é hora de realmente discutirmos com seriedade este problema, com todas as forças da sociedade. Porque, isoladamente, não vamos longe. Precisamos definir as soluções práticas existentes e, realmente, passarmos a agir para resolver o abate clandestino, de uma vez por todas. Já não dá mais para protelar. A hora é agora!