Técnica provoca drástica redução de inseticidas em parreirais de vinho
Para conter a proliferação da praga Traça-dos-cachos em parreirais de uva vinífera no submédio do vale do rio São Francisco, os pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) recorreram a artimanhas sexuais a fim de frustrar a procriação da espécie.
Fizeram isso espalhando na área cultivada um produto que sintetiza o odor do hormônio feminino (feromônio), chamado tecnicamente de “Splat Crypto”. Aplicado em pontos diversos do pomar como pistas falsas da presença da fêmea, o produto induz tal confusão sexual que os insetos machos passam a voar desnorteados pelo pomar saturado com o cheiro do que poderia ser uma parceira. Desta forma não há acasalamento e a fêmea passa seu ciclo de vida sem se reproduzir.
Redução
Quando começou a executar o projeto “Estratégias para o manejo integrado da traça-dos-cachos da videira”, em janeiro de 2009, o engenheiro agrônomo José Eudes de Morais Oliveira, pesquisador da Embrapa Semiárido, garantiu que em armadilhas colocadas nas áreas infestadas podia-se contar até 700 desses insetos. Ao final do projeto, neste início de 2011, as quantidades encontradas caíram drasticamente para cerca de 4-5.
Um resultado dessa dimensão, embora não garanta a extinção da praga, assegura a manutenção da população do inseto em níveis tão reduzidos que não afetam a produtividade do parreiral. O manejo pesquisado no projeto praticamente abre espaço para inverter a tendência registrada nos últimos anos da constante presença dessa praga – uma espécie de lagarta – e que tanto prejuízo tem causado às vinícolas.
A redução drástica da população do inseto nas áreas pesquisadas foi obtida sem o recurso de qualquer dose de insumos químicos. “A técnica empregada foi bem mais sutil e sem qualquer dano para o meio ambiente ou de risco de resíduos nas frutas que podem prejudicar a qualidade do vinho e a saúde humana”, esclarece Eudes.
A forma de aplicação é curiosa: o pesquisador adaptou uma pistola de vacinar gado. Após carregá-la com o produto, que tem a consistência pastosa e é de cor acinzentada, é feito um disparo no tronco da videira para deixar fixado o feromônio sintético. “É tecnologia muito eficiente e que descarta a necessidade da aplicação de insumos químicos no parreiral”, explica o técnico da Embrapa.
Protegido
A opção dos pesquisadores pela estratégia de saturar a área de plantio com o odor da fêmea e embaralhar a percepção sexual do inseto macho tem razões econômicas, ambientais, sociais, e, também, de ordem muito prática. Como no manejo das plantas viníferas não é feito o raleio do cacho, as bagas ficam muito compactadas e formam um ambiente para os insetos da traça se alojarem, protegidos do alcance dos inseticidas.
De acordo com Eudes, é expressivo o gasto com pulverizações de defensivos agrícolas nas vinícolas para controle dessa praga. Durante a execução do projeto da Embrapa, ele chegou a constatar aplicação desses produtos em intervalos semanais. “Nesse ritmo, chega-se a fazer, em média, até dezoito pulverizações por ciclo (fase da poda à colheita) e trinta e seis por ano”, revela.
E nem assim se conseguiu evitar perdas, que variaram entre 40 e 60% dos frutos. Em alguns casos, onde a infestação foi mais intensa, toda a produção foi perdida.
– As lagartas, ao se alimentarem dos cachos, provocam lesões nas bagas que favorecem o aparecimento de fungos que, por sua vez, causam doenças e inviabilizam a utilização dos frutos para processamento ou consumo in natura, ensina o pesquisador.
Quando o ataque da lagarta ocorre próximo à colheita, as bagas se rompem e extravasam suco onde vão proliferar bactérias que provocam a doença conhecida como podridão ácida. A consequência é a redução da qualidade dos vinhos ou depreciação dos cachos para o comércio in natura.
A tática recorrente entre os agricultores, o uso intenso de produtos químicos, alegando a adoção do controle “preventivo” da praga, não deu bons resultados, garante Eudes.
Nacional
Embora a pesquisa tenha sido realizada no submédio do vale do São Francisco, em um ambiente de clima tropical semiárido, o pesquisador acredita que seus resultados podem ser empregados para orientar o manejo e controle da praga em outras regiões vinícolas do país, como o Rio Grande do Sul.
O projeto “Estratégias para o manejo integrado da traça-dos-cachos da videira” foi financiado pela Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco – FACEPE em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Embrapa Uva e Vinho.
Marcelino Ribeiro – Embrapa Semiárido
Tecnologia de feromônios também controla percevejos-praga da soja
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia também dispõe de um produto para controle biológico de percevejos-praga da soja, com base em estudos de comunicação entre os insetos.
Na natureza, os percevejos se comunicam através de feromônios, principalmente cheiros, para se acasalar, demarcar território, avisar sobre a presença de predadores etc. Observando o comportamento desses insetos na natureza, os cientistas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia conseguiram isolar esses feromônios em laboratório e inseri-los em pastilhas para serem usadas nas lavouras de soja.
As pastilhas, que simulam a liberação de feromônios, são colocadas em armadilhas (que podem ser garrafas pet) nas culturas de soja, onde podem ficar por até 30 dias consecutivos. O objetivo é confundir os insetos e interromper a sua reprodução. Dessa forma, os produtores podem monitorar e controlar as populações de percevejos, reduzindo o uso de inseticidas químicos.
Principais pragas na mira dos feromônios
As armadilhas são muito eficientes no controle do complexo de percevejos-praga, que inclui o percevejo marrom da soja (Euschistus heros) e o percevejo verde ou Maria fedida (Nezara viridula), entre outras espécies.
Controlam também mariposas (Spodoptera spp e Elasmopalpus lignosselus) e coleópteros, como os popularmente conhecidos como cascudinho da cama de frango (Alphitobius diaperinus ) e bicheira da raiz (Oryzophagus oryzae).
Controle biológico de pragas: sustentabilidade e economia
O controle biológico de pragas contribui para a redução de defensivos químicos e aumento da produtividade das culturas agrícolas. O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de grãos no mundo e, por isso, é fundamental que esteja atento às demandas de mercado por produtos mais saudáveis e seguros.
A tecnologia de feromônios para o controle biológico de pragas já está pronta. A Embrapa está selecionando parceiros para desenvolver produtos com perfil e características adequadas às demandas do mercado.