Com alguns cuidados no manejo e adoção alimentos alternativos, produtores podem minimizar impactos gerados pela estação de seca
A alimentação dos animais durante o período de estiagem é uma das principais preocupações dos produtores, que precisam se adequar à estação para não sofrerem prejuízo. Diante desse cenário, é importante estar atento ao manejo da propriedade, além de outros cuidados para impedir que ocorra a falta de alimentos que servem de ração animal e, consequentemente, o aumento dos custos de produção.
De acordo com o pesquisador do Instituto de Zootecnia (IZ/Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Mauro Sartori Bueno, os motivos de preocupação, nesse caso, são os mais variados. “Aumento dos custos de produção, impacto do desabastecimento de milho e soja e elevação dos preços desses insumos. O feno também fica valorizado e escasso”, diz ele. “Quem não se precaveu e armazenou volumoso na forma de silagem, assim como quem tem cana para alimentação animal, estará em vantagem.”
Porém, de acordo com Bueno, para aqueles que não se prepararam adequadamente para este período, nem tudo está perdido. “No caso dos ruminantes, por exemplo, as opções são os resíduos da agroindústria, como polpa de frutas [laranja] e de cervejaria [cevada]”, afirma.
Segundo o pesquisador, os herbívoros, em especial os ruminantes, devem ser alimentados predominantemente com forrageiras, e no período de estiagem, com a diminuição da oferta desse recurso, há necessidade de aumento da suplementação da dieta com fontes de energia [carboidratos e fibras] e com proteínas.
“Alguns animais podem estar em manutenção de peso e condição corporal com menor necessidade de nutrientes, contudo, outros estão em produção [gestação, lactação, crescimento e engorda], necessitando ainda mais de alimento para garantir a produção”, pondera.
O pesquisador explica que, para não sofrer com prejuízos com a alta dos alimentos, o correto é produzir e estocar os alimentos forrageiros na forma de silagem e feno, ou ter a cana já plantada e madura para ser colhida.
“A suplementação, geralmente, é feita com ingredientes concentrados, como milho e outros cereais e farelos de oleaginosas [soja e algodão], porém, estão caros, como nunca antes”, informa e acrescenta que os volumosos [de cana, silagem, feno] produzidos na propriedade devem ser utilizados. “Outra opção são os resíduos agroindustriais secos e úmidos”, sugere.
A cana é um dos volumosos de produção mais baratos nas propriedades rurais do Brasil, devido às características de alta produtividade, adaptação ao nosso clima, maturação e ponto de colheita nas épocas de estiagem.
“Tem valor energético médio e baixo teor em proteína, aliado a ingestão baixa, o que dificulta sua utilização como alimento único para ruminantes”, explica Bueno ao enfatizar que a dieta com cana dever ser suplementada, “no mínimo, com ingredientes proteicos”.
Já a silagem de milho, que apresenta teor elevado de energia e médio em proteína, possui alto custo de produção e necessita de programação eficiente no plantio, na condução da lavoura, além de colheita no ponto correto e armazenamento eficiente.
Quanto ao feno comprado, que é geralmente mais caro devido à relação custo/valor nutritivo, à produção e ao armazenamento eficientes, não é tão acessível para os pequenos e médios criadores, pois o preço dos implementos utilizados exige um maior investimento. “Assim, o produtor pode utilizar em pequenas proporções nas dietas para ruminantes de produção”, recomenda.
Concentrados
Conforme explica o pesquisador, os concentrados [energético e proteico] são o milho [energético] e farelo de soja e algodão [proteicos]. Atualmente, os preços do milho e o farelo de soja estão elevados, devido a sua grande necessidade para dietas de suínos e aves.
“A demanda da China pelo nosso farelo de soja, para os seus animais, e a nossa grande produção de carnes, para exportação e consumo interno, contribuem para o interesse nesses produtos”, analisa. “Além disso, o preço alto do dólar americano também contribui para a elevação dos custos de produção dessas culturas.”
O Estado de São Paulo tem opções, com resíduos das agroindústrias, principalmente as de processamento de frutas, cervejeiras e processamento de grão e cereais. Os resíduos dessa origem podem ser úmidos ou secos, o que vai determinar seu modo de armazenamento e fornecimento aos animais.
Transporte e armazenamento
Os resíduos úmidos, como polpa cítrica úmida, bagaço de laranja, resíduo de cevada, têm bom valor nutritivo para ruminantes. Os resíduos da polpa cítrica seca e úmida podem ser utilizados como ingrediente energético e substituir o milho em dietas de vacas leiteiras e animais em crescimento e terminação.
“A polpa cítrica seca ou úmida tem grande benefício em dietas de vacas leiteiras quando se substitui parte do milho por ela, pois diminui o problema de acidose ruminal causados por excesso de milho”, garante Bueno.
O elevado teor de umidade (80-84% de água) faz com que os custos de transporte para a propriedade tenham grande peso nos custos totais do produto. Para se obter o valor do produto seco e compará-lo a outros alimentos, como milho, Bueno orienta que se deve multiplicar o valor de aquisição por cinco.
“Se o preço desse ingrediente estiver abaixo de 70% do preço do milho grão, é uma boa opção de compra”, ensina.
Após a decisão de compra pela comparação de preço, deve-se preparar o armazenamento do produto úmido, pois sua exposição ao ar causa oxidação e degradação. Para ser armazenado na forma de ensilagem, é preciso retirar o excesso de líquido, colocar em silo ou em superfície em montes com maior comprimento que largura e cobri-lo e compactá-lo com lona plástica para proteção do contato com o ar.
Bueno explica que, para o fornecimento da silagem, pode-se abrir um lado, ir dobrando a lona e retirar fatias diárias do produto na direção do comprimento e evitar a exposição ao ar do restante do alimento. “Dessa maneira, aumenta a longevidade, pois o silo estará coberto e protegido do ar.”
O resíduo de cervejaria úmido também tem as mesmas características de degradação rápida, por ter muita água.
“Ele tem médio-alto valor energético e proteico e poderá ser uma boa decisão de compra se o valor seco for comparável a 80% do milho. O armazenamento pode ser por ensilagem, como no caso da polpa cítrica úmida”, diz.
O pesquisador informa que outra maneira de armazenar e fornecer o produto aos animais é em forma de sopão, por períodos menores de armazenamento. Pode ser armazenado em tanques simples com todos os líquidos que possuem, por período aproximado de sete a dez dias, com pouco prejuízo em sua degradação, ao programar a aquisição frequente.
“Outros resíduos da agroindústria de extração de suco e processamento de frutas provavelmente têm essas mesmas características”, finaliza Bueno.