Pesquisa desenvolve formulação que aumenta desempenho produtivo e estimula sistema imune em peixes
Uma ração para peixes, com extratos naturais em sua composição, desenvolvida em conjunto por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), representa um avanço para a piscicultura brasileira, em especial para a criação de tilápia, espécie mais cultivada no País.
Segundo os pesquisadores envolvidos no projeto, o extrato, patenteado recentemente, é um agente alternativo promissor para melhorar a produção e o controle de doenças parasitárias no cultivo de peixes, pois evita o uso de antibióticos sintéticos, que podem gerar resistência imunológica e imunossupressão.
A pesquisadora e colaboradora na pesquisa Michelly Soares, da UFScar, destaca como principais benefícios da formulação o maior desempenho produtivo e o estímulo ao sistema imune, evitando os efeitos do estresse no cultivo, que tornam os peixes mais suscetíveis a novas doenças, além de melhorar a resistência a patógenos.
“Inoculamos bactérias em peixes que passaram por um desafio bacteriano e, após a suplementação com a ração contendo o extrato, eles apresentaram maior sobrevivência e melhoria do sistema imune. Isso significa que os peixes estavam melhor preparados para enfrentar esse desafio bacteriano”, relata Michelly.
“Além disso, por ser baseado em um produto natural, contribui para a sustentabilidade da aquicultura.”
Conforme explica, por ter ação antibacteriana, o produto pode ser usado para combater bactérias que mais acometem os peixes de cultivo, pois apresentou potencial eficácia para inibir o crescimento e eliminar as bactérias Streptococcus agalactiae, a Aeromonas hydrophila e a Flavobacterium columnare, representando uma bioalternativa para reduzir o uso de antibióticos sintéticos na piscicultura.
Na opinião da pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Sonia Queiroz, o novo produto tem potencial para impactar positivamente a cadeia produtiva da aquicultura, em especial as fábricas de ração para peixes.
“Uma vez adotado pelos produtores, haverá uma oferta de alimentos mais saudáveis e seguros para os consumidores, pois reduzirá a necessidade de uso de antibióticos na produção de peixes, evitando a presença de resíduos”, ressalta.
Fernanda Sampaio, também pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e uma das coordenadoras da pesquisa, afirma que os resultados apresentados mostram que a utilização da formulação de ração com o extrato pode beneficiar a aquicultura pelo potencial em aumentar a eficiência produtiva da piscicultura.
“Por proporcionar melhoria na conversão alimentar, maior crescimento, melhora do sistema imune e minimizar a resposta ao estresse dos peixes de cultivo, o produto atende uma das maiores demandas do setor produtivo de tilápia”, diz. “A tilápia tem sofrido perdas produtivas em decorrência do aumento da ocorrência de bactérias”, observa Fernanda.
No ano passado, o Brasil produziu 802 mil toneladas de peixes de cultivo. A previsão, para este ano, é crescer 10%, ultrapassando a marca de 880 mil toneladas, segundo Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). No período, a tilápia, que representa 60% da criação, cresceu 12,5%
Testes a campo
A pesquisa será ampliada com testes a campo para certificação das respostas obtidas em laboratório. Para tanto, foi feito um projeto em parceria com a Terpenia Bioinsumos, em conjunto com a Embrapa, para dar continuidade à pesquisa.
“A parceria com a Embrapa Meio Ambiente foi realizada por meio de um contrato de inovação aberta, cujo objeto, escopo e metodologia se enquadram na nossa estratégia” diz Miguel Bassi Peres, diretor comercial da Terpenia. A empresa desenvolve bioativos a partir de extratos vegetais, com base no conhecimento existente na academia e nos institutos de pesquisa no Brasil.
A equipe do projeto é formada por Claudio Jonsson, Sonia Queiroz, Fernanda Sampaio, Marcos Losekann e Marcia Assalim da Embrapa Meio Ambiente, Michelly Soares e Francisco Rantin da UFScar, além dos colaboradores da Terpenia.