Tecnologia sustentável produz vasos muito parecidos com o xaxim original, utilizando uma planta que tem boa capacidade de reter água e fornecer nutrientes e não usa a espécie tradicional cuja extração é proibida por lei por se uma das espécies ameaçadas de extinção
Uma nova alternativa ecológica já está disponível para substituir o xaxim, planta ameaçada de extinção devido ao seu uso indiscriminado em jardinagem e paisagismo. A tecnologia sustentável desenvolvida pela Embrapa Agrobiologia utiliza o milheto, uma espécie vegetal com rápido desenvolvimento de raízes que, agregadas ao substrato, transformam-se em um emaranhado em formato de vaso. A estrutura ganha rigidez após a impermeabilização com aplicação de cera nas paredes externas, o que também colabora para que sua capacidade de retenção de água e fornecimento de nutrientes sejam similares ao xaxim tradicional.
A alternativa contribuirá para a preservação da Dicksonia sellowiana, conhecida como Samambaiaçu ,planta da qual é retirado o xaxim tradicional e cuja extração está proibida por lei. Apesar de já existirem algumas opções de produtos para substituir o xaxim no mercado, como os produzidos a partir da fibra de coco, o xaxim agroecológico é mais fácil de ser obtido, já que o processo é basicamente agrícola, com pouca dependência de equipamentos industriais.
Descoberto por acaso
O pesquisador Marco Antonio de Almeida Leal, responsável pela inovação, conta que a ideia surgiu por acaso, durante um experimento com o milheto: “Percebi que as raízes da planta eram fartas e o crescimento muito acelerado”. Protegido por patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o xaxim agroecológico foi apresentado em feiras e exposições e atraiu diversos interessados em seu processo de produção. Para fazer a transferência dessa tecnologia, a Embrapa lançou edital a fim de selecionar empresas que possam produzir e comercializar o novo produto.
Estudos ainda estão sendo feitos para determinar a vida útil do xaxim agroecológico, mas, para o pesquisador, os resultados são promissores, inclusive como opção de renda para pequenos produtores. Desde que no cultivo seja utilizada matéria prima certificada como orgânica no substrato, o xaxim também poderá ser certificado como produto orgânico.
Outras iniciativas vêm sendo desenvolvidas para substituir o xaxim natural. A maioria delas, entretanto, lança mão de processos industriais como, por exemplo, o processamento da fibra de coco misturada ao látex natural (seiva da seringueira) e prensada. Mas o pesquisador lembra que tais produtos têm baixa capacidade de retenção de água e não possuem os mesmos nutrientes do xaxim. Em sua opinião, na jardinagem esses produtos funcionam mais como recipientes do que como substrato.
O que é o xaxim?
Espécie nativa da Mata Atlântica, o xaxim, também conhecido como samambaiaçu, faz parte do mesmo grupo das avencas. Utilizado principalmente para o cultivo de plantas ornamentais e na jardinagem, é confeccionado a partir do caule da Dicksonia sellowiana, que pode alcançar até 20 metros de altura. Sua extração indiscriminada e sua utilização em todo o país para a confecção de vasos, suportes ou substrato praticamente levaram a sua quase extinção. A espécie consta da lista oficial das espécies brasileiras ameaçadas de extinção (IBAMA) e sua extração é proibida por Lei Federal.
Consta que os orquidófilos foram os primeiros a usar o xaxim para o cultivo de orquídeas. Posteriormente, o xaxim também foi o vaso preferido para o plantio da samambaia, planta ornamental que necessita de muita umidade. Por ser mais barato do que os vasos de barro, passou a ser consumido em larga escala, dentro e fora das residências.
Abrigo de extinção
O IBAMA chegou a criar no ano 2000 o Grupo Técnico de Conservação de Pteridófilas, com a participação de especialistas do governo e das universidades para estabelecer formas sustentáveis de exploração da espécie. Não houve tempo hábil para a implantação do programa e já em 2001 foi necessário proibir a extração dessa espécie da mata, por meio de resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O xaxim tradicional corre perigo de extinção porque, assim como outras tantas espécies nativas da Mata Atlântica. Sua exploração nunca contou com manejo adequado, ou seja, jamais foi replantando na mesma proporção da sua extração. Além disso, seu crescimento é muito lento, o que dificulta uma reposição em curto prazo. Como agravante, apesar de seu corte ser proibido, sua venda no comércio é liberada em todo o país, o que estimula a extração clandestina.
Xaxim de milheto: passo a passo do cultivo
1- Escolher um vaso ou qualquer outro vasilhame de plástico do tamanho que desejar o produto final. O tamanho médio de um xaxim mede 15 cm de diâmetro e 12 cm de altura. Colocar um material cilíndrico no centro do vaso (uma garrafa PET pequena ou tubo de PVC) e preencher ao redor com substrato. Pode ser húmus de minhoca ou húmus vegetal. O pesquisador lembra que é preciso cuidado na utilização de substrato a base de húmus de minhoca ou qualquer outro de origem animal para que o produto final não carregue patógenos para dentro das residências. Por isso a Embrapa usa substrato de origem vegetal.
2- Plantar sementes de milheto nas bordas do vaso a uma profundidade de 1 cm e com espaçamento de 2 cm entre elas. Regar a cada 2 dias no início do desenvolvimento (até a planta atingir cerca de 30 cm) e depois 2 a 3 vezes por semana, dependendo da evaporação. O ciclo até que a planta atinja cerca de um metro é de 45 dias no verão e 60 dias no inverno.
Ao final deste prazo, puxar a planta pelo caule para que ela saia inteira (com o emaranhado de raízes) do vasilhame. Deixar a planta fora do vaso durante dois dias para secar.
3- Cortar os caules das plantas rente à terra e retirar o cilindro (ou garrafa PET) do centro. Derreter a cera de carnaúba ou parafina e passar apenas nas laterais externas do xaxim. Facilita derramar a cera derretida num recipiente (tipo tabuleiro) e rolar o xaxim deitado.
4- Resultado final após o plantio de violetas (foto da abertura da matéria).
Esta tecnologia de produção do xaxim agroecológico por enraizamento foi desenvolvida e está sendo aperfeiçoada pela Embrapa Agrobiologia.
Para mais informações sobre o método de produção do xaxim agroecológico, basta entrar no site da Embrapa Agrobiologia: www.cnpab.embrapa.br