O objetivo da Rede Kamukaia é o fortalecimento de pesquisas regionais sobre estudos ecológicos de espécies florestais da região amazônica
A valorização de produtos florestais não-madeireiros com manejo sustentável é uma alternativa para que as populações tradicionais possam obter rendimentos a partir de produtos da floresta, sem derrubá-la, e assim permanecer em suas áreas de origem, tendo geração de renda e contribuindo com a conservação da floresta amazônica e com o desenvolvimento regional. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realiza o projeto Kamukaia para estudo e manejo sustentável de produtos florestais não-madeireiros, com enfoque em estudos ecológicos e experimentos de manejo com a castanha-do-brasil, andiroba, copaíba, cipó-titica e babaçu.
O objetivo do projeto Kamukaia é consolidar informações sobre ecologia e manejo de espécies florestais de uso não-madeireiro na Amazônia, que auxiliem na recomendação de práticas de manejo sustentável. O projeto é executado em uma rede de pesquisa criada pela Embrapa, coordenada pela Embrapa Acre, com participação das unidades da Embrapa Amazônia Ocidental (Amazonas), Embrapa Amapá, Embrapa Rondônia, Embrapa Roraima, Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA) e Embrapa Agrosilvipastoril (Sinop/MT), além de cooperativas de extrativistas, universidades e instituições de assistência técnica.
Kamukaia
O nome do projeto – Kamukaia – é inspirado nas palavras Kamuk e Aka, cujo significado para a etnia indígena Wapixana, que vive no estado de Roraima, significa ‘produtos da floresta’. “Entre os objetivos da Rede Kamukaia estão o fortalecimento de pesquisas regionais sobre estudos ecológicos de espécies florestais. Por isso, montamos uma estrutura em rede, para podermos comparar resultados e trocar experiências das diferentes regiões da Amazônia”, afirma a pesquisadora da Embrapa Acre, Lúcia Helena Wadt.
Para recomendar técnicas de manejo sustentável, há necessidade de conhecimentos básicos sobre ecologia das espécies florestais. Os primeiros resultados do projeto mostraram que uma mesma espécie pode ter características e comportamentos ecológicos diferenciados, em função da região de ocorrência e que as regras de manejo ou as previsões de produção podem ser diferentes.
Produtos prioritários
Pesquisadores da Rede Kamukaia também estão colaborando para a definição das diretrizes de manejo no Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, que define os produtos prioritários para a Amazônia e formaliza a política de comercialização, centrada na produção e extrativismo sustentáveis, aperfeiçoamento de processos industriais e no mercado diferenciado.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Nestor Lourenço, destaca que uma característica do projeto é valorizar o intercâmbio de saberes e, em toda a região norte, as atividades são realizadas em áreas extrativistas, em contato direto com as populações que convivem com a floresta. “É preciso reconhecer o papel importante dos extrativistas que, durante séculos, tiram produtos da floresta, mantendo-a em pé para a conservação da Amazônia”, afirma o pesquisador. “Porém, para atender a uma demanda crescente por esses produtos em mercados diferenciados, e fazer com que o uso sustentável da biodiversidade amazônica possa viabilizar a inserção socioeconômica dessas populações tradicionais, é preciso associar o conhecimento científico ao conhecimento tradicional para promover o manejo e uso sustentável desses produtos”, complementa.