Há 11 anos, a Embrapa pesquisa o uso do estresse hídrico na cafeicultura irrigada para uniformização da florada e da maturação dos grãos
Uniformizar a florada e a maturação dos cafeeiros no Cerrado para aumentar a qualidade e a produtividade do café na região. Com esse objetivo, após ficar 72 dias submetida ao processo de estresse hídrico, ou seja, sem irrigação no período de seca, a plantação de café irrigado localizada no campo experimental da Embrapa Cerrados teve o auge da sua floração.
“Suspendemos a irrigação por 72 dias (24 de junho e retomamos no dia 4 de setembro). De dez a 14 dias depois, a floração ocorre de maneira uniforme. Dessa forma, os grãos cereja (que possuem maior valor no mercado) aparecem ao mesmo tempo, o que aumenta a qualidade do café”, explica o pesquisador da Embrapa Cerrados, Antônio Guerra. Segundo ele, com essa tecnologia é registrado um aumento de produtividade em torno de 15%, devido ao melhor enchimento de grãos e redução dos defeituosos. “E quando se trata de qualidade, o ganho é ainda maior. O aumento de frutos cereja passa de 35%, sem a utilização da tecnologia, para 85%. Isso proporciona uma melhor qualidade do produto, tanto no aspecto físico quanto na qualidade da bebida”, comemora o pesquisador.
Período seco
De acordo com Antônio Guerra, esse trabalho de pesquisa foi iniciado com o objetivo de estudar as melhores formas de utilização do período seco da região em benefício da cafeicultura. A orientação anterior era de que o café deveria ser irrigado durante todo o ano, isso fazia com que a produção de frutos fosse desuniforme. “Com a paralisação da irrigação, o desenvolvimento das gemas é sincronizado. Assim, quando a irrigação é reiniciada, a floração ocorre ao mesmo tempo”, ele explica.
Custo negativo
Além dos ganhos em qualidade e produtividade, o pesquisador enfatiza que se trata de uma tecnologia de custo negativo. “A economia de água e energia na irrigação chega a 35%. E o produtor deixa de usar a água justamente no momento em que ela está sendo mais exigida por outras culturas, por conta do período da seca”. Além disso, ele esclarece que o custo de produção também é reduzido, já que a colheita do café é feita uma única vez. “A redução do número de horas/máquina é de cerca de 40%”.
Essa tecnologia obtida a partir das pesquisas sobre o uso na cafeicultura irrigada de estresse hídrico para uniformização da florada e da maturação dos grãos já está sendo validada em unidades montadas em fazendas localizadas na Bahia, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, além do Distrito Federal. “Já são onze anos de pesquisas. Mais de 100 unidades de validação foram conduzidas. Esse pacote tecnológico já está no forno”, conta.