É por meio da produção de uma das maiores paixões brasileiras – o café – que a região da Alta Mogiana possui fama internacional. As mudas cultivadas em altitudes privilegiadas, aliadas ao uso de técnicas e tecnologias de pós-colheita, são ingredientes que enriquecem o sabor e o aroma do produto, tornando-o um dos melhores do mundo
A conquista da Indicação Geográfica (IG) no ano de 2013, na categoria Indicação de Procedência (IP), colocou o café produzido na região paulista de Alta Mogiana entre os melhores do mundo. O selo certifica a qualidade da produção local, permitindo que o trabalho conjunto de cafeicultores, sindicatos rurais, cooperativas, associações e demais instituições representativas do agronegócio, alcance um propósito maior e seja visto de forma diferenciada pelo mercado interno e externo.
Concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o selo identifica e protege o grão especial, graças às suas características únicas, preservando sua cultura, sua história e sua gente. Também aproxima o cafeicultor e o processo produtivo do consumidor final, pela rastreabilidade do produto, ao apresentar a história do agricultor e sua responsabilidade diante da mercadoria ofertada.

Cultivo de cafeeiro em Alta Mogiana (SP). Foto: Arquivo AMSC
História e tradição
Os primeiros registros do plantio de café, em Alta Mogiana, indicam que o cultivo é realizado há mais de 180 anos. O Código de Postura da Câmara Municipal de Franca (SP), datado de 1833, obrigava os agricultores a plantar e manter 25 pés de cafés por cada braça (antiga medida de comprimento equivalente a 2,2 metros) de terreno, sob a pena de multa ou um dia de detenção. O fato, ao contrário do caráter meramente punitivo, serviu para contribuir para a consolidação do produto na região.
Foi com a chegada da ferrovia e a inauguração da Estação de Franca, na década de 1890, no entanto, que a cafeicultura se consolidou como principal atividade econômica nessa região paulista. A presença de imigrantes, naquela mesma época, era cada vez mais constante.
O aumento populacional, povoado principalmente por italianos, foi acompanhado de uma explosão da produção cafeeira, até então, um privilégio dos maiores proprietários de terra. Mas logo uma parceria entre os proprietários e os imigrantes mostrou-se rentável para ambos. desde então, Alta Mogiana virou um polo qualitativo de café.

Máquina espalhando o café no terreiro para a secagem. Foto: Arquivo AMSC
Território privilegiado
Alta Mogiana está localizada ao norte do Estado de São Paulo, em um planalto de serras suaves, com altitudes de 900 a mil metros. Trata-se de uma região tradicional no plantio de café, favorecida por suas características geofísicas. Apresenta temperaturas médias mensais de 21º C no verão, e 17º C no inverno, com precipitação anual em torno de 1.623 milímetros. Ainda é caracterizado, como estação chuvosa, o período de outubro a abril.
Tais peculiaridades climáticas propiciam o amadurecimento lento e uniforme do café, com a colheita seletiva feita durante seu pico de amadurecimento, de forma a obter um número maior de grãos. A secagem ao sol, em camadas finas, controlada por mão de obra especializada, é contemplada em modernos secadores mecânicos, com preciso controle de temperatura.
Nas cafeterias locais, é notória a valorização do rústico e das formas de preparo da bebida, a partir de processos minuciosos, cujos detalhes prevalecem. Com isso, ganha espaço o chamado single origin – quando o café, de origem única, é feito sem nenhuma mistura –, tornando ainda maior o prazer de saboreá-lo.
Arábica
Alta Mogiana produz café da espécie Arábica e de grãos mais finos, conhecidos como “café de bebida mole”. Dentre as variedades mais cultivadas estão o Catuaí, Mundo Novo, Bourbon e Obatã.
O café da região tem como principal característica um corpo cremoso e aveludado, aroma marcante, frutado com suaves notas de chocolate e nozes, de acidez média e equilibrada. Assim que é degustado, tem a magnitude de causar um prolongado retrogosto, com uma doçura de caramelo com pingos de chocolate amargo. Trata-se de um café encorpado, talhado para o preparo de um excelente expresso brasileiro.

Secagem do café no terreiro. Com um rodo o funcionário da fazenda mexe os grãos para uma boa secagem ao sol. Foto: Arquivo AMSC
Dedicação local
O reconhecimento da importância da região foi resultado dos esforços da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC), uma instituição sem fins lucrativos, fundada com a missão de buscar o reconhecimento do café da localidade, a congregação de pessoas e empresas atuantes no mercado de cafés especiais, incluindo a produção, beneficiamento, comercialização, industrialização e distribuição.
A AMSC orienta, organiza, fomenta e regula a cafeicultura regional, desempenhando um importante papel institucional para a propagação do café especial de Alta Mogiana, tanto no mercado interno como no externo.
Atualmente, o trabalho da Associação inclui 23 municípios dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, que abrangem cem mil hectares de café e cinco mil cafeicultores.