Produtores rurais de Mato Grosso do Sul conseguem competitividade no mercado, lucratividade e a família unida com desenvolvimento da tecnologia social “PAIS”
Em todo o País, o cultivo de hortaliças sem agrotóxicos se expandiu com o projeto PAIS — Produção Agroecológica Integrada e Sustentável — uma tecnologia social, que reúne instrumentos, técnicas e processos de baixo custo de produção, com a participação de comunidades rurais. O modelo apresenta fácil reaplicação e impacto comprovado na transformação social no campo.
Em Mato Grosso do Sul (MS) as primeiras unidades foram implantadas em 2006 pela parceria entre Sebrae/MS, Fundação Banco do Brasil (FBB), DRS – Banco do Brasil, e Prefeituras Municipais. Na época, o foco era fortalecer a subsistência das famílias rurais, que poderiam se alimentar das hortaliças cultivadas nos canteiros circulares, dos ovos e da carne das aves criadas no centro da unidade e, para diversificar a alimentação, havia um quintal agroecológico onde se produzia frutas, tubérculos e cereais.
Avanço
Em 2010, um avanço significativo na produção agroecológica do PAIS foi alavancado pelas políticas públicas voltadas à pequena produção rural, como o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar. Foi visualizada na técnica de produção agroecológica a oportunidade de transformar a atividade rural de subsistência em um negócio rentável. O foco para as famílias beneficiárias do projeto PAIS passou então a ser a geração de renda. Com esta nova perspectiva, houve grande procura por parte dos agricultores familiares pela produção agroecológica.
Pelo PAIS, tanto produtores rurais quanto seus familiares recebem orientação técnica para a produção agroecológica e preparação para ingressar no mundo dos negócios, com informações sobre associativismo, recomendações legais, gestão rural. Também participam de cursos sobre relação interpessoal, formação de preço de venda, atendimento ao cliente, higiene e manipulação de alimentos, NCR – Negócio Certo Rural, e outros.
Subsídios estimulam cultivo e venda
Os agricultores beneficiados pelo projeto recebem o kit para implantação/produção, orientação técnica das prefeituras e apoio do Sebrae no processo de implantação e funcionamento da unidade PAIS. O investimento inicial por unidade produtiva é em torno de R$ 5 mil, subsidiado pela FBB. Com este incentivo, hoje, o projeto PAIS no MS já conta com 353 unidades distribuídas, em grande parte, nas cidades de Campo Grande (122) e Sidrolândia (156), e nos municípios de Bandeirantes (20), Jaraguari (20), Terenos (25) e Três Lagoas (10).
Outro passo na expansão do projeto foi a agregação de valor ao produto com a obtenção do selo de orgânico. O Sebrae auxiliou nesta conquista subsidiando em 80% o custo da certificação através do Sebraetec. A inauguração da Feira de Orgânicos de Campo Grande há três anos apresentou este selo à população, conferindo credibilidade ao discurso dos produtores por uma alimentação, livre de agrotóxicos; melhorando acesso da pequena produção ao mercado.
Uma história se destaca
Em meio ao cenário de fortalecimento da produção agroecológica e orgânica no Mato Grosso do Sul, encontramos a produtora rural Zenir de Souza, de 71 anos, do Distrito de Rochedinho, a 50 km da capital. Ela, que começou sua trajetória no campo ainda menina, desenvolvia a atividade de bovinocultura de leite e cultivava alimentos apenas para consumo próprio. Em 2008, foi contemplada com o Projeto PAIS e começou a cultivar hortaliças a partir da metodologia de produção agroecológica.
Quando surgiu a Feira de Orgânicos de Campo Grande, Dona Zenir saía cedo de casa, pegava carona com os produtores de sua comunidade. A notícia de novas oportunidades nos negócios chegou aos ouvidos de seu filho, Jeremias de Souza Curado, que havia saído do campo para fazer faculdade. Em 2010, ele voltou a morar na propriedade rural da família, juntamente de sua esposa, Heloisa de Oliveira Curado. Bacharéis em Turismo e desempregados, ambos encontraram trabalho no cultivo e venda de hortaliças e frutas na Feira.
A renda média por feira era de R$ 150 a R$200. Como ela não tinha carro, ainda pagava o frete para levar a produção até o local. Com o passar do tempo, a família ampliou as atividades da propriedade na bovinocultura de leite, na criação de galinhas caipiras, no cultivo da banana, abacaxi, e o cultivo de hortaliças em quatro canteiros da unidade PAIS.
Com a ampliação e melhoria das técnicas de cultivo, a produção de Dona Zenir aumentou. Atualmente a comercialização no PAA, PNAE e a participação na Feira de Orgânicos permitem o faturamento médio semanal em torno de R$ 600. Em maio deste ano, ela faturou R$ 4.250 com a atividade, sendo 80% proveniente da venda de hortaliças e frutas e 20% da venda de produtos de origem animal.
A família está contente com o projeto PAIS e as atividades, em especial com os resultados da produção e o retorno econômico do cultivo de hortaliças e frutas orgânicas. A renda obtida pelas compras públicas e feira permitiu comprar um trator e implemento para preparo de solo; reformar os pastos da propriedade; perfurar um poço artesiano; ampliar o sistema de irrigação; aumentar o plantio de frutíferas como a banana e citros (laranja, ponkan e limão).
Para continuar na propriedade, a família investiu na melhoria da casa. Um veículo com carreta foi comprado para levar a produção de hortaliças e frutas para a feira de orgânicos e fornecer ao PAA e PNAE. Jeremias pretende ampliar o plantio de frutíferas, como a banana, em uma área de dois hectares e o maracujá em uma área de um hectare em função da procura destas frutas pelo programa de alimentação escolar. Um sonho pessoal é investir na construção de uma nova casa para ele morar com a esposa e a filha e deixar a casa atual para a mãe, Dona Zenir, ter o seu espaço e descansar melhor.
Planos Futuros
O projeto ainda conta com a instalação de mais 115 unidades PAIS, que encontram-se em processo de conclusão, sendo 105 com recursos da Fundação Banco do Brasil e 10 com investimentos da Eldorado Celulose, apoiados pelo Sebrae/MS.