As plantas de alface apresentaram folhas maiores e mais macias e as de agrião aumentaram em 60% a massa fresca
O consumo de frutas e hortaliças vem crescendo no país de acordo com o Ministério da Saúde: a inclusão de cinco porções do alimento por dia em, pelo menos, cinco dias da semana subiu de 20% em 2018 para 22,9% em 2019. O mercado brasileiro de hortaliças é altamente diversificado. Raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes fazem parte do cardápio dos consumidores.
O Estado de São Paulo é responsável por cerca de 20% da produção nacional e é, também, o principal mercado consumidor, absorvendo 22% do que é produzido. Os principais produtos são a batata, tomate, melancia, alface, cebola e cenoura.
De acordo com informações do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em 2019, foram produzidos 19 milhões de engradados com nove dúzias de alface cada; três milhões de caixas de 25 kg de cenouras cada; 8,3 milhões de sacas de 50 kg de batata de inverno cada; e 81 mil toneladas de cebola de muda, entre algumas das principais hortaliças consumidas.
Biofortificação
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), realiza constantes pesquisas para melhorar a qualidade da produção de hortifrutigranjeiros. Uma delas é a alface com quantidade de zinco até 16 vezes maior nas folhas, resultado de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Agonômico (IAC).
A biofortificação desse alimento foi obtida, segundo o IAC, a partir de aplicações de doses crescentes de sulfato de zinco no solo, até o limite que não impacte a qualidade, a produtividade da planta e o ambiente. Ao ingerir 50 gramas ou seis a sete folhas dessa alface biofortificada, a pessoa estará suprindo cerca de 25% da recomendação diária desse importante reforço do sistema imunológico humano.
Telas de sombreamento
Outra pesquisa da APTA está analisando o uso de telas de sombreamento para a produção de hortaliças folhosas no Verão. O estudo vem sendo realizado na cidade de Presidente Prudente, uma região quente do Estado de São Paulo, onde os pesquisadores estudam a produção de alface, agrião e cebolinha, três das hortaliças mais consumidas pelos brasileiros.
A pesquisadora Andréia Cristina Silva Hirata explica que no agrião, por exemplo, as telas de sombreamento aumentaram em cerca de 60% a massa fresca da planta, em relação ao cultivo em pleno sol. “A alface teve melhora na qualidade, com folhas maiores e mais macias, características bastante apreciadas pelos consumidores”, ressalta.
“As plantas de alface cultivadas sob as telas de sombreamento apresentaram folhas maiores e mais macias. Esse resultado é atribuído ao aumento da área foliar para otimizar a captação da luz. As plantas cultivadas sob intensa radiação solar (pleno sol) apresentaram folhas mais espessas e menores, mecanismo de proteção e redução da transpiração”, salienta a especialista da APTA.
Segundo ela, a cebolinha já não apresentou efeitos tão promissores e, “dependendo das condições climáticas do Verão, as telas de sombreamento podem trazer resultado negativo para a cultura”, revela.
Manejo do ambiente e do solo
O manejo do ambiente e do solo para o plantio de hortaliças no Verão, época chuvosa onde há grande perda de solo, o que resulta em redução de produtividade e degradação do solo, também é objeto de estudo da APTA.
Hirata destaca que no manejo do ambiente foram estudadas diferentes telas de sombreamento associadas ao não revolvimento do solo. Já no manejo do solo, os pesquisadores analisaram o plantio direto de diferentes variedades de alface e rúcula em Brachiaria ruziziensis cultivada nos canteiros antes do plantio das hortaliças.
Os resultados do trabalho mostraram elevada redução de plantas daninhas com a palha da Brachiaria ruziziensis no cultivo dessas hortaliças, proporcionando reduzir mão de obra para capina. “Assim, o produtor pode utilizar esse tempo para outras atividades da horta”, avalia a pesquisadora.
Ela ressalta que as variedades estudadas mostraram-se adaptadas ao sistema. “Houve ainda benefícios do plantio direto na qualidade física do solo e redução da temperatura do solo, o que para o cultivo no verão é muito importante” destaca Hirata.
Hirata destaca ainda que, ao longo dos cultivos, houve aumento da produtividade no plantio direto sobre B. ruziziensis em relação ao plantio convencional, além de conservação dos canteiros, os quais ficaram protegidos das chuvas abundantes do período. O cultivo na palha de braquiária protegeu as folhas do respingo de chuva no solo. “Isso pode até reduzir uma operação pós-colheita, que é a de lavagem da alface para tirar a terra aderida nas folhas que ocorre no plantio convencional”, sublinha.
O destaque da alface como alimento
Originária da Europa e da Ásia, a alface pertence à família Asterácea, como a alcachofra, o almeirão e a escarola, sendo conhecida desde 500 anos a.C. Apesar dos hábitos de consumo e das diferenças climáticas, a alface é uma hortaliça plantada e consumida em todo o território brasileiro.
Sizele Rodrigues dos Santos, nutricionista da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), salienta que a alface, das hortaliças mais consumidas em todo o País, é um alimento rico em nutrientes. “É a primeira folhosa introduzida na alimentação e seu consumo ajuda a reduzir até mesmo a ansiedade”.
“A alface é uma hortaliça muito comum e presente na mesa do brasileiro; geralmente, é a primeira folhosa crua a ser introduzida na nossa alimentação. Tem alto poder de saciedade e oferece apenas 15 kcal por 100 gramas, por isso é tão comum nas dietas de emagrecimento”, completa a nutricionista Beatriz Cantusio Pazinato, extensionista da Divisão de Extensão Rural, da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), responsável pelos cursos e treinamentos oferecidos pela Secretaria de Agricultura em várias localidades do Estado de São Paulo.