Florestas de eucalipto, ao contrário do que muitos pensam, podem ser o caminho mais eficiente para preservação ambiental e sustentabilidade
O consumo de madeira deve triplicar nos próximos trinta anos, assim como a demanda por papel pode crescer 100% no mesmo período. É o que aponta o relatório Florestas Vivas, do WWF, organização não governamental em prol do meio ambiente.
Para atender a esta demanda e evitar a degradação de florestas nativas, a solução pode ser o que até então era considerado como um dos maiores vilões da sustentabilidade: o eucalipto, mais especificamente as florestas plantadas. Até 2050, serão necessários 250 milhões de hectares de novas plantações, de acordo com o relatório.
Novas gerações
“O mundo precisará cada vez mais de fibra, madeira, e combustível. As florestas plantadas são uma boa alternativa para suprir essa demanda, de forma responsável”, afirma Mauro Armelin, coordenador do programa Amazônia do WWF-Brasil.
A WWF vem coordenando, em todo o mundo, o projeto New Generation Plantations (NGP- Nova Geração de Plantios), que pretende desenvolver e aplicar um modelo ideal de manejo, onde as plantações florestais manteriam a integridade dos ecossistemas e da biodiversidade, ao mesmo tempo em que promoveriam uma inclusão social e crescimento econômico da população do entorno.
Plantações ideais
De acordo com o NGP, as plantações ideais podem beneficiar o meio ambiente nos seguintes aspectos:
- Mantendo a disponibilidade da água e nutrientes do solo;
- absorvendo e armazenando carbono;
- incluindo corredores para travessia de animais silvestres;
- protegendo áreas críticas de plantas e animais; e
- recuperando áreas degradadas, como pastagens consumidas em excesso.
“Para o WWF é muito importante trabalhar com plantações, por mais que seja um tema difícil. Plantações mal administradas continuam ameaçando ecossistemas valiosos e, com a aplicação do NGP, na prática, é possível mudar isso”, explica Luís Neves, coordenador do projeto. E complementa: “Temos que dialogar com as empresas e encontrar formas de disseminar nossa missão”.
Boas práticas
Entre as empresas que participam do NGP, está a brasileira Fibria, fusão da Aracruz e da Votarantim Celulose e Papel, líder mundial na produção de celulose de eucalipto. Diretor executivo florestal da empresa, Aires Galhardo conta que, “a adoção de melhores práticas no setor florestal é uma premissa da Fibria e vem sendo continuamente reforçada com o cumprimento de metas de sustentabilidade que a própria empresa se impôs”.
Quanto às polêmicas envolvendo as florestas de eucalipto, muitas vezes denominadas como “desertos verdes”, Galhardo explica: “A monocultura do eucalipto não prejudica o solo se manejado de forma correta. Se compararmos com outras essências florestais, o plantio de eucalipto consome a mesma quantidade de água que as floretas nativas, sobretudo, da camada superficial do solo, já que suas raízes não ultrapassam os dois metros de profundidade e, logo, não alcançam o lençol freático”.
Plantios florestais X Florestas plantadas
Maria José Zakia, consultora na área socioambiental e assessora do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, ensina que “uma floresta plantada é aquela manejada para a produção de fibra, papel e madeira, mantendo-se comprometida com a conservação da água, do solo e da biodiversidade. Enquanto um plantio florestal preocupa-se exclusivamente com a produção, sem cuidado com o meio ambiente”.
Segundo Zakia, em 1990, ao final do Congresso Florestal Mundial, organizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), chegou-se a seguinte conclusão: “o desafio para o setor florestal de todo o mundo seria o de transformar plantios florestais em florestas plantadas”.
Pontos positivos
Além de servirem como fonte de fibras e madeira, poupando as florestas nativas, as florestas plantadas também possuem outros pontos positivos. De acordo com Galhardo, neste sistema, o solo é menos exposto às longas exposições de luz e altas temperaturas, o que torna um indicador de sustentabilidade da produção, principalmente em solos mais velhos, uma vez que as florestas agem como um tipo de protetor solar para o solo.
“Quase tudo que o eucalipto retira do solo, ele devolve. Após a colheita, cascas, folhas e galhos, que possuem 70% dos nutrientes da árvore, permanecem no local e incorporam-se ao solo como matéria orgânica”, argumenta Galhardo.
Os plantios de eucalipto são entremeados por áreas de espécies nativas, formando corredores que favorecem a preservação da fauna e flora, oferecendo abrigo, alimentação e reprodução para várias espécies. “Com adoção de modernas técnicas de planejamento de uso do solo, fica garantida a biodiversidade dos sistemas aquáticos e terrestres”, afirma o diretor executivo.
Como é a produção
A formação de florestas da Fibria começa no viveiro, com o desenvolvimento de mudas de eucalipto com alta produtividade de celulose e mais resistentes a doenças. Para Aires Galhardo, “essa etapa é crucial para a obtenção da produtividade esperada dos plantios, contribuindo para o cumprimento da Meta de Longo Prazo de reduzir, em um terço, a quantidade de terras necessária para a produção de celulose”.
As áreas de plantio são escolhidas conforme sua aptidão e preparadas com adubação balanceada e resíduos naturais — raízes, folhas, galhos e cascas de árvores.
As técnicas de manejo levam em consideração as diferenças ambientais de cada região, o tipo de solo e os resultados dos sucessivos ciclos de plantio. Segundo Galhardo, o objetivo do trabalho é obter ganhos sustentáveis de produtividade e assegurar a conservação do solo após as colheitas do eucalipto, preparando-o para um novo plantio.
Diminuição de impacto
A Fibria busca eliminar, diminuir ou compensar todos os efeitos prejudiciais decorrentes das operações florestais e industriais por meio de práticas de manejo e de investimentos socioambientais e ações contínuas de controle nas regiões próximas de sua atuação.
A empresa também desenvolveu sistemas de silvicultura de precisão que monitoram a fertilidade e a conservação do solo. Com esse trabalho, é possível diminuir os custos de formação das florestas, aumentar a produção de biomassa florestal, manter a sustentabilidade produtiva e quantificar serviços ecossistêmicos dos plantios.
Manejo florestal
O atual manejo florestal tem como propósito garantir o abastecimento de madeira de eucalipto às unidades industriais da empresa, dentro de parâmetros de produtividade, qualidade, baixo custo, e sustentabilidade ambiental e social.
Fazem parte desse manejo a conservação e a recuperação de florestas nativas, a conservação do solo, a melhoria na qualidade da água e a geração de renda e bem-estar social nas comunidades. Com essas práticas, a companhia consegue reforçar a imagem de sustentabilidade do negócio e avança no cumprimento da Meta de Longo Prazo.
Números do setor de Florestas Plantadas no Brasil * |
Base florestal de 7,60 milhões de hectares |
Produção anual de mais de 15 milhões de toneladas de celulose e 10 milhões de toneladas de papel |
Mais de 630 mil profissionais diretos, e quase 4,5 milhões indiretos, envolvidos com a atividade florestal |
Receita anual líquida em torno de R$ 56 bilhões, representando 1,2% do PIB nacional |
Dados da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ , 2014) |
Banco de dados
Segundo Galhardo, todos os procedimentos são guiados por um banco de dados que reúne as informações de um amplo mapeamento dos solos. “A companhia procura usar corretivos de solo fabricados com resíduos sólidos do processo de fabricação da celulose, gerando benefícios econômicos e ambientais”.
Após uma média de 6 a 7 anos do plantio, é realizada a colheita da madeira, que segue para indústria para produção da celulose. A colheita é mecanizada e envolve atividades de derrubada e processamento da madeira, o transporte da madeira até a fábrica é feito por caminhões especializados.
Outras recomendações do NGP
- Ciclo da água – Nas regiões áridas e semi-áridas, plantações podem reduzir a quantidade de água disponível na bacia, levando a secar córregos e gerar uma menor disponibilidade de água subterrânea potável. A experiência NGP sugere que o estabelecimento de zonas ribeirinhas e de minimização do uso de herbicidas e aplicação de fertilizantes, especialmente durante períodos úmidos, reduziram as mudanças no fluxo de água.
- Os nutrientes do solo – A instalação de uma plantação pode influenciar o ciclo de nutrientes de formas positiva e negativa. Os efeitos negativos incluem a perturbação da estrutura do solo e os fertilizantes podem ser prejudiciais para a disponibilidade de nutrientes. O problema pode ser resolvido com boas práticas, como a cuidadosa combinação de espécies nas plantações.
- As mudanças climáticas – A conversão de florestas naturais em plantações, muitas vezes, acelera a mudança climática, aumentando as emissões de carbono. No entanto, o estabelecimento de uma plantação em terra não-florestada normalmente aumenta estoques terrestres de carbono e reduz as emissões de metano para a atmosfera em locais onde eles substituem a pecuária. As plantações são suscetíveis de ter um impacto positivo sobre o clima, desde que sejam geridos de forma sustentável e não substituam florestas naturais ou semi-natural.