Bebida não alcoólica, não fermentada e cristalina, o suco de caju clarificado é um produto natural, principalmente porque não pode levar açúcar, gases e conservantes em sua composição
A cajuína produzida no Estado do Piauí é uma bebida não alcoólica, não fermentada, cristalina, sem adição de açúcar, gases e conservantes. É produzida exclusivamente do suco de caju clarificado, sendo considerado um produto natural e não um refrigerante.
Símbolo da hospitalidade local, sua degustação remete à tradição e aos aspectos culturais dessa linda região do Nordeste do País. Tudo isso fez com que os produtores da cajuína buscassem o Selo da Indicação de Procedência (IP), que faz parte da certificação de Indicação Geográfica (IG), junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), no final de 2008.
Desde aquele ano, os envolvidos no processo da IG contaram com a parceria e o auxílio técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado (Sebrae/PI), quando os produtores criaram, na mesma época, a União das Associações, Cooperativas e Produtores de Cajuína do Piauí: a Procajuína, uma instituição sem fins lucrativos, que passou a administrar a IP, defendendo os direitos de seus fabricantes.
Em 2010, com o processo de registro já em andamento e a pedido do Sebrae/PI, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) tornou-se parceira na elaboração do “Relatório Técnico de Caracterização Sensorial da Cajuína produzida no Estado do Piauí”.
Já os profissionais da Unidade Meio Norte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se juntaram para desenvolver a publicação “Cajuína: Informações Técnicas para Indicação Geográfica da Cajuína do Piauí”.
Procedência
Requerente: União das Associações Cooperativas e Produtores de Cajuína do Estado do Piauí – Procajuína
Data da Concessão: 13 de abril de 2014
Espécie: Indicação de Procedência (IP)
Natureza: Produto
Nome da Área Geográfica: Estado do Piauí, Brasil
Delimitação: Área definida pelo Estado do Piauí, que se limita com o Oceano Atlântico e, seguindo no sentido horário, com os seguintes Estados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Tocantins e Maranhão.
A jornada continua
No ano seguinte, por meio de um ofício, os associados da Procajuína continuaram com a jornada informando, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que a Portaria nº 1, datada em sete de janeiro de 2000, estava desatualizada e ultrapassada, pedindo, assim, sua revisão.
Em abril de 2012, foi feito o depósito do pedido de registro do selo de IG da Cajuína do Piauí junto ao Inpi. Em agosto de 2014, foi publicada a concessão do Instituto pelo Registro de Indicação Geográfica/IP. Um ano depois, ocorreu a estreia desse produto genuinamente piauiense, durante a primeira feira de Indicações Geográficas: a Hortifruti Brasil Show & Foods Brasil 2015, em Curitiba (PR).
“A IG atesta a qualidade do nosso produto. Com isso, salvaguardamos nosso método de produção artesanal, nos destacando frente à concorrência”, diz o produtor e presidente da Procajuína, José de Ribamar Rodrigues.
Ele também pontua as motivações para buscar a IG: “promover, proteger e valorizar a forma de produzir cajuína no Piauí; agregar valor ao produto final; e aumentar o consumo consciente de alimentos funcionais diferenciados”.
Outro título importante
Ainda em 2015, a cajuína do Piauí foi considerada Patrimônio Cultural Brasileiro, título entregue ao empresário Lenildo Lima, presidente da Cooperativa de Produtores de Cajuína do Estado do Piauí (Cajuespi).
Esse reconhecimento foi concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Receita aprimorada
Passada de geração em geração, a receita do suco de cajuína foi sendo aprimorada a partir da fabricação de um produto que reduzisse, ao máximo, o desperdício do pedúnculo da fruta (Anacardium occidentale L.), mantendo suas propriedades tanto em sabor quanto do ponto de vista nutricional.
“Essa receita vem se tornando bastante popular. Por isso, anualmente, investimos em muitas capacitações sobre como produzir cajuína no Piauí, principalmente durante a safra. Nota-se que, a cada ano, o número de pessoas interessadas no assunto tem aumentado consideravelmente”, comenta Rodrigues.
Números
Estima-se que, hoje, existam aproximadamente três mil produtores de cajuína no Estado. Cinco empresas estão devidamente legalizadas com registro no Ministério da Agricultura, sendo que três utilizam o Selo de Indicação de Procedência: a Cajuína Brasucos, Cajuína Dona Júlia e Cajuína Amarração.
De acordo com a Procajuína, em média, 80% de tudo que é produzido no Piauí são consumidos dentro do próprio Estado, tornando-o um “bem” regional.
“No ano de 2017, o Mapa reviu a Portaria nº 1 (7/1/2000), por sugestão dos produtores e da própria associação, durante uma audiência pública, estabelecendo a proibição de adição de açúcares e/ou gás carbônico à cajuína ou ao suco de caju clarificado (cajuína)”, informa o presidente da instituição.
Um pouco de história
Em todas as localidades produtoras de caju, no Brasil, é elaborado um produto com o nome de cajuína, existindo variações na fabricação de região para região. Dependendo do local, ela pode ser alcoólica e fabricada com conservantes e/ou gaseificada, o que não é o caso da produção piauiense.
Segundo a escritora Rachel de Queiroz, a cajuína – uma bebida popular em todo o Nordeste brasileiro – seria uma invenção do farmacêutico baiano Rodolfo Marcos Teófilo (1853-1932), embora não exista um documento legal determinando a data exata dessa invenção.
Conforme relatos oficiais, nos anos de 1920, na região valenciana do Estado do Piauí, a cajuína já era produzida da forma que é feita até hoje. Apesar de terem sido introduzidas pequenas modificações no processo de fabricação do produto final, o básico continua preservado.
Em anos primórdios, apesar de a bebida ser servida a “visitas importantes”, segundo descreve um documento do Sebrae/PI, que relata essa história, acredita-se que Maria Portela Veloso – conhecida como Maricas Veloso – teve a ideia de aproveitar que seu marido, Clóvis Manoel Portela, era um caixeiro viajante, na década de 30, para comercializar a produção excedente.
A partir daí, ela se tornou a primeira produtora de cajuína, no Brasil, a fabricar o produto com visão comercial.
Saber da história é importante, destaca o presidente da Procajuína, José de Ribamar Rodrigues, pois, “em nosso Piauí, a cajuína é a identidade, o cenário e o hábito alimentar do nosso povo”.
Fontes: IBGE, Sebrae e Procajuína
Serviço
Contatos das marcas que utilizam o Selo IG/IP Cajuína do Piauí podem ser obtidos junto à União das Associações Cooperativas e Produtores de Cajuína do Estado do Piauí (Procajuína) pelo e-mail: procajuina@gmail.com ou pelo telefone: (86) 99977-6148.
IG
A Indicação Geográfica é um registro concedido a produtos e serviços vinculados à determinada região, podendo ser Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO).
De acordo com o Sebrae, o Selo da IG Cajuína do Piauí poderá ser usado por produtores de todos os municípios piauienses, desde que produzam a cajuína conforme os padrões previamente estabelecidos e estejam devidamente registrados no Mapa.