Tratamento homeopático tem ganhado maior atenção, principalmente, por parte dos pecuaristas que produzem carne e leite orgânicos
A homeopatia veterinária vem conquistando cada vez mais espaço no campo, ao longo dos últimos 25 anos, principalmente no setor pecuário, que se mostra mais atento à saúde e ao bem-estar dos animais e, consequentemente, à sustentabilidade do próprio segmento produtivo e do negócio.
Essa especialidade ganha impulso pela atual valorização dos alimentos orgânicos, cujo mercado cresce a uma taxa anual superior a 20%, entre eles o da carne e do leite.
Especialista em homeopatia animal da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina (Epagri-SC), o médico veterinário Marcelo Silva Pedroso destaca que o método alternativo aplicado em animais funciona da mesma forma que a humana, a partir do uso de medicamentos homeopáticos para o tratamento das enfermidades, sejam elas quais forem, independentemente de seu curso, se agudas ou crônicas.
“A homeopatia possui quatro pilares básicos, mas o principal deles é o princípio da semelhança, ou seja, o medicamento capaz de produzir sintomas no indivíduo sadio é eficiente para curar os mesmos sintomas no indivíduo doente”, explica.
Nesse sentido, portanto, “necessitamos fazer uma anamnese bastante apurada dos rebanhos a serem tratados, para que possamos chegar ao medicamento semelhante (simillimum) aos animais, que irá curá-los de toda e qualquer enfermidade por eles acometida”, informa Pedroso.
Pets
Pedroso relata que a homeopatia veterinária aplicada em animais de companhia – os pets – é praticada há bastante tempo no Brasil, mas sua utilização na pecuária nacional é mais recente, tendo surgido por volta do final da década de 1990 e início dos anos 2000.
“A homeopatia veterinária se fortaleceu em 1993, com a criação da Associação dos Médicos Veterinários Homeopatas do Brasil (AMVHB). sete anos depois, a instituição recebeu a autorização do Conselho Federal de Medicina Veterinária para titular os profissionais especialistas nessa área, regularmente certificados”, lembra o especialista.
Amparada oficialmente pela Resolução n° 625, de 16 de março de 1995, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a homeopatia aplicada em animais dispõe sobre o registro de título de especialista no âmbito dos conselhos regionais.
Na maioria dos Estados brasileiros, de acordo com a Associação dos Médicos Veterinários Homeopatas do Brasil, as clínicas de pequenos animais pets – como cães e gatos – já oferecem atendimento do gênero.
No campo
No meio rural, segundo a AMVHB, especialmente nas fazendas certificadas para a produção de alimentos orgânicos, têm sido aplicados muitos medicamentos homeopáticos e vários zoológicos, que já adotam esses produtos “alternativos” como recursos terapêuticos.
Para que seja considerado produto orgânico, os animais que produzem carne e leite precisam utilizar somente insumos e medicamentos que não sejam químicos.
“Todas as doenças tratadas com homeopatia não deixa qualquer resíduo químico nos animais”, explica Marcelo Pedroso.
Homeopáticos x convencionais
Pedroso garante que a aplicação de medicamentos homeopáticos pode, sim, substituir o uso dos convencionais, em toda e qualquer situação de doença, seja ela aguda ou crônica.
“Da mesma forma que os tratamentos convencionais possuem prognósticos favoráveis, reservados e desfavoráveis, assim também é a homeopatia, muito embora casos dados como reservados e/ou desfavoráveis pela clínica convencional, já conseguimos restabelecer o equilíbrio e proporcionar a cura dos animais.”
Para o médico veterinário da Epagri-SC, a questão central é que na homeopatia existe a necessidade de um conhecimento muito mais aprofundado sobre a filosofia homeopática, matérias médicas homeopáticas, repertorização, dentre outros temas relacionados, “para que possamos prescrever a medicação correta e conduzir o caso ao sucesso”.
“Devemos saber que, para trabalharmos com a homeopatia, precisamos entender o processo de adoecimento e cura dos animais, ou seja, não é apenas a mudança de método terapêutico e, sim, uma mudança profunda de filosofia de trabalho.”
Tratamento de bovinos
Pedroso relata, considerando suas próprias experiências profissionais no campo, que a homeopatia pode ser aplicada em bovinos que apresentem, por exemplo, casos de mastite subclínica. Nesse caso, ela deve ser usada quando o leite do animal não está ainda comprometido.
“Os tratamentos convencionais, nessa situação, são tecnicamente desaconselháveis, pois, além do baixo índice de cura dessas enfermidades, ainda há o descarte do leite de todo animal durante o período de tratamento, adicionado ainda do período de carência”, alerta.
Com o uso da homeopatia veterinária, continua o especialista, “temos obtido excelentes resultados porque, como é um método terapêutico não residual, o leite do animal em tratamento não necessita ser descartado, retomando a produção de leite dos animais ainda na mesma lactação”.
“Temos diversas experiências exitosas, que vão desde o controle das mastites clínicas e subclínicas, doenças reprodutivas, doenças de pele, a doenças do sistema respiratório, do sistema digestivo, endo e ectoparasitas, comportamento animal. Enfim, temos casos de sucesso em todo e qualquer mal que acometa os animais”, comemora Pedroso.
Por Marjorie Avelar – Especial para A Lavoura