Desempenho de vacinas estrangeiras em rebanhos brasileiros ainda não é satisfatório. Parceria da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) com a Universidade Federal do Estado (UFMG) busca mudar esse cenário
Os carrapatos são um grande problema para a pecuária brasileira. No Brasil, a infestação de rebanhos é responsável por perdas estimadas em U$ 3.24 bilhões todos os anos. Em Minas Gerais, estado que possui o maior rebanho leiteiro do país, os carrapatos são responsáveis por perdas de mais de 90 litros de leite por vaca. Grandes prejuízos causados por pequenos aracnídeos.
A lista de estragos causados por carrapatos é ainda maior. Infestações em rebanhos causam lesões no couro dos animais e favorecem a penetração de larvas de moscas causadoras de bicheiras. Além disso, devemos considerar os prejuízos relacionados à mão-de-obra necessária para o controle dos carrapatos, como as despesas com instalações, aquisição de carrapaticidas e compra de equipamentos adequados para aplicação dos produtos.
A Epamig trabalha no desenvolvimento de tecnologias para diminuir os prejuízos causados por carrapatos na pecuária de leite e de corte. Segundo o pesquisador da empresa, Daniel Rodrigues, para obter uma boa eficácia é preciso realizar o controle de acordo com as melhores informações técnicas, o que muitas vezes é difícil na prática.
“O controle desses parasitos é complexo devido a um conjunto de fatores, como a raça do bovino, condições climáticas, de manejo e tipos de pastagem. As estratégias atuais incluem a seleção de indivíduos e raças mais resistentes e o manejo de pastagens. No entanto, o controle químico ainda é a estratégia mais utilizada”, afirma Daniel.
Porém, quando mal utilizado, o controle químico oferece risco à saúde dos animais, das pessoas e do meio ambiente. Daniel explica que o uso de carrapaticidas pode deixar resíduos na carne, no leite e contaminar o solo. Além disso, a resistência dos carrapatos aos princípios ativos aumenta a cada dia, o que reforça a necessidade de alternativas potencialmente eficazes e seguras, como as vacinas.
Vacinação: a melhor perspectiva para o controle de carrapatos
Há mais de setenta anos pesquisadores estão envolvidos na produção de uma vacina eficiente, capaz de conferir aos rebanhos imunidade contra o carrapato. Vários produtos têm sido testados, desde compostos à base de carrapatos inteiros, órgãos internos, como glândulas salivares e intestino, e até fragmentos menores. Contudo, melhores resultados são alcançados com material que não entra em contato com o hospedeiro durante a alimentação. Esse material é composto dos chamados antígenos ocultos.
“A vacinação apresenta uma série de vantagens em relação aos métodos de controle químico, é segura para o homem e o meio ambiente, não deixa resíduos na carne e no leite, e, portanto, não requer período de carência. Além disso, estudos têm indicado baixa possibilidade de desenvolvimento de resistência pelos carrapatos“, destaca Daniel Rodrigues.
Em 1994, a Austrália iniciou a comercialização das primeiras vacinas contra o carrapato do boi, denominadas TickGARD e TickGARD Plus, que hoje já não estão mais disponíveis no mercado. Tempos depois, com as bases do mesmo antígeno, Cuba formulou as vacinas Gavac e Gavac Plus.
No Brasil, os testes realizados com as vacinas TickGARD e Gavacdemonstraram eficiência próxima de 50%. O resultado foi menor que o reportado em outros países. Devido a necessidade de várias doses para um período curto de proteção parcial, as vacinas estrangeiras não tiveram boa aceitação no mercado nacional.
Diante desse cenário, pesquisadores brasileiros têm trabalhado para o desenvolvimento de uma vacina que seja capaz de induzir uma resposta imune efetiva e duradoura, e que seja um produto economicamente viável para o produtor.
Trabalhos nessa linha estão sendo desenvolvidos pela Epamig em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no Campo Experimental Santa Rita, no município de Prudente de Morais (MG). Os resultados das pesquisas serão divulgados após os testes em andamento.