Instalação de hidrômetros, reuso da água da chuva e reutilização deste recurso empregado na limpeza do espaço para fertirrigação de plantas são algumas opções para o produtor
Desde o início da crise hídrica no Brasil, as palavras de ordem têm sido “economia de água”. Assim como nas cidades, no campo não tem sido diferente. E, neste cenário, que preocupa governos, entidades representativas do agronegócio e a sociedade em geral, a atuação de pesquisadores tem sido fundamental para que os produtores rurais também possam fazer sua parte. Afinal de contas, não tem sido nada confortável carregar o peso, sozinho, de ser “o vilão” neste quesito no País.
Uma das propostas mais recentes vem do Sistema de Produção de Leite da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), que sugere a redução de até 30% do consumo de água em salas ou centros de ordenha. O trabalho, que durou 18 meses, quantificou o consumo deste recurso, melhorando o processo de ordenha e propiciando melhor gestão deste bem natural.
Segundo a estatal, o maior consumo de água em uma sala de ordenha ocorre durante a limpeza do próprio espaço — em torno de 48%, só para lavar o piso. Outros 37% são usados especificamente na ordenha e limpeza de equipamentos e somente 10% vão para o consumo dos animais.
Planejamento
De acordo com o pesquisador Júlio Palhares, responsável pelo estudo, este cálculo serve para que o produtor possa se planejar. “A raspagem do piso, o uso da água sob pressão, a substituição da mangueira de fluxo contínuo por um modelo controlado, a manutenção do piso e o programa de detecção de vazamentos são medidas eficazes”, orienta.
Ele garante que, com pouco investimento, o produtor de leite pode economizar água, energia elétrica, dinheiro e ainda fazer com que a produção agropecuária “seja hidricamente sustentável”. “Além destas práticas, há outras medidas, como a reutilização da água da lavagem da sala de ordenha para fertirrigação de plantas e instalação de um sistema de captação de água da chuva, além da instalação de hidrômetros”, destaca.
Exemplo
No município de Descalvado, a 250 quilômetros de São Paulo, a Fazenda Agrindus reaproveita os efluentes gerados na limpeza das instalações para a fertirrigação (são aproximadamente 30% de água por unidade produzida). “Utilizamos cerca de dez litros de água por litro de leite, mas com 100% de reuso em irrigação de alimentos, que retornam ao gado”, informa o proprietário, Roberto Jank Junior.
O pecuarista também aderiu à captação de água da chuva, reuso integral de águas servidas e irrigação noturna “para fazer a gestão adequada e consciente dos recursos hídricos”. Na fazenda, os telhados são compostos por calhas de captação e condutores de água da chuva, que é aplicada na lavagem dos galpões.
A mesma água da limpeza da sala de ordenha também vai para a fertirrigação das plantas. “Toda a água de limpeza dos confinamentos de vacas, novilhas e bezerras é captada. Após passar por uma peneira, onde se retira parte do esterco sólido, a água passa por lagoas de tratamento, com retenção de quase 20 dias para depois fertirrigar uma área de agricultura e capim. A lâmina de água e os nutrientes aplicados são monitorados continuamente”, relata Jank.
A pesquisa
No centro de ordenha da Fazenda Canchim, localizada no município de São Carlos (SP), sede da Embrapa Pecuária Sudeste, estudos em eficiência hídrica, que começaram há dois anos, tratam da validação de manejos, processos e tecnologias para melhor gestão da água.
Para medir a quantidade consumida, segundo a estatal, foram instalados três hidrômetros. Com eles, foi registrada uma economia diária de aproximadamente 200 litros de água, só com o manejo das ordenhadeiras e mangueiras. Esta economia equivale ao volume de água consumido pelos animais, antes e depois do processo de ordenha.
Consumo dos animais
Mesmo com reuso da água na sala de ordenha, é necessário que o pecuarista garanta a qualidade deste recurso no que diz respeito ao consumo dos animais, respeitando sua qualidade por meio da análise dos níveis de salinidade, alcalinidade e presença de nitratos e compostos tóxicos, que podem prejudicar a saúde do rebanho.
A Embrapa Sudeste orienta os produtores rurais para que mantenham os bebedouros sempre limpos, com limpeza diária, se possível, mas nunca deixando passar de três a quatro dias.
Ainda conforme a estatal, em média, uma vaca leiteira precisa de quatro litros de água para produzir um quilo de leite. Por isto, o monitoramento do consumo de alimentos também é uma alternativa para controlar o de água.
“A diminuição do consumo de alimentos pode indicar queda na ingestão de água. Se o consumo de água cair, o produtor deve fornecê-la a partir de uma fonte reconhecidamente boa. Se os animais voltarem a se alimentar normalmente, há grande chance de haver problemas de qualidade com a fonte regular de água e, neste caso, é preciso enviar uma amostra ao laboratório para análise”, orienta o pesquisador Júlio Palhares.
Mais recomendações
Outra recomendação feita por ele é evitar que o gado beba, de forma direta, a água de rios, córregos, lagos e lagoas. Para tanto, é preciso ser observado o fechamento dos poços como forma de evitar a contaminação. Eles também devem ser construídos no lugar mais alto da propriedade rural, distante de áreas de enchentes e de fontes de poluição, como pocilgas, estábulos e fossas.
A instalação de hidrômetros também serve para monitorar a ingestão de água pelos animais e o gasto geral deste recurso. “É necessário que o produtor realize a manutenção do sistema de condução para conservação da limpeza e eliminação de vazamentos; e que utilize mangueiras que possibilitem o controle da vazão e o fechamento do fluxo. O ideal é usar de equipamentos de água sob pressão. Enfim, a informação e o conhecimento determinam a qualidade dos manejos e a capacidade de internalização de boas práticas”, destaca o pesquisador.