Um dos objetivos é traçar um panorama da pesca para que possa servir como instrumento-base para futuros planos de uso, manejo e gestão da exploração dos moluscos bivalves (ostra, mexilhão, sururu, berbigão e almeja)
O projeto “Biologia e Etnociências: o que sabemos sobre os moluscos bivalves explorados no litoral do Paraná?”, coordenado pela bióloga e docente Yara Aparecida Garcia Tavares da Universidade Estadual do Paraná, está avaliando os dados do Monitoramento da Atividade Pesqueira no Estado do Paraná.
Um dos objetivos é traçar um panorama da pesca para que possa servir como instrumento-base para futuros planos de uso, manejo e gestão da exploração dos moluscos bivalves (ostra, mexilhão, sururu, berbigão e almeja). O projeto foi desenhado principalmente pela preocupação sobre a inexistência, até então, de dados oficiais sobre a extração desses animais e suas consequências sobre os ecossistemas estuarinos.
O litoral paranaense terá os primeiros registros sobre as dinâmicas destas pescarias, o que contribui significativamente para o desenvolvimento de mecanismos que permitam adequações na gestão pesqueira em âmbito regional e nacional, bem como o aprofundamento das pesquisas sobre a biologia das espécies e a pressão das capturas sobre esses recursos vivos.
“A pressão das capturas, as mudanças na qualidade dos habitats aquáticos e o desconhecimento biológico sobre esses recursos vivos explorados são fatores a serem monitorados a curto e médio prazo”, afirma a bióloga. “Nas últimas duas décadas, a crescente atividade turística, a degradação dos habitats costeiros são fatores que comprometem o frágil equilíbrio sócio-econômico-ambiental. Além disso, o modo de vida dos pescadores e sua relação com os ecossistemas existentes devem ser valorados, pois compõe parte de um cenário corriqueiro, ainda que com particularidades regionais, para toda a linha de costa brasileira”, avalia.
A pesquisadora aponta que os moluscos bivalves também são importantes organismos bioindicadores da qualidade ambiental. O descarte irregular de água residual e esgoto, bem como poluentes na bacia hidrográfica litorânea, trazem riscos às características naturais e à qualidade dos habitats.
“Impactos antrópicos como fluxo de embarcações, avanço das habitações na linha costeira, descarte de lixo, degradação da vegetação de manguezais e marismas das planícies lamosas que margeiam o complexo estuarino Baía de Paranaguá, também são condições que podem afetar a capacidade de sobrevivência das populações naturais de bivalves e precisam ser amplamente debatidas”, avalia.
O desequilíbrio dos ecossistemas também traz risco adicional à saúde das populações caiçaras e urbanas, uma vez que parcela significativa da proteína animal consumida provém de produtos da pesca (peixes, crustáceos e moluscos).
Projeto
A proposta do projeto, que tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é fomentar o conhecimento acadêmico e difundi-lo para a sociedade, como forma de sensibilização para a exploração sustentável dos recursos renováveis. As ações da iniciativa pretendem atingir atores variados, como corpo técnico de instituições governamentais, acadêmicos e pós-graduandos das áreas das Ciências da Natureza, profissionais de áreas afins, associação de pescadores e maricultores e comunidades em geral.
“A visão de conservação dos ecossistemas costeiros deve estar atrelada à sensibilização ambiental do homem, caiçara ou não, do meio que o cerca”, aponta a pesquisadora.
O projeto tem duração prevista de três anos. A partir do segundo ano (meados de 2021), serão produzidas duas cartilhas sobre as espécies de moluscos comercialmente exploráveis, na tentativa de popularizar um conhecimento de biologia básica junto às comunidades.
O material será produzido em formato digital e impresso, para amplificar a divulgação. Com o material pronto, algumas capacitações com os agentes do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) serão realizadas, para que possam transmitir esse conhecimento aos pescadores. Ao final do projeto, duas exposições serão organizadas, uma itinerante, destinada às escolas e comunidades, e outra sobre a arte da pescaria desses recursos, que será realizada no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Moluscos bivalves
Os moluscos bivalves são animais invertebrados aquáticos, sendo muitas espécies comestíveis e conhecidas popularmente como ostras, mariscos, mexilhões, sururus, berbigões, vieiras, entre outros. Os organismos utilizados para alimentação podem ser cultivados tanto no ambiente marinho como estuarino, a depender da biologia da espécie.
Mundialmente os maiores países produtores ainda concentram-se na Ásia, Europa e EUA. No Brasil, a atividade ainda tem grande potencial de desenvolvimento, desde que seja realizada de forma sustentável. Os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro estão entre os principais produtores.