Frutinha tem cem vezes mais vitamina C que a laranja e dez vezes mais em comparação à goiaba
O elevado teor de vitamina C, bioflavonoides e carotenoides asseguram à acerola (Malphigia glabra L.) propriedades antioxidantes, fundamentais para manter os níveis de colesterol equilibrados e controlar a saúde da pele. Algumas de suas variedades chegam a ter cinco mil miligramas por cada cem gramas de vitamina C — cem vezes mais que o conteúdo encontrado na laranja ou dez vezes em relação à goiaba, duas frutas com alto teor deste nutriente.
Também conhecida como “cereja das Antilhas” ou “cereja de bárbaros”, esta poderosa superfruta foi tratada como segredo de Estado ao ser trazida para o Brasil, no ano de 1956, exatamente por causa de seu elevado valor nutricional. Quase 30 anos depois, em 1984, graças ao trabalho desenvolvido pelo Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, foram plantadas 245 sementes desta fruta, mas somente dez germinaram e se transformaram em plantas produtivas. Ainda nos anos 80, a UFRPE patrocinou e desenvolveu uma campanha de conscientização sobre os poderes nutricionais da acerola e suas possibilidades de utilização.
Histórico
A aceroleira é uma planta originária das Antilhas e cultivada em escala comercial em Porto Rico, Havaí, Jamaica e Brasil. Possui entre dois e quatro metros de altura, com ramificação compacta ou espalhada. Sua frutinha delicada pode ser bem atrativa por causa do gosto agradável, principalmente para pessoas que preferem um gosto mais ácido. No entanto, seu sabor pode variar conforme a cultivar (leia mais abaixo).
É fonte riquíssima de vitaminas A e C, ferro, cálcio e vitaminas do Complexo B (tiamina, riboflavina e niacina). Pode ser consumida tanto in natura como industrializada, sob a forma de doces em caldas, geleias, licores, sorvetes, sucos, xaropes etc.
Segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a área cultivada no Brasil é estimada em cerca de dez mil hectares, com destaque para Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco, que, juntos, detêm 60% da produção nacional de acerola. A maior parte dos pomares é cultivada a partir de mudas originárias das sementes. Por isto, elas têm grande variabilidade genética quanto à arquitetura da copa, consistência e tamanho do fruto, cor, porte, produtividade, rendimento de polpa e sabor.
Dificuldades
Na quase totalidade dos pomares em território nacional, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma mescla acentuada de tipos e formas de plantas é observada. Este fato tem causado sérias dificuldades para os produtores de acerola, porque a ausência de uniformidade das plantas acarreta em perdas de produtividade do pomar e de qualidade dos frutos.
Ainda segundo a estatal, é comum encontrar, no mesmo pomar, plantas com hábitos de crescimento diferentes umas das outras, além de árvores que produzem frutos em cachos e isolados com tamanhos, formatos e colorações diferentes. Por isto, orienta a Embrapa, “é importante que os pomares sejam formados a partir de variedades bem definidas, portadoras de características agronômicas e tecnológicas adequadas à finalidade a que se destinam”.
Aspecto
Segundo o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf ), a acerola é vista pelo mercado como uma superfruta, por causa do alto valor nutricional. No campo e na pesquisa, é tratada como pequena fruta. Arredondada e quase esférica, ela tem uma cor forte quando madura, variando entre os tons alaranjado e púrpura.
Possui sabor levemente ácido e perfume parecido com o da maçã. No Estado de São Paulo, de acordo com o Ibraf, a acerola mais fresca pode ser encontrada de outubro a março, ou congelada, durante todo o ano.
Na hora de comprá-las, o Instituto orienta a escolher os frutos perfeitos, sem manchas ou rachaduras na casca. Ainda informa que a acerola pode ser congelada inteira ou em polpa, para que seja conservada por mais tempo.
Esta superfruta é classificada como doce ou ácida. De acordo com o Sebrae Mercados (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), os atuais clones (cultivares) disponíveis para plantio são selecionados considerando seus teores vitamínicos, ou seja, seus frutos produzem mais que mil miligramas de ácido ascórbico (substância que forma a vitamina C) por cem gramas de suco, fato que é considerado bastante satisfatório.
Mercado
Segundo o Sebrae Mercados, o produtor de acerola deve planejar o investimento da cultura com foco no destino de sua produção. Como o consumo fresco é restrito, ele deve pré-definir para onde vão as frutas, ou seja, qual indústria irá absorvê-las. Por causa da elevada perecibilidade, os plantios devem estar mais próximos a estes destinos, evitando o transporte a longas distâncias.
Conforme a instituição, as indústrias exigem frutos com mais de 80% de coloração rosada, “virando para o vermelho”, com mais de 15 milímetros de diâmetro, peso mínimo de quatro gramas por fruto, boa firmeza e ausência de ferimentos.
Pesquisas
Há quase 15 anos, a Embrapa vem pesquisando novas cultivares de acerola, com o objetivo de buscar variedades mais doces. Isto porque esta superfruta tinha (ainda tem, dependendo da variedade) alto índice de acidez e são muito mais perecíveis. Neste caso, geralmente são mais bem aproveitadas na indústria, no processamento de fármacos, polpas e sucos.
Para a estatal, com o mercado restrito ao processamento nas indústrias, os preços praticados no mercado de acerola nem sempre remuneram bem aos agricultores. Diante do cenário, eles acabam bancando custos muito elevados na produção desta cultura.
Na Embrapa Semiárido (PE), pesquisadores continuam trabalhando em estudos com o objetivo de ampliar o mercado de acerola no País, tornando-a uma opção mais promissora para as áreas irrigadas do Semiárido brasileiro. “Embora os benefícios nutricionais da fruta sejam amplamente conhecidos do público em geral, sobretudo sua extraordinária quantidade de vitamina C, a acidez excessiva desestimula o consumo da acerola fresca”, afirma o pesquisador Flávio de França Souza.
Cultivares
Para incrementar o mercado da acerola, a Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) lançou, em 2002, a variedade Cabocla, a primeira destinada especialmente ao consumo como variedade de mesa desta superfruta. Naquela ocasião, a cultivar foi apresentada depois de quase 50 anos da chegada, ao Brasil, das primeiras sementes de acerola.
Dois anos mais tarde, a mesma unidade da estatal lançou a acerola Rubra, desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético de Acerola. Os testes, que começaram em 1994, resultaram na nova variedade, que tinha como objetivo atender à demanda dos mercados interno e externo, tanto para indústria de processamento quanto para consumo de acerola fresca (in natura).
Os frutos da variedade Rubra têm um leve sabor de maçã, tamanho médio, alta firmeza, casca lisa de cor vermelha, polpa amarela e boa palatabilidade (menos ácida). Assim como as demais, este tipo de acerola contém alto teor de vitamina C (superior a mil miligramas de ácido ascórbico por cem gramas de polpa), o que possibilita seu aproveitamento pela indústria.
Pesquisas também vêm analisando o aproveitamento do pó de acerola verde como fonte natural de vitamina C. Como o teor deste nutriente decresce com o amadurecimento do fruto, estudiosos estão testando a secagem (desidratação) e o encapsulamento do pó da fruta verde, utilizando-o para enriquecimento de alimentos ou complementos vitamínicos.
Cultivo
O Sebrae Mercados aponta que a cultura da acerola é perfeitamente adaptável aos sistemas de irrigação por aspersão convencional do tipo sobrecopa, pivô central; por sulcos com declive ou sulcos curtos, fechados e nivelados; por gotejamento; e por tubos perfurados (xique-xique). “De modo geral, os sistemas de irrigação por sulcos e por gotejamento são indicados para os solos argilo-arenosos; já os de aspersão convencional e pivô central prestam-se melhor aos solos arenosos e areno-argilosos”, relata a instituição.
A orientação é que o plantio seja feito quando a muda atingir de 30 a 40 centímetros de altura. Cada planta é amarrada a um tutor para orientar seu crescimento e esta amarração não deve ser feita com barbante ou cordão, mas com uma fita que tenha uma área de contato larga, como forma de evitar o estrangulamento da muda. Depois do plantio, se não chover, é necessário fazer regas leves e frequentes, levando em conta o tipo de solo e o sistema de irrigação empregado pelo produtor rural.
O clima ideal para o cultivo, indica o Sebrae Mercados, gira em torno de 26º C, com 1,2 mil a 1,6 mil milímetros de chuvas. Dependendo da fertilidade da terra e do manejo, o espaçamento de cada planta pode variar entre cinco por cinco metros e seis por seis metros.
De acordo com a instituição, espaçamentos menores também são possíveis, dependendo do terreno e dos tratos culturais, adotando a medida de quatro por quatro metros. Com este espaçamento e irrigação, é possível alcançar melhor produtividade, com 625 plantas por hectare e produção de até cem quilos de acerolas por planta ao ano.
Mudas
A aceroleira pode ser propagada por sementes, estaquia e enxertia, mas o primeiro caso é o mais comum, destaca o Sebrae Mercados. As mudas, a partir de sementes, são formadas em canteiros com 15 centímetros de altura, 1,20 metro de largura e comprimento variável.
Na propagação da fruta por meio de estacas, são usadas as pontas dos ramos vigorosos das plantas jovens. As mudas, propagadas por estaquia e enxertia, devem ser compradas de entidades ou produtores credenciados e idôneos.
Pragas e doenças
Em relação às doenças e pragas, o Sebrae Mercados destaca que a aceroleira apresenta poucos problemas, mas pode ocorrer o surgimento de cochonilhas e pulgões, que costumam atacar os ramos e folhas.
Para evitar o prejuízo causado por estas pragas, a sugestão é que seja feito o controle da mosca-das-frutas. Já as doenças mais comuns são a cercospora ou Mancha-das-Folhas, verrugose e antracnose.
Colheita e transporte
A colheita dos frutos da aceroleira, que serão consumidos in natura ou seguirão para o processamento de sucos com foco na exportação, deve ser muito criteriosa. Para tanto, é necessário que os trabalhadores rurais sejam adequadamente treinados. As acerolas destinadas a mercados distantes devem ser colhidas “de vez”. É importante também evitar que as frutinhas sofram pancadas ou ferimentos na hora de colhê-las e transportá-las do campo ao galpão de separação, no momento da seleção e até do embalamento. Isto porque a falta de cuidado pode acelerar sua deterioração. É importante ainda ficar atento ao acondicionamento das frutas, principalmente as maduras, que precisam ser colocadas nas caixas de colheita em poucas camadas, pois o peso das camadas superiores pode provocar o rompimento da casca das acerolas que estão abaixo.