As frutinhas podem ser grandes aliadas da alimentação mais saudável, em tese, por causa do alto valor nutritivo. Termo mais mercadológico, no setor agrícola brasileiro elas são tratadas como pequenas frutas ou berries
Diferentes e saborosas, a maioria bem pequena e algumas ainda pouco conhecidas pelos brasileiros. Apesar disto, o mercado das superfrutas vem ganhando adeptos, principalmente pessoas que buscam melhor qualidade de vida, optando por alimentos com altos valores nutricionais. É exatamente por isto que a maior parte delas é mini só no tamanho.
Segundo o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf ), ainda não há dados concretos deste setor específico da fruticultura no País, até por ser bem recente. É certo, no entanto, que ele se encontra em franco crescimento, impulsionado especialmente pelo mercado fitness.
“Superfruta é um novo conceito mercadológico (marketing), não científico. Geralmente, elas são agrupadas considerando determinadas características que as diferenciam do universo das demais, aliando parâmetros nutricionais e potenciais de comercialização”, relata Moacyr Saraiva Fernandes, presidente da instituição.
Na lista de superfrutas estão incluídas, entre várias: açaí, acerola, amora-preta, camu-camu, cranberry, goiaba vermelha, guaraná, morango, mirtilo (blueberry), pitanga, cereja, groselha, romã, uva concord e mangostão.
Comprovação científica
Ao tratar delas, ainda é necessário ter cuidado, pois alguns especialistas do setor agrícola — e até mesmo da área de saúde — salientam que muitas de suas propriedades nutricionais ainda não são, cientificamente falando, 100% atestadas. No campo, são tratadas como pequenas frutas ou berries (terminologia inglesa), frutas vermelhas ou frutas exóticas. É o que explica o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael, proprietário da empresa Viveiro Frutopia, em São Bento do Sapucaí (SP).
“Geralmente, elas estão relacionadas às bagas, ou berries, que se referem aos pequenos frutos”, reforça. Do ponto de vista mercadológico, são intituladas de superfrutas “por causa de suas características nutracêuticas, com elevados teores de antioxidantes, compostos fenólicos e vitaminas”.
“No mercado consumidor também são conhecidas como frutas vermelhas ou pequenos frutos; pelos pesquisadores, são frutos de baga ou exóticas; e pelos produtores rurais, em geral, são chamadas de berries ou pequenas frutas”, esclarece Ismael.
Família das Rosáceas
Engenheiro agrônomo da Central de Abastecimento do Estado de São Paulo (Ceagesp), Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida destaca que a maioria das pequenas frutas, as berries, é do tipo temperada. “Quase todas são da família das Rosáceas — a mesma da rosa, maçã, pera e do pêssego —, exceto o mirtilo. Mas são todas pequenas, delicadas, costumam concentrar compostos fenólicos e são muito perecíveis”, aponta.
Ele relata que as frutas de bagas, de modo geral, incluem aquelas que possuem várias sementes e polpa carnosa, a exemplo do tomate, goiaba, citros etc. Já as frutas com caroço, que também podem ser consideradas pelo “marketing” do setor como uma superfruta, é do tipo drupa, tais como abacate, ameixa, azeitona, manga, pêssego, entre outras.
Para Almeida, o termo superfruta é um conceito bem novo. “Em grosso modo, seriam frutas com muitos compostos ativos. Entrariam aí as berries ou pequenas frutas (temperadas), mas também várias tropicais, como açaí, camu-camu e pitanga. É preciso, no entanto, ter bastante cuidado (quando se fala em propriedades nutricionais), porque ainda falta muita comprovação científica”, alerta o engenheiro agrônomo da Ceagesp.
Valor nutricional
Conforme relatório do Ibraf, divulgado recentemente, “em tese”, as superfrutas teriam alto valor nutricional e grande poder antioxidante, que ajudariam a combater os radicais livres, trazendo benefícios para a saúde humana.
“De modo geral, as superfrutas possuem compostos fisiologicamente ativos, conhecidos como nutracêuticos. Apresentam valores além dos aspectos de nutrição e saúde, incluindo novos sabores, conveniência de uso e segurança de suprimento. Elas têm características que favorecem as estratégias eficazes de promoção da saúde”, pontua o presidente do Instituto, Moacyr Saraiva Fernandes.
Outras superfrutas, que também têm ganhado o mercado nacional e internacional, são a cranberry — conhecida no Brasil como oxicoco ou uva-dos-montes, mas não cultivada por aqui —, gojiberry, mangostão, uvas Muscadínias (muscadine grape), entre outras. Muitas delas são comercializadas sob a forma de sucos, geleias e até em cápsulas — neste caso, pelo setor fármaco.
Clima brasileiro
Segundo o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael, da empresa Viveiro Frutopia, em território nacional, algumas superfrutas não são cultivadas ainda, principalmente por causa do clima brasileiro, que é mais quente. “No Brasil podemos encontrar, ainda que incipientes, cultivos de framboesas, amoras, mirtilos, pitangas, romãs, jabuticabas, araçás, entre outras. A cranberry, por exemplo, ficou mais conhecida por causa de seu poder anti-inflamatório, mas não é plantada em terras brasileiras, porque requer muitas horas de frio para que haja o florescimento.”
No Viveiro Frutopia, o cultivo de mudas de cranberry vem sendo testado, há alguns anos: “Em nosso viveiro, estamos testando algumas matrizes, com uso da cultivar “Black Cap”, mas não analisamos ainda sua viabilidade”.
Ismael cita que, atualmente, a gojiberry encontra-se bastante difundida entre os colecionadores de plantas e produtores rurais. Outro exemplo é o mangostão, que pode ser cultivado por aqui, pois o clima que o fruto exige é semelhante ao do Brasil. “Muitas vezes, o que falta é a disponibilidade de material genético para o cultivo de frutas diferenciadas”, critica.
De acordo com o engenheiro agrônomo, outras uvas, como as Muscadínias, também são muito procuradas como superfrutas, principalmente em seu país de origem, os Estados Unidos. “Aqui, já existem alguns trabalhos com elas”, resume.
Morango
A mais famosa das superfrutas e certamente, nesta categoria, a mais produzida no Brasil é o morango (Fragaria vesca), com uma área plantada que gira em torno de quatro mil hectares. Estima-se que a produção anual seja de aproximadamente 105 mil toneladas por ano. Além do Distrito Federal, os principais Estados produtores são Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
O morango é considerado uma superfruta por causa dos seus nutrientes (ácido elágico, fibras, fisetina, fósforo, magnésio, potássio etc.), que ajudam a prevenir danos nas células e reduzem a ameaça de tumores nos órgãos da digestão; agem como antioxidante, prevenindo contra a arteriosclerose e o envelhecimento da pele; controlam o colesterol, ajudam o intestino a funcionar bem; afastam o risco de diabetes; entre outros benefícios.
De acordo com a Embrapa Clima Temperado (RS), o morango, que é bastante apreciado no mundo inteiro, podendo ser consumido in natura ou industrializado, integra um grande mercado nas principais economias mundiais. No Brasil, de modo geral, esta cultura é cultivada em pequenas propriedades rurais que dedicam, normalmente, até um hectare para o plantio, utilizando mão de obra familiar durante todo o ciclo.
Amora-preta
Fruta ainda pouco consumida e comercialmente bem cara, mas que carrega delicadeza e potencial nutricional recomendados por especialistas da área de saúde, destaca-se a amora-preta. A pequena fruta é muito utilizada para ornar os “bolos pelados” ou nakedcakes, muito em moda atualmente.
A amora-preta (Morus nigra L.), embora seja considerada uma fruta pouco cultivada, com destaque para a região Sul do Brasil, está presente em algumas pequenas propriedades. “A cultura da amoreira-preta é destinada aos agricultores familiares, porque é possível agregação de valor ao produto, maior aproveitamento da terra, podendo contar com a família no manejo, pois precisa de bastante mão de obra”, comenta a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, da Embrapa Clima Temperado.
Há muitos anos, ela se dedica a novas pesquisas com esta pequena e saborosa fruta. “Por meio do melhoramento genético da amora-preta, os estudos possibilitam lançar, no mercado, variedades com características desejáveis para a mesa e para a indústria”, diz Maria do Carmo. A BRS Xingu é o último lançamento (veja mais detalhes em outra matéria desta edição de A Lavoura).
Jabuticaba
Conhecida há mais de 400 anos e 100% nativa da Mata Atlântica brasileira, a jabuticaba (Myrciaria sp.) é encontrada em várias regiões do País. De acordo com a Embrapa Florestas (PR), a polpa desta superfruta é rica em zinco, manganês, magnésio e potássio.
A semente e a farinha produzidas a partir dela são abundantes em fibras alimentares, além de serem fontes de proteína. A casca ainda contém compostos antioxidantes e manganês (nutriente associado à formação de ossos e cartilagens, ao crescimento e reprodução, além do metabolismo de açúcares de gorduras).
Tudo dela é aproveitável: além da fruta da jabuticabeira ser bastante saborosa, a árvore fornece madeira para a fabricação de tábuas e móveis, na construção e na produção de lenha.
A Embrapa Florestas, por meio dos projetos Rede ConservaBio e ConservaBio II, e mais recentemente com o apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), vem realizando mais pesquisas sobre os valores nutricionais desta superfruta.
Devido à dificuldade de se realizar a colheita, ela é cultivada quase que, exclusivamente, em pomares domésticos e pequenas plantações. Para mais detalhes do projeto, acesse http://ow.ly/rEAh301BYYs (link encurtado).
Cereja
Os frutos da cerejeira (Eugenia involucrata) são próprios para o consumo humano e muito saborosos, com polpa suculenta e agridoce. Com a cereja, é preparada uma série de receitas deliciosas. Além de consumida in natura, ela pode ser utilizada na elaboração de doces, geleias e licores.
No Brasil, segundo a Embrapa Florestas, a cerejeira é amplamente cultivada em pomares domésticos por toda a região Sul do País, principalmente entre os colonos teuto-brasileiros. Em São Leopoldo (RS), há informações de que a cerejeira tenha produzido frutos, regularmente, nos últimos dois séculos.
Seu cultivo requer solos de fertilidade química alta, bem drenados e de textura areno-argilosa, não vegetando em solos úmidos. Esta espécie vai bem em solos graníticos até os eruptivos, sedimentares e os aluvionais.
A frutificação das cerejas maduras ocorre de setembro a novembro, no Estado de Paraná; de outubro a dezembro, em Rio Grande do Sul; de novembro a dezembro, em Santa Catarina e no Estado de São Paulo; e de dezembro a janeiro, em Minas Gerais. Os eventos da frutificação concentram-se em setembro e outubro, no início do período das chuvas.
Conforme a Embrapa Florestas, a frutificação em exemplares cultivados em solo fértil aparece do sexto ao sétimo ano. Uma cerejeira pode produzir acima de mil frutos por safra, por até 200 anos.
Os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore, quando iniciarem a queda espontânea, ou recolhidos no chão, após caírem. Em seguida, devem ser despolpados manualmente em água corrente, em uma peneira. Após a extração, as sementes precisam ser postas para secar em área de sombra.
A cereja é considerada uma superfruta por causa dos seus nutrientes: possui vitaminas A, B1, B2, B5 e C. Além de contar com 231 miligramas de potássio, ela também possui a cada cem gramas: fósforo, sódio, cálcio, enxofre, silício, magnésio, cloro e ferro, ácido elágico, além de proteínas, amidos e açúcares.
Também possui betacaroteno, pectina (fibra solúvel que ajuda a controlar os níveis de colesterol no sangue), quercetina (flavonoide com ação anticarcinogênica e antioxidante) e cianina (propriedades anti-inflamatórias que podem reduzir o inchaço e as dores causadas pela doença).
Cranberry
Uma das superfrutas mais consumidas no Brasil, principalmente sob a forma de sucos e geleias e, provavelmente, a única que não é produzida por aqui, é a cranberry (Vaccinium macrocarpon). “Ela é muito utilizada em cápsulas, sucos, entre outras formas. Vale destacar que sua maior produção ocorre no Nordeste dos Estados Unidos e no Sul do Chile”, informa o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael.
A cranberry é uma “parente” do mirtilo (blueberry), mas como exige um clima bem frio, não foi implantada ainda, no Brasil. “Mesmo que nosso País venha a produzir a cranberry, será difícil competir com as nações tradicionais neste cultivo, pois, além da questão climática, existem fatores como qualidade genética e também tecnologias avançadas de plantio, que dificultariam o sucesso desta cultura por aqui”, avalia o agrônomo.
Groselha
Nativa da Índia e de Madagascar, a groselha (Ribes nigrum) é uma superfruta muito usada na produção de gelatinas, pastilhas, sucos, xaropes e até na fabricação de remédios. A groselheira exige um clima mais frio, daí seu cultivo ser mais adequado no Sul do País; além de solos bem drenados, com proteção contra os raios solares.
É considerada uma superfruta por causa de suas propriedades antissépticas, depurativas, diuréticas, laxantes e tônicas. Contém vitaminas A e C, potássio e ferro. Ainda é recomendada para combater inflamações gastrointestinais e diversas afecções cutâneas.
De acordo com o site Frutas no Brasil, para o plantio, o espaçamento entre as plantas, que devem ser cultivadas pelo sistema de estaquia, deve ter de quatro a cinco metros de uma para outra, com seis a oito metros entre linhas. A cobertura deve ser feita conforme o tipo da terra. Vale ressaltar que estaquia é um método muito usado para a propagação de arbustos ornamentais e propagação comercial para estufas e para fruticultura.
As podas da groselheira são realizadas depois do quarto ano do plantio; e a colheita, quando os cachos já estiverem maduros, após cinco a sete anos. Para maior conservação, o corte do cacho inteiro é a forma indicada.
Mangostão
O mangostim ou mangostão (Garcinia mangostana L.) é proveniente de uma árvore frutífera tropical de mesmo nome. É uma fruta típica do Sudeste Asiático. No Brasil, de acordo com a Embrapa Amazônia Oriental (PA), foi introduzida no ano de 1935 e, atualmente, é cultivado nos Estados da Bahia e Pará, em uma área estimada de 350 hectares, com uma produção de 300 toneladas.
O período de frutificação do mangostanzeiro varia de acordo com as condições climáticas. No Estado do Pará, o principal período de colheita estende-se de janeiro a maio e uma colheita menor ocorre em agosto e setembro. Na Bahia, a safra principal acontece, geralmente, em março e abril e outra colheita em agosto.
É apontado como uma superfruta por conter vitamina C e potássio. Rica em pectina, a casca do mangostão, quando seca e moída, é ministrada como medicamento, por causa de suas características adstringentes, utilizadas contra disenterias e diarreias crônicas. As fibras encontradas nesta fruta atuam na redução da absorção de glicose sérica pós-prandial, nas dietas abundantes em carboidratos. Os produtos com muitas fibras têm ganhado destaque e estimulado pesquisadores da área de alimentos a estudar novas fontes e a desenvolver produtos funcionais.
Conforme orienta a Embrapa Amazônia Oriental, o preparo da área para plantio do mangostão exige planejamento quanto à utilização de consórcio com outras plantas que possam, ao mesmo tempo, fornecer sombra, necessária ao desenvolvimento inicial, e também proporcionar alguma renda durante o período vegetativo. Em termos de sombra, a bananeira é ótima alternativa para desenvolvimento da planta nos quatro primeiros anos do mangostanzeiro. Outras espécies de produção precoce (pimenteiras, mamoeiros, araçazeiros e pitangueiras) também podem ser usadas.
Para mais informações, acesse http://ow.ly/4Ynd301n4Ab (link encurtado).
Camu-camu
Também considerada uma superfruta, a camu-camu (Myrciaria dubia H.B.K. McVaugh) é pequena e pesa em média oito gramas. De acordo com a Embrapa Amazônia Oriental, ela cresce nas várzeas dos rios, principalmente na época das cheias. É grande fonte de vitamina C, superando o teor da acerola em 20 vezes e o do limão em cem vezes.
Esta unidade da estatal começou uma pesquisa, em 2008, para melhoramento genético do camucamuzeiro e atualmente dez clones estão sendo avaliados em três localidades paraenses. “A pesquisa busca selecionar aqueles frutos mais produtivos e com maiores índices de ácido ascórbico e antocianina”, salienta Walnice Nascimento, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
Ela estima que, até o ano que vem, o centro de pesquisa poderá lançar os clones de camucamuzeiro, indicados para diferentes regiões do Estado de Amazonas.
Investigação
Na empresa Viveiro Frutopia, o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldo Ismael cultiva mudas de algumas superfrutas, sendo que a maioria delas é comercializada para o Sul do País, onde o clima é mais frio. “Temos feito experimentos com o objetivo de obter variedades mais produtivas e que produzam frutos de qualidade. Somente com a cranberry, ainda não obtivemos resultados interessantes, mas sigo investigando”, salienta.
“Em nosso viveiro, já conseguimos produzir pequenas quantidades de groselha. O problema é que, normalmente uma avaliação leva pelo menos dez anos de testes e de investigação, para que se possa concluir se é ou não viável seu cultivo em maior escala, no Brasil”, salienta o engenheiro agrônomo.
Na lista de superfrutas, Ismael cita algumas que têm mercado promissor em território nacional: “A maqui berry (Aristotelia chilensis), uma frutinha nativa da Patagônia chilena, assim como o calafate (Berberis buxifolia), nativo da Patagônia argentina. Também vale citar o gumi (Elaegnus umbelatta), que possui 70 vezes o teor de licopeno em relação ao tomate. Neste último caso, a fruta já é bastante difundida na região da Mantiqueira”.
Manejo das pequenas frutas
Para cultivar pequenas frutas, por serem muito delicadas, é necessário conhecer o manejo no campo, porque elas se diferenciam das frutas convencionais.
“Cada cultura exige um manejo específico, a começar pelo tipo de solo, insolação, manuseio de podas, adubação, entre outros. São muitas as variáveis que fazem, do plantio de pequenos frutos, um cultivo mais elaborado. E é exatamente por isto que elas têm alto valor no mercado”, diz Ismael.
Poderosas
Na visão do presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf ), Moacyr Saraiva Fernandes, “a tendência do mercado de superfrutas é de crescimento sustentado, pela perspectiva de aumento ascendente da demanda interna, pelas boas expectativas de exportação e por elas serem cultivares rentáveis, principalmente, em pequenas propriedades”.
“Também existe uma grande diversidade de produtos industrializados, que tendem a uma busca muito forte pelas superfrutas”, afirma o presidente do Ibraf. De acordo com ele, “devemos destacar que, fora a demanda como alimentos, a busca pelo setor de fármacos e de suplementos está carecendo das superfrutas na forma de extratos, pós, liofilizadas, entre outros”.
“O objetivo do setor fármaco e de suplementos no País é compor suas formulações. Inúmeros setores — como o lácteo, bebidas, cereais, panificação etc. — também têm optado por elas, na hora de fabricar seus produtos”, relata Fernandes.
Consumo e divulgação
A fruticultura diferenciada tem muito lugar para crescer no País, segundo avaliação do engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael: “Há um enorme espaço para este segmento, a exemplo dos Estados Unidos. Problema é que nós, brasileiros, não consumimos nem 2% do que os norte-americanos consomem, anualmente, sendo que a demanda por estas pequenas frutas, no Brasil, é imensa. Acredito que os preços, praticados aqui, ainda sejam muito altos, justamente pela falta de oferta”.
Ainda em sua opinião, também falta divulgação dos valores nutricionais das superfrutas no País. “Uma das maneiras de tornar os efeitos benéficos destas pequenas frutas mais conhecidos é pela mídia, como esta iniciativa da revista A Lavoura. Também precisamos aumentar a oferta para que possamos fazer os ajustes necessários, de forma que o consumidor tenha mais acesso a elas. E, é claro, prescindimos do apoio dos órgãos de pesquisa, para disponibilizar plantas melhoradas e técnicas adequadas aos produtores rurais”, destaca Ismael.
Agronegócio
A fruticultura, certamente, é um dos setores de maior destaque do agronegócio nacional, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Por meio de uma grande variedade de culturas, produzidas em todo o Brasil e em variados
tipos de climas, a cada ano, o segmento conquista resultados expressivos, trazendo novas oportunidades, principalmente, para os pequenos agricultores e empresários.
O Sebrae Mercados aponta que, no cenário internacional, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, ficando atrás somente da China e da Índia, “o que deixa claro a relevância da fruticultura para a economia brasileira”.
“As superfrutas são uma oportunidade de mercado brasileiro e os produtores internacionais estão de olho em nós. Devemos preencher este espaço, desenvolvendo nossa tecnologia e nos preparando para promover nossos produtos”, afirma Luciana Pecegueiro Furtado, da unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros da instituição.
Preços
Em relação aos preços, nem sempre mais altos que os das frutas convencionais, o presidente do Ibraf, Moacyr Saraiva Fernandes, salienta que os valores das superfrutas e seus derivados não seguem um padrão único. “No entanto, é importante considerarmos que, à medida que a população brasileira vai reconhecendo os benefícios destas frutas, com certeza, elas serão cada vez mais valorizadas.”
Para exemplificar a questão de preço de uma superfruta no varejo, ele cita a goiaba vermelha, que é utilizada para várias finalidades, e também vendida in natura a preços intermediários, em comparação às demais. “Seus subprodutos, como sucos e goiabadas, têm consumo massivo a valores razoáveis, até para as classes com menor poder aquisitivo da população”, pondera Fernandes.
Por outro lado, destaca o presidente do Ibraf, existem superfrutas, como o mirtilo (blueberry), ainda pouco conhecidas no Brasil que, igualmente, têm múltiplos propósitos no quesito nutricional, mas costumam ser mais caras. É apresentada, de muitas formas, também industrializada, mas o alto valor unitário desta superfruta (mirtilo) é sustentado muito mais por causa do apelo nutricional e terapêutico (nutracêutico).”
Marjorie Avelar, especial para A Lavoura, com fontes: Ibraf, Embrapa e Sebrae Mercados
Por que superfruta?
O conceito superalimento tornou-se popular por volta de 2004, quando Steven Pratt publicou seu livro “Superalimentos”, segundo observações de Deborah Payne, porta-voz do Conselho Highbush Blueberry, em San Francisco (EUA). A publicação lista as blueberries, por exemplo, como superalimentos, devido aos elevados níveis de antioxidantes e potencial para reduzir os efeitos da perda relacionada à idade na função cerebral.
“Enquanto as concepções convencionais de superalimentos tendem a refletir densidade global de nutrientes, a abordagem para superalimentos – ou superfrutas – é o único que está em grupos de nutrientes que suportam determinadas categorias de saúde, como ossos, olhos, coração e outros”, diz Nicholas Gillitt, pesquisador em Nutrição e gerente de Rotulagem da Dole Nutrition Institute (EUA).
“Para cada categoria, uma fruta mais qualificada, ou superfruta, deve conter um nível mínimo de certos nutrientes que foram agrupados, porque eles têm o mesmo benefício para a saúde. Por exemplo, para ser um superalimento para o coração, um fruto deve conter certos níveis de quaisquer nutrientes ideais para se ter um coração saudável: potássio, fibras, ácido fólico, vitamina B6, magnésio, vitamina C e fitoquímicos antioxidantes”, pontua Gillitt.