Apesar da queda no preço do produto no último ano, um hectare de pimenta–do–reino é capaz de gerar o mesmo faturamento de quem produz 200 litros de leite por dia
A pimenta–do–reino recebeu este nome no Brasil porque era trazida pelas caravelas que vinham de Portugal na época da colonização. Mas ela é originária da Índia e foi muito valorizada no período das Grandes Navegações pelo poder de conservar alimentos, principalmente carnes.
Hoje a pimenta–do–reino continua a ser um dos condimentos mais consumidos no mundo e o Brasil se transformou em um exportador do produto, principalmente para os Estados Unidos. Em Minas Gerais, as plantações ainda são poucas.
De acordo com a Emater-MG, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), existem cerca de 110 hectares ocupados com a cultura, em municípios como Novo Oriente de Minas, Teófilo Otoni, Ataléia, Ouro Verde de Minas, Águas Formosas, Serra dos Aimorés, Crisólita, Itabirinha e Bocaiúva.
Produção mineira
Em 2019, a produção mineira foi de 253 toneladas de pimenta–do–reino. A maioria das lavouras é conduzida por agricultores familiares. É o caso do produtor Luiz Carlos Barbosa, do município de Ataléia, no Vale do Mucuri, onde produz pimenta junto com o filho.
Ele faz parte de um grupo de cinco produtores de município que começaram a cultivar pimenta–do–reino há quatro anos. A área total em Ataléia é de 12 hectares, com uma produção de aproximadamente 60 toneladas por ano.
Seu Luiz foi um dos pioneiros no município. Formou uma lavoura de pimenta para complementar a renda que tem com a pecuária leiteira. Mas antes de investir na atividade, fez várias visitas ao Espírito Santo, estado onde há grande produção do condimento. Atualmente ele tem três mil pés plantados em dois hectares irrigados.
“Não é difícil. A família pode tocar, não há grandes dificuldades. Mas como toda lavoura é preciso controlar as pragas, doenças e adubar”, afirma.
Características
A pimenta–do–reino é uma planta trepadeira. É preciso instalar estacas nas áreas de cultivo para a sustentação dos pés de pimenta. O plantio é feito por mudas.
De acordo com o técnico da Emater-MG no município, Mário de Souza Silva, a cultura de adaptou bem na região por causa do clima. “A pimenta–do–reino é ideal para regiões quentes com disponibilidade de água. Toda a área de pimenta em Ataléia usa a irrigação por microaspersão”, explica.
A pimenta–do–reino começa a produzir no segundo ano após o plantio. Mas, segundo Mário Silva, a produção se torna viável a partir de três anos.
“No terceiro ano, a produção chega a três quilos por pé. Já no quarto ano, ela aumenta, chega a cinco quilos por planta”.
A colheita é realizada de seis em seis meses. A segunda safra do ano se inicia em julho. O estágio de maturação das espigas (ou cachos) na hora da colheita e o processo de secagem determinam a cor da pimenta.
A pimenta branca, por exemplo, é colhida mais madura e tem um processo de secagem mais trabalhoso.
Em Ataléia, o período de secagem em estufas é de aproximadamente cinco dias para serem embaladas. Apesar da pimenta branca ter um valor mais alto no mercado, a maioria dos agricultores comercializam a pimenta preta. “Dá menos trabalho e é mais vendável”, afirma Luiz Carlos.
Toda a produção é vendida para a uma cooperativa de Espírito Santo responsável pela exportação do produto.
Preços
Os preços da pimenta–do–reino costumam variar de acordo com a oferta e demanda internacional. Há cerca de três anos, o quilo do produto atingiu picos de R$ 30.
Hoje está em torno de R$ 10. Por isso, a recomendação é de que a cultura seja um complemento de outras atividades, e que os primeiros investimentos sejam feitos em pequenas áreas, aos poucos.
Mesmo com a volatilidade de preços, o técnico da Emater-MG explica que, sabendo administrar os
custos e mantendo a qualidade do produto, é possível ter um bom retorno.
“Apesar dos preços mais baixos neste ano, um hectare de pimenta–do–reino gera a mesma renda de quem produz 150 ou 200 litros de leite por dia em Ataléia”, afirma.