Aumento das lavouras de BRS Gigante Amarelo, Sol do Cerrado e Rubi do Cerrado garantem renda para pequenos produtores
Mais de 220 quilos de sementes de três cultivares de maracujá foram colocados no mercado,desde 2008, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): as BRS’s Gigante Amarelo (GA1), Sol do Cerrado (SC1) e Rubi do Cerrado (BRS RC).
“Considerando que, em espaçamento convencional, 25 gramas de sementes com boa germinação são suficientes para plantio de um hectare, o volume comercializado de sementes das cultivares de maracujazeiro azedo da Embrapa é suficiente para plantar mais de oito mil hectares, o equivalente a cerca de 15% da área nacional cultivada com maracujá”, informa a pesquisadora Keize Pereira Junqueira, da Embrapa Produtos e Mercados (DF).
De acordo com ela, estes valores são significativamente elevados no cenário brasileiro de produção de maracujás, considerando que a maior parte das sementes usadas nos plantios ainda é de origem genética desconhecida ou proveniente de populações geradas a partir de pomares instalados com as cultivares da estatal e de outros obtentores.
Sementes
O reaproveitamento de sementes de culturas anteriores pode ser um dos motivos que levaram à queda da produção da fruta, uma cultura com grande amplitude em relação à produtividade. É o que aponta o pesquisador Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados (DF).
O especialista compara: enquanto a média nacional é de 14 toneladas por hectare por ano, alguns produtores chegam a colher 50 toneladas por hectare com utilização de cultivares BRS, manejo correto e controle fitossanitário adequado. “Temos produtores de maracujá BRS tanto em Roraima quanto no Rio Grande do Sul”, conta Faleiro.
Comercialização
Para que as cultivares alcancem tanto mercado, os cientistas tiveram de trabalhar com o programa de melhoramento genético dos maracujás da Embrapa, em várias unidades de validação da estatal no País.
Na fase de comercialização, a BRS GA1 e BRS SC1 foram disponibilizadas por licenciados, em pontos de venda em Brasília (DF), Araguari (MG) e Monte Mor (SP). O escritório paulista tem revendas em diversos Estados.
“O envolvimento do licenciado aumenta a capilaridade da tecnologia”, destaca Faleiro. A logística de baixa complexidade para envio das sementes e por ser uma tecnologia capaz de viabilizar economicamente a produção em pequenas áreas facilitam a disseminação das cultivares da fruta.
História no campo
O casal Pedro Malaquias, de 64 anos, e Dorvalina Teresa Soares, 57, do Assentamento Oziel Alves III , do Núcleo Rural Pipiripau (DF), cultiva o maracujá silvestre BRS Pérola do Cerrado, fruta que vem ajudando a incrementar a renda familiar e resgatar a esperança de seguir a vida como produtores rurais.
“Com o dinheiro do maracujá, já pago a prestação do trator e da rotativa”, comenta Malaquias, um trabalhador mineiro de Paracatu que chegou a Brasília em 1971, para trabalhar na construção civil.
A vida no campo começou três anos mais tarde, como tratorista na Fazenda São Miguel, no município de Cabeceira de Goiás (GO). Naquela época, ter o próprio trator e um pedaço de terra eram sonhos bem distantes.
“Em 1983, comecei a plantar feijão, quiabo e milho em uma chácara em Padre Bernardo (GO), mas faltava assistência técnica e tinha dificuldades de comercialização”, lembra. Malaquias ainda permaneceu na chácara até 2011, quando decidiu ir para o Assentamento Oziel Alves III , que conta atualmente com 170 propriedades, em uma área total de 2,2 mil hectares.
Produção orgânica
Com o apoio da Empresa de Assistência Técnica Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e da ONG WWF-Brasil, por meio do projeto “Água Brasil”, Malaquias se capacitou em agroecologia. Hoje, produz maracujá orgânico.
“Iniciamos com cem mudas do Pérola do Cerrado, no final de 2014. Uns oito meses depois, começamos a colher e atualmente já temos 200 mudas”, conta a esposa dele, Dorvalina. Ela ainda faz questão de enfatizar que nunca fez aplicação de defensivos agrícolas no pomar.
A pequena horta do casal rende cinco caixas de 20 quilos de maracujá por semana, que são vendidos a distribuidores de produtos orgânicos.
Planos
Além da rusticidade do maracujá silvestre, que favorece o cultivo orgânico, e da alta resistência a pragas e doenças, a fruta é valorizada pelo mercado para consumo in natura. “É bem procurado e, às vezes, até falta para vender. Quero plantar mais 400 pés e chegar a mil”, planeja Malaquias.
Na opinião do zootecnista e extensionista da Emater-DF Maximiliano Cardoso, a organização dos produtores do Assentamento e dos Núcleos Rurais Pipiripau e Taquara, na Associação de Orgânicos, resultou em diversos impactos positivos nas propriedades. Ele conta que, todas as quartas-feiras, uma parcela do Assentamento recebe o grupo de 28 associados para trocas de experiências e tomadas de iniciativas conjuntas.
O associativismo levou os produtores a compartilharem boas práticas, como a utilização de gotejamento para economizar água, produção de bokashi e cama de frango para adubação orgânica, além de maior interação com extensionistas da Emater. Os agricultores, segundo a economista doméstica Vera Oni, técnica da Emater-DF, “não são acomodados e esta organização melhora a condição de vida de todos”.
Os extensionistas e pesquisadores concordam que casos de sucesso, como o do casal Malaquias, são resultados da união vocação-trabalho-extensão rural-pesquisa. “A interação produtor, extensão rural e pesquisa resulta em ganhos de produtividade e benefícios sociais”, reforça o pesquisador Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados (DF).
Compra de terra própria
Uma das pioneiras na validação das cultivares de maracujá BRS em sua região, a produtora Lucilia Neres Evangelista, de Planaltina de Goiás (GO), deixou de ser meeira há cinco anos. Hoje, a base da renda de sua família é o pomar com 15 mil pés da fruta.
“Quando comecei, não tinha nada. Meu primeiro pomar tinha dez mil pés, mas como meeira. Mesmo vendendo barato, fui crescendo e juntei dinheiro para comprar terra própria”, conta Lucilia.
Para elevar sua margem de lucro, ela e familiares articularam com a prefeitura para a instalação de uma pequena agroindústria. “Pretendo vender polpa de maracujá. Meu sonho agora é ter minha agroindústria”, comenta a agricultora.
Onde encontrar sementes e mudas
As cultivares híbridas de maracujazeiro azedo da Embrapa já foram comercializadas em todos os Estados do Brasil. De 2008 a 2015, o material mais vendido foi o BRS Gigante Amarelo, cultivar obtida pela estatal em parceria com a Universidade de Brasília.
“Bahia, Estado com a maior produção de maracujá do País, foi uma das unidades da federação que mais adquiriu sementes da Embrapa e de seus licenciados”, conta a pesquisadora Keize Junqueira, da Embrapa Produtos e Mercados.
A listagem dos produtores licenciados para a produção de sementes e mudas das cultivares de maracujazeiro, desenvolvidas pela Embrapa e parceiros, está disponível em https://www.embrapa.br/produtos-emercado/maracuja .