O látex extraído da árvore, pelos pequenos produtores, atende à grande demanda por borracha das indústrias da região Norte de Goiás. Em um hectare, seringal pode render até 12 mil reais por ano
Debaixo da sombra do seringal implantado em sua propriedade, o pequeno produtor Ezequiel Pereira começou no último mês a extração do látex das árvores, que será comercializado e revertido em renda para a sua família. O produtor é um dos beneficiados do Projeto de Apoio ao Cultivo de Seringueira em Niquelândia, município na região Norte de Goiás.
A inciativa é uma parceria entre o Governo do Estado, por meio da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), Central das Associações dos Mini e Pequenos Produtores Rurais de Niquelândia (Camprun), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o conglomerado Anglo American.
Até agora 26 produtores foram contemplados com mudas de seringueira suficientes para ocupar uma área de 20 hectares. A doação aconteceu em 2007, quando o projeto instituiu sua primeira fase, acompanhada de cursos de capacitação e assistência técnica.
Hoje, 13 propriedades no município estão dando continuidade ao trabalho e colhendo os resultados da heveicultura. Esta etapa final, de extração da seiva das seringueiras para a produção de borracha, está sendo realizada com a supervisão da unidade local da Emater na cidade.
Lugar estratégico para essa atividade extrativista
De acordo com o técnico agrícola da Agência Goiana, Masolene Sales, Niquelândia é um lugar estratégico para essa atividade extrativista, já que está localizado próximo à Goianésia e Barro Alto, dois municípios com grande força no campo industrial.
“Nós juntamos todos os produtores do projeto para fazer a comercialização em conjunto da matéria-prima extraída, que é vendida de três a quatro reais o quilo”, explicou. A demanda por borracha é alta na região, pois o produto é largamente utilizado pela indústria, sendo empregado na fabricação de pneus, roupas, calçados e uma imensa variedade de objetos.
Segundo o extensionista, a seringueira demora cerca de sete anos para chegar à fase adulta e, assim, iniciar-se o processo de extração. Apesar do período relativamente longo, o cultivo da árvore traz vários benefícios. “A primeira colheita demora a acontecer, mas essa é uma forma de agricultura sustentável, que não degrada o meio ambiente, onde o pequeno agricultor pode diversificar sua produção e ainda ter uma renda extra, pois é um mercado garantido”, disse.
No caso de Ezequiel, o seringal em sua propriedade corresponde a uma área de um hectare, na qual ele consegue extrair três mil quilos de látex, vendido a quatro reais o quilo, ou seja, o faturamento obtido pode chegar a 12 mil reais por ano. O produtor também consegue retirar um material menos úmido, agregando valor a seu produto e podendo comercializá-lo por um preço mais elevado. A qualidade da borracha natural é determinada, em primeira instância, por meio de inspeção visual, observando sua limpeza, cor e homogeneidade.
Com previsão da primeira colheita para outubro, a propriedade do agricultor familiar Laudelino Cardoso é uma das que deram continuidade ao projeto. São dois hectares plantados e a expectativa é que a área produza seis mil quilos de borracha, gerando cerca de nove mil reais a mais na renda anual do produtor.
“Para mim é bom demais ter o acompanhamento da Emater nisso. Ele [Masolene, técnico da Emater] me orienta e me incentiva bastante a plantar coisas novas, mas que sejam apropriadas para a minha fazenda, que é bem pequena”, relatou Laudelino. Um dos objetivos da empreitada com as seringueiras, além da movimentação socioeconômica, é introduzir novas culturas para os pequenos agricultores. “Mostramos que não é uma possibilidade apenas para os grandes produtores. Os pequenos também podem fazer”, acrescentou Masolene.
Borracha goiana em destaque
A Radiografia do Agro, publicação da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) que reúne dados estatísticos, mapas e informações da produção agropecuária goiana, aponta que Goiás é o terceiro maior produtor de borracha do país.
A produção chega a mais de 20 mil toneladas, em uma área plantada de 7.555 hectares. Conforme o relatório, o Estado abriga 187 estabelecimentos produtores com mais de 50 pés de seringueira, em 36 municípios. As cidades que se destacam na produção são Barro Alto, Vila Propício e Santa Rita do Novo Destino, que juntas são responsáveis por mais da metade da borracha produzida em território goiano.
A heveicultura em Goiás caracteriza-se por um fator específico. Mesmo que a seringueira seja uma planta originária da região amazônica, foram os seringais formados fora desse bioma que fizeram a produção de borracha crescer no país. “Lá na Amazônia, a árvore apresenta doenças, por ser seu local de origem em clima quente e úmido. Aqui em Goiás, como nós temos seis meses de período seco, ela não desenvolve doenças. Temos um clima e solo propícios para a cultura da seringueira”, esclareceu a pesquisadora da Emater, Elainy Botelho.
Segundo a pesquisadora, as vantagens dessa atividade envolvem aspectos sociais, ecológicos e econômicos. O âmbito social diz respeito a geração de empregos, uma vez que é necessária mão-de-obra para a extração do látex.
Do ponto de vista ecológico, por ser uma árvore de grande porte, acaba atraindo muitos animais, como pássaros e abelhas, contribuindo para o equilíbrio da fauna e da flora. Já o aspecto econômico está ligado ao fato da borracha ser um produto de consumo mundial, presente na composição de inúmeros objetos.