Nova ferramenta prevê perdas bilionárias na indústria de alimentos, com elevação de temperatura global em 2ºC. JBS e BRF podem ter redução de 45% e 30% no Ebtida – lucro antes de juros, impostos, etc. Por outro lado, segmento de proteínas alternativas vai morder pelo menos 16% do mercado de carne até 2050
De acordo com uma novo ferramenta matemática criada pela FAIRR – rede de investidores que gere US$ 20 trilhões – algumas gigantes do setor de alimentos podem sofrer grandes impactos financeiros com as mudanças climáticas.
A Coller FAIRR Climate Risk Control, ferramenta de risco climático da FAIRR Initiative, quantificou os riscos e as oportunidades das empresas de proteínas em um cenário de 2°C de aquecimento global, com base nas recomendações da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD).
Cinco gigantes de alimentos foram submetidos à ferramenta de análise. O resultado: os prováveis impactos físicos das mudanças climáticas e o rápido crescimento de proteínas alternativas podem levar perdas bilionárias a empresas como Minerva, BRF e JBS.
“As mudanças climáticas são reais e seus impactos financeiros também. O custo de alimentar galpões de aves, de fornecer alimentos para animais e dos cuidados veterinários aumentará junto com as temperaturas globais”, afirma Jeremy Coller, fundador da FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital.
Proteínas alternativas
O modelo identifica sete riscos principais para a lucratividade do setor de carnes no cenário do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de temperatura global 2°C mais alta até 2050. Os riscos incluem alta da mortalidade animal devido a estresse térmico, rações mais caras devido ao baixo rendimento das plantações e aumento do custo da eletricidade devido ao preço do carbono.
Prevê ainda que “proteínas alternativas”, como hambúrgueres à base de plantas, abocanharão pelo menos 16% do mercado atual de carne, elevando a fatia para 62% com base em fatores como taxas de adoção de tecnologia, tendências do consumidor e um imposto sobre o carbono na carne.
Empresas com alta exposição à carne bovina, como a gigante brasileira JBS, enfrentam riscos sem uma estratégia clara de adaptação climática. É provável que o setor geral de carne bovina seja atingido com força _ uma perda de participação de mercado devido ao aumento da temperatura, resultando em mortalidade de gado e produtividade reduzida, além de maior exposição a novos impostos sobre os segmentos que mais consomem carbono.
Substituir “espécies com menor consumo de carbono”, como aves, é uma opção, mas existem contrapartidas, incluindo custos mais altos de eletricidade e energia (a produção de aves requer mais energia que a de carne bovina) e os custos voláteis de alimentação.
Caminhos possíveis
A Coller FAIRR Climate Risk Control identifica três caminhos que podem ser adotados pelas empresas. Esta escolha definirá a extensão de sua oportunidade positiva ou risco negativo:
Caminho regressivo ao clima: a empresa mantém a posição de mercado em 2020, sem participação de mercado em proteínas alternativas e com participação de mercado acima da média de espécies intensivas em carbono, como carne bovina, em 2050.
Caminho neutro de mercado: a empresa se desenvolve no mesmo ritmo da média do mercado e aumenta a participação de proteínas (convencionais e alternativas) em linha com a média do mercado em 2050.
Caminho progressivo climático: A empresa possui uma participação de mercado mais alta do que a média de proteínas alternativas e muda a mistura de ração e gado para culturas e espécies menos influenciadas pelo clima em 2050.
Em uma pesquisa junto a 44 das maiores empresas de carne listadas no mundo – listadas no Coller FAIRR Protein Producer Index – apenas uma (Tyson Foods) divulgou publicamente uma análise de cenário relacionada ao clima, apesar de tal análise ser recomendada pelo TCFD.
Cenário piloto
Para ilustrar o modelo, a FAIRR realizou uma análise do cenário piloto em cinco gigantes de proteína animal (BRF, JBS, Maple Leaf, Minerva e Tyson Foods), que, juntas, têm valor de mercado de US$ 50 bilhões.
No cenário ilustrativo, que pressupõe altas taxas de crescimento alternativo de proteínas, o modelo constatou que a canadense Maple Leaf poderia ver o EBITDA crescer 77% em um caminho progressivo climático, em virtude de seus significativos investimentos em proteínas alternativas e sem exposição à carne bovina. Hoje, a Maple Leaf é o único produtor de carne que divulga detalhes sobre as vendas de proteínas vegetais.
Por outro lado, os gigantes brasileiros da carne JBS e BRF poderão ver o EBITDA cair em 45% e 30%, respectivamente, se não melhorarem a participação de mercado em proteínas alternativas e não reduzirem a exposição à carne bovina e de aves (ou seja, escolher uma via regressiva ao clima).
O cenário de 2°C com base em fontes de cenário climático estabelecidas, incluindo os relatórios do IPCC. O modelo inclui as proteínas animais mais amplamente produzidas e consumidas em todo o mundo (carne bovina, aves e suínos) e concentra-se em regiões com grandes produtores de carne: Brasil, Canadá e EUA.