O Brasil, segundo o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, possui mais de 16,4 mil estabelecimentos produzindo flores e demais plantas ornamentais. Principal Estado produtor é São Paulo, seguido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul
A “Série Censo Agro” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) continua relatando histórias captadas durante o trabalho feito em campo, nas milhares de propriedades rurais espalhados pelo País.
É o caso do engenheiro agrônomo Laerte Correia, que começou a produzir flores em 2007, aos 56 de anos, após passar muito tempo de sua vida profissional prestando serviços de assistência técnica a produtores do município de Ivoti, no Rio Grande do Sul, uma região tradicionalmente ligada à floricultura.
O encantamento por essa cultura, no entanto, se deu ainda na infância, quando ajudava sua madrinha a produzir flores para vender.
“As pessoas que cuidam, que trabalham com plantas e flores para decoração, não têm tempo de ficar estressadas. A produção gera um bem-estar que só quem está envolvido com ela sabe como é”, afirma o floricultor, que hoje comercializa cactos, suculentas, flores de corte e em vaso, como calandivas e gerânios.
A propriedade de Correia é um dos 1.529 estabelecimentos que produzem flores no Rio Grande do Sul, de acordo com o Censo Agropecuário 2017 do IBGE. No Brasil, são 16.408 estabelecimentos produzindo flores e demais plantas ornamentais.
O Estado com o maior número de estabelecimentos é São Paulo, seguido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em relação ao valor de venda, houve um aumento significativo em 26 das 27 unidades da Federação em 11 anos, ou seja, os Censos de 2006 e 2017.
“Em todo o Brasil, com exceção de Alagoas, o setor de ornamentais teve um crescimento sempre maior do que 60%”, diz Marcelo Souza, pesquisador do Censo Agropecuário.
Ele comenta ainda que esse aumento pode ser explicado pelo crescimento da população ou da demanda por esse tipo de planta.
“É um supérfluo necessário. Existem muitas situações no nosso dia a dia em que você não tem como substituir a flor, como uma data festiva, um aniversário, um falecimento ou uma decoração extra. Há várias situações em que a planta não tem substituto, por isso acredito que sempre existirá mercado para ela”, opina o floricultor Laerte Correia.
O início
O engenheiro agrônomo iniciou sua produção de flores com área pequena, de 200 metros quadrados e, um ano depois, construiu mais uma estufa para ampliar a atividade.
“Nos anos seguintes eu fui agregando outros tipos de flores no cultivo. A floricultura é uma área muito ampla, com muitas espécies que podem ser cultivadas, cada uma com seus cuidados, mas nada que seja impossível. Não vejo maiores dificuldades na produção de flores desde que siga um plano de cultivo.”
Descendentes de japoneses
Luiz Ishikawa é filho e neto de imigrantes japoneses. Seus avós chegaram ao Brasil no final dos anos 30, trazendo seu pai, então com sete anos. Vieram atraídos pelos relatos de que no país havia terra abundante e boa para plantar, embora “não tenha sido tão fácil assim”, lembra Luiz.
A família passou por várias cidades do interior de São Paulo até chegar a Mogi das Cruzes, onde já havia uma colônia japonesa em expansão e lugar que Luiz nasceu.
No início, os Ishikawa plantaram legumes, depois passaram para verduras e chegaram a ter uma granja. O sucesso veio com as flores, há 32 anos, Luiz planta orquídeas. Hoje o acompanham sua mulher, um filho – a quarta geração da família na agricultura no País – e dez colaboradores.
O agricultor se considera feliz: “Gosto do que faço. É o que a gente aprendeu, o que sabe fazer, mas tem que gostar também, porque não é fácil”. A região de Mogi das Cruzes é um dos grandes polos da floricultura no país. Juntos, os produtores da região oferecem mais de três mil variedades de flores e plantas, de acordo com a Cooperativa Agrícola Flores de São Paulo.
Dos alimentos às flores
Outro produtor a se aventurar pelas flores foi João Paulo Aguilar, que hoje mantém uma propriedade em Nova Friburgo, na Região serrana do Rio de Janeiro, lugar que costumava passar suas férias, no sítio da família, e que se tornou a principal fonte de renda familiar quando seu pai se aposentou.
“Nós produzimos, hoje, praticamente 90% das flores em ambiente protegido. São estufas bem simples. A gente só protege das intempéries, faz a irrigação e a nutrição das plantas dentro das estufas”, explica Aguilar.
À época da aposentadoria de seu pai, a família produzia alimentos como pimentão, jiló e batata doce. Percebendo uma mudança no mercado, eles resolveram migrar para a produção de flores, no período em que João Paulo cursava a faculdade de Zootecnia, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
“Meu pai queria agregar a parte de ter boa rentabilidade com a oportunidade de eu estar em um centro de excelência em agricultura”, comenta Aguilar.
Hoje, entre as principais produções da propriedade estão a chuva de prata, cáspia, estatice, samambaia serrote e hera paulista.
“Trabalhar com flores é proporcionar bem-estar nas pessoas. A gente consegue transmitir em determinados momentos uma sensação de amor, empatia e felicidade”, completa o floricultor de Nova Friburgo.