Trabalho árduo, que começou em 2004, resultou na conquista da IG, nove anos depois, para vinhos e espumante produzidos nas cidades de Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Bento Gonçalves, no RS
A certificação de Indicação Geográfica (IG) Monte Belo para seis tipos de vinhos e um espumante, produzidos na região de mesmo nome, no Estado de Rio Grande do Sul, colocou esses produtos no rol das melhores bebidas do gênero, no Brasil e no mundo. O trabalho árduo, que resultou na certificação concedida pelo Instituto de Propriedade Industrial (INPI), começou em 2004, culminando na conquista do selo, nove anos depois. Mas foi somente em 2016 que os produtores conseguiram colocá-los no mercado consumidor, com a tão sonhada IG.
Os produtos certificados com a chancela do INPI envolvem quatro vinhos tintos (das variedades Merlot e Tannat), dois brancos (Riesling e Chardonnay) e um espumante elaborado pelo método tradicional, no corte exclusivo da IG Monte belo (Riesling Itálico, Pinot Noir e Chardonnay), das vinícolas Calza, Faé e Fantin. Entre suas particularidades está o uso da levedura 24 MB CM06, extraída de vinhedos da área delimitada, o que confere características distintas de vinhos elaborados em outras regiões.
“Desde as pesquisas para o uso de uma levedura nativa até o engarrafamento foram inúmeras etapas, que culminaram com a chegada dos primeiros vinhos ao mercado. Esses vinhos certificados trazem a história de mais de 140 anos e a conquista da IG atesta a qualidade, originalidade e tipicidade dos nossos produtos”, destaca Roque Faé, diretor do Conselho Regulador da Indicação Geográfica Monte Belo, da Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul (Aprobelo). Para o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, a IG “é mais um instrumento que reforça a qualidade dos nossos vinhos, que são apreciados pelos consumidores, movimentam o turismo da região e conquistam premiações em concursos do mundo inteiro”.
Indicação de Procedência, 2013
Registro: BR402012000006-3 Delimitação: a região delimitada de Monte Belo abrange os municípios de Monte Belo do Sul (80% do território), Bento Gonçalves e Santa Tereza (RS), totalizando 56,09 Km²
Destaque
Com aproximadamente 2,7 mil habitantes, Monte Belo do Sul tem a maior produção de uvas finas per capita de toda a América Latina, com 16 toneladas em média por ano. Todos os produtos lançados no ano passado, com o selo da Indicação Geográfica, foram elaborados seguindo os padrões de qualidade exclusivos dessa região, controlados pelo Conselho Regulador da IG Monte Belo.
É importante destacar que 100% das uvas foram produzidas na origem da área geográfica delimitada, com controle de produtividade e padrões de maturação diferenciados. Os vinhos passaram por análises laboratoriais e sensoriais, que atendem aos padrões diferenciais para os vinhos dessa origem.
Engajamento
Tanto a conquista da Indicação Geográfica quanto a chegada dos primeiros vinhos ao mercado consumidor foram possíveis graças ao engajamento da Aprobelo, da unidade uva e vinho (RS) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Ibravin, da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGs).
Atualmente, a Aprobelo reúne 11 vinícolas, sendo que três delas já produzem vinhos dentro das normas estabelecidas na Indicação Geográfica.
Área delimitada
Oitenta por cento da área delimitada da IG Monte Belo ficam no município de Monte Belo do Sul e o restante nas cidades sul-rio-grandenses de Bento Gonçalves e Santa Tereza. Toda a região abrange mais de 600 propriedades vitícolas, formando um verdadeiro mosaico de vinhedos, que ocupam 37% daquela área, com alta concentração de uvas viníferas de qualidade.
Em seu entorno, o espaço delimitado possui um cinturão verde, composto por matas onde a declividade é acentuada. Ele está diretamente exposto ao Vale do Rio das Antas, com altitude média de 485 metros (altitude mínima de 349 metros e máxima de 659 metros).
Os vinhedos de Monte Belo do Sul, bem como de Bento Gonçalves e Santa Tereza, são todos georreferenciados, o que garante o rastreamento de seus produtos. Ainda passam por um rígido controle de qualidade, levando em conta que a maturação das uvas para vinificação tem um padrão diferenciado.
As bebidas que carregam a IG Monte Belo devem ser elaboradas, exclusivamente, com as variedades autorizadas e com os padrões exclusivos da localidade.
História
A viticultura na região de Monte Belo iniciou com os imigrantes italianos que chegaram à Colônia Dona Isabel, no ano de 1875, origem do atual município de Bento Gonçalves e dos emancipados, em 1992, Monte Belo do Sul e Santa Tereza, entre outros.
De acordo com relato da Embrapa uva e vinho, a produção de uvas nas pequenas propriedades familiares logo se destacou na construção da identidade territorial. nas primeiras décadas do século 20, o enólogo Celeste Gobato referiu-se, muitas vezes, à viticultura das linhas Graciema e Leopoldina, na região de Monte Belo, em publicação do jornal II Corriere d’ltalia, como sendo o mais importante centro de produção do município de Bento Gonçalves, avaliando o vinho como “verdadeiramente excelente”.
Do ponto de vista da história, os viticultores de Monte Belo contribuíram, de forma decisiva, para a expansão da produção de vinhos elaborados em vinícolas de vários municípios da Serra Gaúcha. Hoje em dia, por causa do grande volume de uvas produzidas na região, o município carrega o título de maior produtor de uvas per capita de todo o País.
Associação
No ano de 2003, entusiasmado com o cenário dos vinhedos da região de Monte Belo, um grupo de produtores de uvas e vinhos criou a Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul (Aprobelo), com o objetivo de estimular e promover a produção de vinhos de qualidade de origem controlada dessa localidade, onde quase 40% da área são cultivadas com vinhedos.
Conforme a Embrapa, “a identidade cultural da gente da região de Monte Belo está expressa em seu território, fortalecida, agora, com os vinhos da Indicação de Procedência”.
Mosaico colorido
Do início da produção de vinhos até os dias atuais, o processo de organização do espaço geográfico transformou a natureza da região de Monte Belo, deixando suas marcas na paisagem. Isso porque os vinhedos formam um mosaico colorido, geralmente sustentado por plátanos, apresentando elementos da paisagem vitícola que a distingue de outras regiões do mundo.
Segundo a Embrapa, no relevo movimentado de encostas, que são marcadas por centenas de vinhedos e por outras culturas de subsistência, as áreas íngremes dos vales profundos são cobertas por florestas, compondo um “cinturão” de preservação no entorno dos limites dessa localidade.
A visão para os vinhedos do Vale Aurora, em Bento Gonçalves, e para os meandros do vale do Rio das Antas, que contorna Monte Belo nos municípios de Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Bento Gonçalves, “descortina paisagens tão marcantes quanto o colorido dos vinhedos e plátanos no outono”.
Meio rural
Antigas casas coloniais construídas em madeira e basalto, nas áreas rurais, além de inúmeros capiteis e igrejas, evidenciam os valores religiosos das pessoas que ali vivem e trabalham. Em Monte Belo do Sul, as torres da Igreja são Francisco de Assis, com suas sentinelas, podem ser vistas a dezenas de quilômetros.
Em Santa Tereza, a torre da igreja local, em conjunto com os casarões coloniais da cidade, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também são de encher os olhos.
“Paulatinamente, a região de Monte Belo passou a desenvolver seu grande potencial para o enoturismo, oportunizando o acesso à identidade cultural da região, com a originalidade da colonização italiana, combinada com o atrativo peculiar das pequenas vinícolas familiares”, descreve a Embrapa.
Fontes: Aprobelo e Embrapa Uva e Vinho