Ainda pouco conhecido pela maioria dos consumidores, o chuchu-de-vento é um fruto ideal para o plantio em países de clima tropical, como o Brasil. Além disso, contém propriedades medicinais purgativas, anti-inflamatórias, hipoglicemiantes e redutoras do nível de colesterol
Provavelmente se você não é da região Norte de Minas Gerais ou do Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia, onde o chuchu-de-vento é bastante consumido, você nunca ouviu falar desse fruto. Diante do nome pouco comum, é de se esperar que este vegetal faça parte do grupo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC).
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O fruto, conhecido também como maxixe-fofo, maxixe-do-reino, pepino-de-comer, pepino do ar e outros nomes, nasce de uma trepadeira de nome científico Cyclantherapedata. A planta, originária da América do Sul, tem seu maior cultivo no Peru, mas também é produzida no México, Bolívia, Argentina, Chile e Colômbia.
Em Minas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Epamig) atua na pesquisa e no resgate de saberes e histórias de hortaliças não convencionais como o chuchu-de-vento. Além do uso do fruto como alimento, a planta contém propriedades medicinais purgativas, anti-inflamatórias, hipoglicemiantes e redutoras do nível de colesterol.
A planta, típica de clima tropical, não tolera baixas temperaturas, geadas e solos encharcados. Para o plantio, as sementes são colocadas em bandejas acrescidas de substratos comerciais ou húmus de minhoca. O transplante das mudas deve ocorrer apenas quando houver quatro folhas definitivas.
O plantio e preparo do solo
“O espaçamento recomendado para o plantio é de 0,5 a 1 metro entre plantas e 1 metro entre linhas. O plantio deve ser realizado no início do período chuvoso. No entanto, em locais de temperaturas médias entre 25 °C e 30 °C, o cultivo pode ser feito o ano todo”, de acordo com a Epamig.
No sistema convencional, o preparo do solo é feito com aração, gradagem e abertura de covas de plantio. Segundo manual técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Hortaliças, é recomendado realizar capinas, irrigações e adubações de cobertura sempre que necessário, especialmente com nitrogênio, potássio e matéria orgânica.
Adubação
Recomenda-se, também, utilizar como referência a adubação para a cultura da abóbora ou do pepino, com base na análise do solo.
“Para melhor absorção dos nutrientes, a faixa ideal de pH dos adubos deve ser entre 5,5 e 6,5. Faça calagem se necessário e se atente para adubação fosfatada e uso de matéria orgânica, pois é preciso evitar o excesso de boro”, explica a Epamig.
Tratos culturais, pragas e doenças
O tutoramento das plantas é necessário para evitar o contato dos frutos com o solo. Para isso, uma alternativa é o sistema de cerca vertical. Porém, outros sistemas de condução também podem ser adotados.
A Epamig ressalta que “há registros de ocorrência de algumas pragas como ácaros, brocas dos frutos, formigas, mosca-branca e vaquinhas”. As doenças podem ser causadas por bactérias, fungos e vírus, “mas não causam danos significativos aos frutos”.
Colheita e consumo
A colheita dos frutos, com 10 a 15 centímetros de comprimento, pode ser realizada entre 80 e 100 dias após o transplantio das mudas e pode perdurar por 40 a 60 dias. A produção média pode atingir até 200 frutos por planta ou 15 a 20 toneladas por hectare.
A comercialização de chuchu-de-vento é feita por agricultores familiares em pequena escala, em feiras e mercados locais. Os frutos têm apreciáveis teores de minerais e sabor entre pepino, maxixe e pimentão, sendo por vezes levemente amargo. Aqueles bem jovens podem ser consumidos crus (saladas) ou utilizados em conservas.
Quando estão mais desenvolvidos, podem ser utilizados cozidos, refogados, ou recheados com arroz, carne ou proteína de soja. As pontas das hastes também podem ser consumidas refogadas como a cambuquira de pontas de aboboreira, apresentando sabor levemente amargo. A vida útil do chuchu-de-vento é de 5 a 7 dias quando embalado em sacos plásticos e armazenados em gaveta de geladeira.
Cultivo milenar
Cultivo ancestral de domesticação milenar, que pode ser comprovado por representações em cerâmicas antigas do povo Moche, civilização pré-incaica do Norte do Peru que teve seu auge entre os séculos I e VIII D.C. Dispersou-se pelas Américas do Sul e Central, provavelmente ainda em período pré-colombiano.
Em algumas partes dos Andes, o maxixe-do-reino tem um parente selvagem, Cyclanthera explodens, que é consumido pelos camponeses e cresce em altitudes de até 2600 m, sendo considerada a “planta dos pobres”. Atualmente, é espécie de significativo valor comercial no Peru e na Colômbia, mas também há relatos de cultivo na Europa (Inglaterra) e na Ásia (China).