Para alcançar altas produtividades, sojicultor deve oferecer um ambiente onde a raiz possa se desenvolver sem restrições, retirando os nutrientes e a água da terra, dentro das necessidades da planta, ao longo do seu ciclo
O perfil de solo muito compactado e raso pode comprometer o alcance de altas produtividades nas lavouras de soja, conforme alerta o biólogo Sérgio Abud, membro do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB). Ele destaca a importância de ter mais cuidado com o manejo químico, físico e biológico da terra, como forma de evitar perdas na colheita da oleaginosa.
O especialista salienta que um fator limitante para atingir elevados níveis de produtividade é a quantidade de água armazenada no solo. O biólogo, que trabalha com a cultura da soja há 40 anos, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), afirma que uma lavoura de soja, ao longo de seu ciclo, necessita de aproximadamente 600 milímetros de água para se desenvolver.
“A importância de se construir o perfil do solo é oferecer um ambiente onde a raiz possa se desenvolver sem restrições, retirando os nutrientes e a água, dentro das necessidades da planta, ao longo do seu ciclo. Na prática temos que corrigir o solo, evitando o alumínio tóxico (fator que compromete o desenvolvimento da raiz), e ter uma boa distribuição de cálcio e boro, para que o sistema radicular se aprofunde e não tenha limitação química para isso”, explica Abud.
Para que isso ocorra, ele salienta a necessidade de manter uma rotação de culturas na área destinada ao plantio de soja, pois, assim, será possível condicionar o solo para reter água e ter espaço para as raízes penetrarem profundamente. Ele indica a utilização de braquiária, que com sua palhada abundante e um sistema radicular volumoso e agressivo, auxilia no desenvolvimento do espaçamento radicular.
“Ela consegue penetrar fortemente o solo e, com suas raízes profundas, levar nutrientes para as camadas mais profundas e reciclar nutrientes lixiviados. Na safra seguinte, as raízes da braquiária vão funcionar como se fosse a ferragem do concreto armado, que impede que o solo volte a compactar”, ressalta.
Exemplos de altas produtividades
Segundo Abud, uma das práticas que auxiliam os produtores participantes do Desafio CESB de Máxima Produtividade de Soja – concurso realizado anualmente entre sojicultores de todo o País para destacar as melhores práticas agrícolas – é a construção do perfil do solo.
“Todos os produtores, que conseguem melhorar sua produtividade na área comercial, investem no perfil do solo. Pois assim ele consegue aprofundar o sistema radicular, aumentando a oferta de água e nutrientes, fazendo a planta funcionar muito bem”, destaca o biólogo.
Vencedor nacional do Desafio CESB da edição 2018/2019, quando sagrou-se bicampeão na categoria Irrigada, o produtor rural e engenheiro agrônomo Maurício de Bortoli, do município de Cruz Alta (RS), utilizou a técnica de variação de culturas para preparar o perfil do solo, evitando a descompactação mecânica e conseguindo atingir o patamar de 123,88 sacas por hectare.
“Também utilizei o cultivo de um mix de plantas de cobertura para obter um solo rico em fertilidade orgânica, evitar a erosão e favorecer a descompactação natural do sistema”, revela.
Custo de produção
Para Abud, como o custo de produção é sempre crescente, se torna de extrema importância investir em técnicas que garantam a elevação da produtividade, de forma sustentável e rentável.
“Se o produtor continuar produzindo a mesma coisa na mesma área, uma hora vai impactar no custo de produção. Uma forma de evitar isso é elevar a produtividade. Em regiões com frequentes variações climáticas, o produtor tem que priorizar a construção do perfil do solo, melhorando a produtividade e elevando o seu nível.”
Desafio CESB 2020
Todos os anos, o Comitê Estratégico Soja Brasil realiza o Desafio CESB de Máxima Produtividade de Soja. O evento tem por objetivo estimular os produtores a se auto desafiarem para obter ganhos de produção em suas propriedades, além de compartilhar informações importantes para se alcançar altos níveis de produtividade.
As inscrições para a 12ª edição do Desafio estão abertas e poderão ser realizadas pelo site do Comitê (www.cesbrasil.org.br) até 31 janeiro de 2020.
As áreas inscritas, que devem ter entre dois dois e meio e cinco hectares, podem concorrer em uma das duas categorias do Desafio: plantio irrigado ou não irrigado (sequeiro). Nesta edição, foi adotado um novo sistema de inscrições, com uma interface mais moderna e intuitiva, para facilitar o acesso e o acompanhamento por parte dos participantes. A revelação dos campeões acontece em junho de 2020 durante o Fórum Nacional de Máxima Produtividade de Soja.
Os inscritos que tiverem suas áreas auditadas receberão, ao final de sua participação no Desafio, um laudo/relatório de suas áreas, contendo informações técnicas relevantes tais como: georreferenciamento da área auditada; descritivo do campo de produção; informações técnicas de manejo; registros fotográficos; além de um certificado de classificação no Desafio.