A valorização na cotação dos grãos também deverá incentivar o aumento da área da cevada e impulsionar crescimento da produtividade
Um levantamento da Embrapa Trigo junto ao setor produtivo de cevada indica um cenário favorável para a cultura da cevada nesta safra. A área de cultivo na Região Sul deverá chegar próximo aos 118 mil hectares, retomando os números de 2019 quando a produção brasileira superou as 400 mil toneladas de cevada.
Além da malteação, a alimentação animal abre novas oportunidades para crescimento na cultura.
No Rio Grande do Sul, está previsto um aumento de 36% na área contratada para produção de cevada cervejeira. Os preços a serem pagos deverão variar de 120 a 135% do preço do trigo pão (PH 78). O preço será ainda 1% superior para cada ponto percentual acima de 85% de grãos da classe 1, podendo chegar a 150% do preço do trigo.
“Com a valorização do trigo e a tendência de permanecer esse cenário no curto e médio prazos, a rentabilidade da cultura da cevada tende a melhorar ainda mais”, observa o pesquisador Aloísio Vilarinho.
Em Santa Catarina as áreas de cultivo deverão se repetir os números de 2020, próximo a 700 ha. No Paraná, a expectativa da FAPA/Agrária é de novo aumento de área próximo a 10% com relação à safra passada, com o aumento na demanda em função da instalação de uma nova maltaria no Estado.
A cevada na Região Sul deverá voltar aos números de 2019, quando foram cultivados 118,8 mil ha (Conab Série Histórica), com média de produtividades de 3.600 kg/ha, totalizando 429 mil toneladas de grãos, com bom aproveitamento pela indústria de malte. A previsão de clima favorável à cultura em 2021, poderá resultar em aumento de produtividade.
Tendências de mercado
Do total de áreas com cultivo de cevada no mundo, cerca de 70% está voltada para suprir a alimentação animal. No Brasil, um dos maiores mercados mundiais de cerveja, o cultivo sempre esteve voltado à produção de cevada cervejeira, cuja produção atende apenas 30% da demanda da indústria instalada no País.
“Quando os grãos não atingem o padrão de qualidade exigido para a malteação, acabam destinados à indústria de ração animal que, historicamente, absorve cerca de 30% da cevada brasileira”, conta Aloísio Vilarinho, destacando que este cenário já começou a mudar.
“Em virtude de alta nos preços do milho, principal produto nas rações, há uma demanda crescente da cevada e outros cereais de inverno pela indústria de proteína animal, principalmente para suínos e aves. Isso deverá garantir a liquidez dos grãos mesmo quando não alcançarem a qualidade para malte”.
Conforme as avaliações nutricionais realizadas pela Embrapa Suínos e Aves, os níveis ótimos para inclusão da cevada na ração de suínos ficam entre 20% e 25% a partir da fase de crescimento. No caso dos frangos de corte e poedeiras recomenda-se níveis de até 20% de cevada na ração a partir da fase inicial.
Outro cenário que começou a ser configurado pela pesquisa é o uso de cevada forrageira, direcionada à alimentação de ruminantes. Para atender a indústria cervejeira, os grãos de cevada precisam de teor de proteínas entre 9 e 12%, ao passo que para a alimentação animal quanto maior o teor de proteínas melhor. As diferenças também estão relacionadas ao volume de massa verde e à uniformidade das espigas, que variam conforme o mercado a ser atingido.
“Como o programa de melhoramento genético da Embrapa sempre esteve direcionado ao desenvolvimento de cultivares de cevada cervejeira, muitos materiais bons para alimentação animal acabavam descartados. Estamos resgatando esse trabalho, com o objetivo de ampliar a oferta de forragens na Região Sul, visando principalmente cobrir o vazio forrageiro outonal, quando o produtor enfrenta a escassez de alimento de qualidade para os animais”, conta o pesquisador da Embrapa Trigo.
Com elevado valor nutritivo, a silagem de cevada permite uma boa conversão alimentar. Em vacas leiteiras, a Embrapa Trigo constatou que com 1 kg de matéria seca de silagem de cevada, é possível produzir 1,2 kg de leite.
Além do melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares específicas para o forrageamento animal, a Embrapa Trigo está validando cultivares já existentes buscando o melhor encaixe no sistema de produção.
“A ideia é inserir a cevada logo após a colheita da soja, com ciclo precoce, visando fazer pré-secado ou mesmo pastejo, antes da semeadura da cultura de inverno. Os resultados têm sido promissores e deveremos apresentar uma indicação de manejo para o setor produtivo ainda neste ano”, conclui Aloísio Vilarinho.
Fonte: Embrapa