Com o uso de tecnologia correta de cultivo, o agricultor pode agregar renda e diversificar a propriedade
O cultivo do girassol vem despertando grande interesse como opção de diversificação nos sistemas de rotação em algumas regiões produtoras de grãos, mais especificamente, o Cerrado brasileiro e, em especial, o Mato Grosso.
Levantamentos realizados na região de Campo Novo do Parecis (MT), principal produtora de girassol, apontaram lucro de mais de R$ 220,00 por hectare. Esta ocupação rentável do espaço agrícola, propiciada pela cultura do girassol, tem diversos impactos positivos, tais como o fortalecimento da mão de obra permanente, capitalização do produtor, ampliação do portfólio de renda agropecuária e pulverização dos riscos inerentes ao setor produtivo.
Sustentabilidade
sustentabilidade econômica depende não só do manejo adequado da cultura, mas da existência de mercado que garanta a compra da produção. Nesse sentido, tem sido vital o crescente mercado de óleos comestíveis nobres, em especial o óleo de girassol alto oleico e de farelo e torta para alimentação animal. Isso, entre outros fatores, tem criado diversas perspectivas em relação ao aumento da área cultivada do girassol no Cerrado brasileiro.
Uma questão estratégica é a necessidade, cada vez maior, de aumentar a oferta global de óleos, permitindo que o mercado de alimentação seja reservado para os óleos com valor nutricional ou industrial mais elevado, como o de girassol, buscando atender às políticas anti-junk food, que preconizam hábitos alimentares saudáveis.
Um bom exemplo é o girassol alto oleico, muito valorizado não apenas na indústria alimentícia, como diretamente na culinária. Neste sentido, a PepsiCo ganha destaque, já que diminuiu em 50% a quantidade de gordura saturada na fritura de sua linha de produtos com o uso de óleo de girassol. Outro exemplo vem da França, cuja culinária é patrimônio nacional, onde mais de 50% do óleo de girassol produzido é alto oleico.
Pontos do manejo da cultura que merecem maior destaque
1. Semeadura
A semeadura é um dos passos mais importantes no cultivo do girassol. É uma operação delicada, com a distribuição de uma pequena quantidade de sementes, que, em função da densidade, utiliza entre 3 e 4 kg/ha. Assim, a operação de semeadura é fundamental para se obter uma lavoura uniforme e com a densidade de plantas desejada.
Atualmente, muitos agricultores utilizam semeadoras especiais, mas, independentemente do modelo, os cuidados com esta operação poderá determinar todo o sucesso da lavoura. Se a distribuição e a profundidade de semeadura são importantes para a soja e o milho, que possuem sementes maiores e mais pesadas, muito maior deve ser o cuidado com as de girassol.
De modo geral, produtividades mais elevadas são obtidas com população alternando entre 40 e 45 mil plantas por hectare. Entretanto, essa população pode variar em função da cultivar e/ou das condições edafoclimáticas. Do mesmo modo, o espaçamento entrelinhas pode alterar de 0,5 m a 0,9 m, por causa da semeadora e da colhedora disponível. No entanto, as maiores produtividades são obtidas com espaçamento entre 0,5 e 0,7 m.
2. Época de Semeadura
A época de semeadura varia de acordo com a região. No Centro-Oeste, por exemplo, o girassol adapta-se ao cultivo em condições de safrinha, no sistema de produção com a sucessão soja–girassol, com a vantagem de ser reconhecido por beneficiar a cultura seguinte.
É interessante observar que os agricultores citam outras vantagens, como a janela de semeadura do girassol não competir com outras culturas – principalmente o milho safrinha – e sua maior tolerância ao deficit hídrico. Em parte, isto pode ser constatado na região central do Brasil, onde o cultivo do girassol normalmente ocorre após a soja, do final de fevereiro ao início de março, em função da maior capacidade de desenvolvimento radicular e outros mecanismos de tolerância ao estresse hídrico. Isto tem permitido que o produtor tenha mais uma opção de cultivo na safrinha, agregando renda e melhorando a eficiência de uso da terra.
3. Cultivares
Outro passo importante para o sucesso da lavoura é a escolha das cultivares de girassol, já que existem no mercado sementes de diversas variedades e híbridos disponíveis aos agricultores.
A Embrapa Soja lançou recentemente híbridos e variedades de girassol, com objetivo de aumentar o leque de opções de genótipos com elevado potencial produtivo. Entretanto, existem outras empresas que comercializam sementes de girassol com elevado potencial de rendimento de grão e com teor de óleo variando de 40 a 50%. No site da Embrapa Soja, encontram-se as empresas que comercializam sementes de girassol (www.cnpso.embrapa.br).
4. Manejo do solo e da adubação
Conforme já citado e propalado por muitos, uma das principais características do girassol é a maior tolerância à seca. Essa característica se deve, principalmente, às raízes profundas que exploram grande volume de solo e, assim, conseguem absorver maior quantidade de água e de nutrientes. Entretanto, o cultivo de girassol deve ser preferencialmente destinado às áreas que adotem práticas de manejo melhoradoras das peculiaridades físicas do solo, pois o girassol é sensível à compactação da terra.
A quantidade de adubos necessária para o cultivo do girassol está relacionada aos teores de nutrientes existentes no terrreno e quantificados com a análise de solo. De modo geral, em função do potencial de produção e da fertilidade natural do solo, as quantidades de nitrogênio, fósforo e de potássio variam de 40 a 60 kg/ha de N, 40 a 80 kg/ha de P2O5 e 40 a 80 kg/ha de K2O. Portanto, em áreas com boas produtividades de soja ou de milho, que são bons indicadores da fertilidade do solo, as quantidades de fertilizantes aplicadas são as menores.
Absorção dos nutrientes
Em função da capacidade de explorar grande volume de solo, o girassol consegue absorver muitos nutrientes, que podem estar fora do alcance das raízes de outras culturas.
Levantamento efetuado em algumas lavouras no Mato Grosso reforça a grande absorção de nutrientes pelo girassol, em especial o potássio. Avaliações feitas em plantas inteiras, no enchimento de grãos e com peso seco de 200 g, demonstraram teores médios de 46 g/kg de potássio (K).
Fazendo um cálculo simples pela população de plantas, é fácil constatar, de forma bastante clara, o poder de extração de nutrientes do solo. Como somente os grãos são retirados das lavouras e a palhada irá se mineralizar e liberar os nutrientes contidos nas mesmas, fica evidente o poder dessa planta na ciclagem de nutrientes.
Entre os micronutrientes, o boro (B) é o que merece maior atenção. Contudo, assim como os demais nutrientes, a necessidade de B será definida a partir dos teores existentes no solo. Um bom indicativo é o teor de matéria orgânica e a textura do terreno.
Como aplicar
Quanto à forma de aplicação, a mais adequada é a realizada via solo, juntamente com a adubação de base. Este manejo é recomendável porque, além dos mecanismos de absorção dos nutrientes pelas raízes, a aplicação no solo resolve o problema das culturas que compõem o sistema de produção e não somente o do girassol. Outro modo de suprir a necessidade de B é a aplicação juntamente com herbicidas dessecantes, principalmente na forma de ácido bórico. Por fim, é importante
destacar que em solos arenosos, as quantidades devem ser menores que as aplicadas em solos argilosos, para evitar possíveis efeitos tóxicos de B às plântulas recém-emergidas.
5. Controle de pragas e doenças
As principais pragas que atacam o girassol, em diferentes épocas, são a vaquinha (Diabrotica speciosa), a lagarta-preta (Chlosyne lacinia saundersii) e os percevejos (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros). Outros insetos, embora possuam potencial de dano à cultura, geralmente ocorrem em populações baixas e, ocasionalmente, chegam a causar danos maiores.
O tratamento químico para o controle de insetos-pragas de girassol tem sido prática usual em diversos países. Até bem pouco tempo, no Brasil, por falta de registro de princípios ativos, o agricultor não dispunha oficialmente desta tecnologia. No entanto, por iniciativa de empresas que desenvolvem produtos para a proteção de plantas, já existem alguns produtos registrados que possibilitam melhorar o manejo de pragas.
Doenças
Quanto às doenças, as mais importantes são a mancha de alternaria (Alternaria helianthi) e a podridão branca ou mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum). A mancha de alternaria, que afeta principalmente as folhas, mas também a haste e o capítulo, torna-se mais severa em condições de altas temperatura e umidade acentuada.
Assim como muitas culturas, o girassol é hospedeiro suscetível do mofo branco e, portanto, não deve ser cultivado em áreas com histórico da doença. Além isso, a escolha da época de semeadura é fundamental. Cabe salientar que a indicação da época de semeadura define o período que se permita satisfazer as exigências da planta, nas diferentes fases de desenvolvimento, e que não favoreça a ocorrência de doenças. Como esse fungo é transmitido por sementes, é imperativo utilizar sementes sadias e de procedência conhecida.
O girassol (Helianthus annuus L.) explica não só o nome comum como o nome botânico da planta, tendo em vista que o gênero deriva do grego helios, que significa sol, e de anthus, cujo significado é flor, ou seja, “flor do sol”. É, portanto, uma referência à característica da planta de girar sua inflorescência, seguindo o movimento do sol.
6. Colheita
Assim como a semeadura, a colheita de girassol é uma operação delicada, em que grandes perdas podem ocorrer se pequenos detalhes não forem seguidos, como a umidade dos grãos, a ventilação, a velocidade de operação e a época de colheita, entre outras.
A colheita pode ser efetuada com a plataforma de milho ou de soja modificada ou, até mesmo, utilizando plataformas especiais de girassol. Estas plataformas são eficientes e possibilitam reduzir as perdas de grãos e colher com menor quantidade de impurezas.
De forma resumida, estes são os principais cuidados que o produtor deve ter com o cultivo do girassol que, se realizado adequadamente dentro de critérios técnicos, pode ser uma boa opção de diversificação da atividade agrícola.
É uma cultura que produz óleo de alta qualidade nutricional e com grande demanda e valor no mercado. Além disso, após o esmagamento, como co-produto, obtém-se uma torta com excelente opção para alimentação animal em sistemas de produção integrados. Por fim, destaca-se mais uma possibilidade de uso da terra em um período onde normalmente diminuem as opções comerciais de cultivo, especialmente em se tratando do Cerrado brasileiro. Isto tudo faz com que o agricultor agregue renda, diversifique a propriedade e faça o uso mais eficiente de seu maior patrimônio, a terra.