
Brasil é o terceiro país do mundo a criar empresas-unicórnio, após cinco empresas nacionais entrarem para esse circuito. Foto: Dino Divulgador de Notícias
Cinco empresas brasileiras movimentaram o ano de 2019, ao ingressarem para o seleto rol das “unicórnios” – startups iniciantes avaliadas em mais de um bilhão de dólares. A informação é do professor e mestre em Tecnologias Armando Kolbe Júnior, coordenador do curso de Gestão de Startups e Empreendedorismo Digital, do Centro Universitário Internacional Uninter.
Para destacar ainda mais esse cenário positivo das novas startups, ele cita que, segundo o Crunchbase Unicorn Board, o Brasil foi o terceiro maior “criador das criaturas mágicas” no ano passado, acompanhado da Alemanha. Os dois países ficaram atrás somente dos Estados Unidos e da China.
“Essa conquista mostra a importância das startups para o nosso crescimento econômico, exigindo maior atenção do poder público e da população”, comenta Kolbe Júnior, que é graduado Administração de Empresas com habilitação em Análise de Sistemas
Em sua opinião, o Brasil está provando seu potencial, desde 2018, no desenvolvimento econômico de novas empresas, a partir das startups, assim que a fintech Nubank (startup de finanças) tornou-se “o primeiro unicórnio brasileiro”.
“A empresa repetiu um grande feito em 2019, sendo a primeira ‘tupiniquim’ a receber o título de “decacórnio”, por ter valor de mercado superior a dez bilhões de dólares.”
Empresa unicórnio é uma startup cuja avaliação de preço de mercado supera o valor de um bilhão de dólares. Esse nome foi criado em 2013 por Aileen Lee. Entre alguns exemplos de empresas-unicórnio estão a Loggi, Nubank, 99, Movile, TFG, EBANX e PagSeguro.
Competitividade saudável
Para Kolbe Júnior, “são conquistas que devem gerar competitividade saudável entre os empreendedores brasileiros, pois o crescimento de um incita o desenvolvimento de todos”.
“Ao todo, contamos com 11 unicórnios, sendo esses os que atingiram o status em 2019: Loggi (logística e entregas), Gympass (fitness e esportes), QuintoAndar (imobiliária), EBANX (finanças) e WildLife Studios (jogos eletrônicos)”, informa o especialista.
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De acordo com o especialista, o mundo das startups, diferentemente das empresas tradicionais, manteve em 2019 o mesmo clima de entusiasmo vivenciado no ano anterior.
“O mais importante é que o otimismo não era somente em discursos, mas em dados reais. Especialistas e diversos investidores do mercado de startups, de acordo com a Folha de São Paulo, dividem o Brasil em dois: “o dependente da macroeconomia e das incertezas políticas e o que se descola, ao menos em parte, para viver um ciclo paralelo”. De qual lado queremos estar? A decisão é de cada um.”
Manter status nem sempre é fácil

Empresa brasileira de logística e entregas, Loggi entrou para o rol das startups unicórnio em 2019. Foto: Divulgação Facebook Loggi
Manter o status de unicórnio, no entanto, nem sempre é fácil. Kolbe Júnior cita como exemplo a empresa de tecnologia da saúde Theranos (EUA), que tinha um valor estimado de nove bilhões de dólares em 2014, mas fechou as portas em janeiro de 2017.
“Quando uma startup cai, depois de vivenciar um momento de bonança, fica conhecida como ‘unicorpse’. Geralmente, a empresa perde a confiança dos investidores por deixar de adaptar-se ao mercado ou, então, por subestimar a concorrência – dois grandes empecilhos no ecossistema de startups”, comenta o professor.
De acordo com Kolbe Júnior, algumas ações podem auxiliar na sobrevivência de uma startup, fazendo com que ela se mantenha sempre competitiva, em um mercado de constante inovação.
“Entre elas podemos citar o monitoramento dos passos dos concorrentes, como preços praticados, relacionamento com os clientes e ações de marketing. Outra condição é estar atento a tudo que surge no mundo das novas tecnologias, sendo estas grandes aliadas no desenvolvimento de negócios.”
Projeções para 2020

Professor e mestre em Tecnologias, Armando Kolbe Júnior diz que projeções para startups, em 2020, são otimistas. Foto: Divulgação Uninter
Para 2020, segundo o professor, as projeções estão entusiasmadas e o ano é visto como favorável às inovações tecnológicas. Isso porque, uma pesquisa da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) indica que 81% dos empreendedores digitais pensam que o acesso ao capital vai melhorar nesse ano.
Ainda na mesma pesquisa, 67% acreditam que o mercado terá uma melhora por conta da adoção de tecnologias por parte de empresas tradicionais.
“O fato de este ano ser eleitoral também traz otimismo, pois os políticos estarão mais atentos ao mercado de investidores e de startups”, acredita Kolbe Júnior.
Ambiente regulatório no Brasil
Ainda conforme o especialista, as principais reclamações das startups continuam sendo em relação ao ambiente regulatório brasileiro para empresas de inovação, que ainda sofrem com barreiras burocráticas.
“Com regulamentações excessivamente rígidas é impossível enquadrar as startups, cujo âmago consiste em um modelo de negócio diferenciado, adaptável e tecnológico. Outro empecilho é a falta de incentivo fiscal para aceleradoras e investidores-anjo, dos quais as startups dependem para receber aportes e crescer.”
Em termos legais, segundo o professor, ainda não existe legislação própria que dê segurança para quem deseja realizar um investimento em startups.
“Atualmente, as startups são inicialmente enquadradas como micro ou pequenas empresas, contribuindo pelo Simples Nacional. Porém, isso é um empecilho aos investidores, pois, se fizerem um aporte, a startup deixará de fazer parte do Simples, antes que tenha condições de contribuir em outras modalidades.”

Sem ambiente regulatório específico, Brasil peca por não ter legislação própria, que dê segurança para quem deseja realizar investimentos em startups. Foto: Divulgação Getty Images
Redução da tributação
Na visão de Kolbe Júnior, já existe um entendimento, por parte do governo brasileiro, de que é preciso reduzir a tributação para criação de startups e, com isso, fomentar esses empreendimentos, que são atrelados a riscos.

Para não perder o bom momento das startups, governo federal precisa reduzir a carga tributária para a criação de novas empresas. Foto: Divulgação Thinkstock
“A simplificação da burocracia para startups e investidores pode ser uma das medidas econômicas mais importantes que o Ministério da Economia deve tomar nos próximos anos”, comenta.
Para o professor, “como cidadãos, mesmo que vivendo fora do mundo das startups, o que podemos fazer é cobrar medidas de incentivo para essas gigantes tecnológicas; ou ainda, de forma mais simples, nos informar culturalmente sobre seu mundo e propósito”.
“Assim, não seremos pegos de surpresa quando o Brasil tiver seu primeiro ‘hectacórnio’, valendo mais de 100 bilhões de dólares.”