
Pesquisa mostra que 87% dos consumidores do Brasil consideram a conta de energia elétrica bem cara e 64% afirmam fazer esforços para economizar. Foto: Divulgação iStockphoto/Getty Images
Quanto pesa no bolso do brasileiro, que vive na cidade ou no campo, na hora de pagar a conta de energia elétrica, que faz parte do orçamento fixo mensal?
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que o consumidor chega a gastar mais de 20% do salário mínimo (hoje, em R$ 1.039,00) para pagar a conta de luz. E esses valores sobem bastante durante o verão,quando há uma tendência de aumento de uso de equipamentos, como ar condicionado. A Companhia Energética de Brasília (CEB), por exemplo, registrou alta de 7% no consumo de energia no Distrito Federal, no mês de novembro de 2019, antes mesmo de começar a estação mais quente do ano.
Uma pesquisa da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), feita em parceria com o Ibope em agosto de 2019, aponta que 87% dos consumidores do País consideram sua conta de energia cara. E, pelo menos, 64% dos entrevistados afirmam fazer esforço para economizar energia, para não impactar o orçamento familiar.
Se em uma casa normal o preço da luz já é salgado, a conta fica ainda mais cara para os produtores rurais, que utilizam cada vez mais processos automatizados dependentes de energia elétrica para seu funcionamento. Em artigo recente, José Zefferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), aponta alguns desafios relacionas à energia elétrica em zonas rurais.

Não só o preço da luz interfere na produtividade rural, como também a baixa qualidade da energia que chega a estas zonas, em geral através de linhas de transmissão monofásica. Foto: Agência de Notícias do Paraná.
“Em face da escassez de mão de obra na área rural e da otimização dos processos produtivos, está ocorrendo crescente emprego da automação em todas as atividades. Exemplo expressivo são os modernos aviários, com equipamentos automáticos de climatização em criatórios hermeticamente fechados. Nessa mesma linha, a fumicultura, com o uso de estufas para a secagem das folhas, obedecendo ao padrão de qualidade exigido pelas fumageiras. As atividades de armazenagem de grãos, resfriamento de leite e criatórios automatizados para suínos também são fortemente demandantes de energia”, explica Pedrozo.
Precariedade na transmissão
Não só o preço interfere na produtividade rural, como também a baixa qualidade da energia que chega a estas zonas, em geral através de linhas de transmissão monofásica.
“Os maiores percalços à produção situam-se nas propriedades rurais localizadas nas pontas das redes, onde as quedas constantes da energia causam a queima e a perda de equipamentos, paralisando a produção”, afirma o presidente da Faesc, lembrando que produtores rurais catarinenses têm muitas queixas em relação ao suprimento de energia elétrica, que tem sem se tornado um pesado custo adicional.
“A precariedade do sistema também não permite que os jovens tenham acesso à telefonia e internet móvel, estimulando o êxodo rural. No verão, os prejuízos com ativos biológicos provocam, além da perda econômica para os fumicultores, avicultores e indústrias, riscos de ordem sanitária. O núcleo do problema se concentra nas velhas redes monofásicas de transmissão: todas precisam ser substituídas por redes trifásicas”, opina Pedrozo.
Aumento nas contas de luz

“Grande parte da conta de luz do brasileiro é imposto”, diz o executivo Alcione Belache. Foto: Divulgação Renovigi
“Grande parte da conta de luz do brasileiro é imposto. O consumidor paga pela compra de energia, os serviços de transmissão, a distribuição e por último os encargos setoriais”, explica Alcione Belache, CEO da Renovigi, empresa brasileira que atua no mercado fotovoltaico desde 2012, tendo distribuído mais de 800 mil painéis solares por todo o Brasil, desde então.
O executivo acredita que, para o ano de 2020, possa ter um aumento médio de 2,42% na conta de energia. “Isso porque existe uma consulta pública aberta em outubro, feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sobre o orçamento para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que é um dos subsídios pagos pelos consumidores de energia”, cita Alcione.
Estratégias para reduzir gastos
No final do ano passado, o governo anunciou a tarifa branca, que passou a vigorar no último dia 1º de janeiro, como estratégia de redução de custos. A taxa está disponível para residências e pequenos comércios, prevendo descontos para o consumidor que reduzir o consumo nos horários de maior utilização. A Aneel também conta com o benefício da Tarifa Rural, permitindo reduções cumulativas de 10% a 30% na conta de luz dos agricultores pertencentes a dois grupos de unidades de consumo: os de fornecimento de alta tensão (acima de 2,3 quilowatt), enquadrados no “grupo A rural”, e os de baixa tensão (abaixo de 2,3 quilowatt), classificados como “grupo B rural”.
Especialistas, porém, chamam a atenção para a adoção de estratégias sustentáveis e de longo prazo para redução tanto do uso de energia elétrica quanto do custo. O uso da energia renovável, como a solar por exemplo, é uma tendência mundial para esse tipo de economia.
De acordo com a Renovigi, que em maio de 2018 lançou o projeto “Minha Energia Vem do Sol”, no Estado de Santa Catarina, a Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que a energia solar vem se destacando perante as demais fontes de energia elétrica no planeta, sendo hoje considerada a principal responsável pelo desenvolvimento sustentável.

Lançado em 2018 em SC, projeto “Minha Energia Vem do Sol” usa energia sustentável. Foto: Div. Renovigi
Um sistema solar, além disso, pode contribuir para uma economia considerável na fatura. “O brasileiro está tomando conhecimento da importância de produzir sua própria energia. Ter a liberdade de escolha e produzir a sua energia é libertador, além claro, de economizar, e muito! Estamos falando em uma economia de até 95% na conta”, afirma Belache.
O executivo acrescenta que, na pesquisa feita pelo Ibope, em parceria com a Abraceel, foi visto que, aqueles que “puderam optar”, economizaram aproximadamente R$185 bilhões, nos últimos 16 anos.