Saboroso e versátil, o produto que vem das abelhas é o único alimento naturalmente doce, que contém proteínas e sais minerais, importantes nutrientes para a saúde
Rico em sais minerais como sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, cobre, fósforo, manganês e zinco, o mel, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, faz bem à saúde, especialmente se for comparado ao açúcar refinado (branco).
“Os principais componentes do mel são os açúcares frutose e glicose, em proporções equivalentes que, juntos, perfazem 70% do total, incluindo a sacarose, maltose, entre outros açúcares”, informa a nutricionista Ana Paula Gluck Karam, especialista em Nutrição Funcional e Esportiva.
Ela também destaca que a maioria de suas características, tais como sabor, aroma e cor, “é determinada não por esses componentes principais, mas por outros que estão em quantidades bem menores, como sais minerais, vitaminas, enzimas, compostos nitrogenados, ácidos e voláteis”.
Vitaminas
Quando trata do valor nutricional do mel, Ana Paula pondera que as vitaminas presentes nele não são tão importantes, porque vêm em pequenas quantidades. Apesar disso, ela relaciona as mais famosas: vitamina B1 (tiamina), complexo vitamínico B2 (riboflavina e ácido nicotínico), vitamina B6 (piridoxina), ácido pantotênico, vitamina C (ácido ascórbico), sendo essa última encontrada em maior quantidade, dependendo da origem floral do mel.
“A composição exata de qualquer mel depende, principalmente, das fontes vegetais das quais ele é derivado, mas também do tempo, solo e outros fatores. Dessa forma, dois méis nunca são idênticos”, explica a nutricionista.
Conforme Ana Paula, “a variedade infinita é uma grande atração do mel”: “Os polifenois estão nos grupos importantes, no que diz respeito à aparência e às propriedades funcionais do mel (propriedades antioxidantes), sendo mais encontrados os flavonoides (quercitina, luteolina, galangina etc), ácidos fenólicos e seus derivados”.
Ingrediente versátil
Além de ser um alimento bem saboroso, o mel é um ingrediente versátil que pode ser usado no preparo de várias receitas, doces ou salgadas, ambas apetitosas.
Com seu poder adoçante, aroma peculiar e sabor único, ele se encaixa perfeitamente nos mais diversos pratos – adocicados ou salgados –, desde as entradas, os pratos principais e, claro, às sobremesas.
“Sua compatibilidade com os alimentos também pode influenciar no aumento de seus benefícios nutricionais, quando ocorre a biodisponibilidade (“absorção”) dos nutrientes”, ensina a nutricionista Patrícia Bertoni Brotherhood.
Diabéticos podem consumir?
Pessoas que sofrem de diabetes podem consumir mel? De acordo com a nutricionista, Ana Paula Karam, a resposta é sim, desde que seja com moderação.
“O mel tem um atributo de saúde por ser uma fonte de energia prontamente disponível, devido ao fato de as abelhas realizarem a quebra da sacarose do néctar, em proporções equivalentes de frutose e glicose.”
Ela relata que “esses dois carboidratos presentes no mel, em relação à sacarose encontrada no açúcar refinado, apresentam efeitos fisiológicos diferentes nos níveis de açúcar do sangue, pois requerem níveis mais baixos de insulina, não elevando os níveis de açúcar do sangue tão rapidamente quanto ao açúcar refinado”.
“A frutose cai mais lentamente na circulação sanguínea não oferecendo picos de insulina. Resumindo, os diabéticos podem, sim, consumir mel em quantidades moderadas, conforme orientação do médico ou nutricionista”, aconselha Ana Paula.
Faixa etária
O consumo de mel não tem uma idade exata, tanto que é indicado para quem mantém dietas equilibradas. Isso porque ele “facilita o desempenho e aumenta a resistência física em relação à fadiga, particularmente para o esforço repetido, e ainda promove uma eficiência mental”, ressalta a nutricionista.
Para o público infantil, é recomendado a partir de um ano de idade, por causa da possível presença do Clostridium (Cl.) botulinum.
“O esporo dessa bactéria pode sobreviver no mel e desenvolver a toxina no estômago de bebês com menos de 12 meses, o que torna um risco sua ingestão.”
Em um estudo realizado com atletas, comenta a especialista, “o mel promoveu um aumento significativo na frequência do coração e do nível da glicose no sangue, durante o desempenho do treino”.
“Também não acarretou sinais físicos ou psicológicos da hipoglicemia nos atletas de corridas, ou durante a resistência do treino, sendo considerado uma fonte eficaz de carboidratos para o melhor desempenho dos esportistas.”
Benefícios para a saúde
Os benefícios do mel, de acordo com informações de Ana Paula, são os seguintes:
- Nutricional: possui uma quantidade de carboidratos facilmente digerível e saborosa, quando comparado aos demais tipos de açúcares comercializados, sendo muito indicado para crianças, por melhorar o sangue e aumentar o ganho de peso, não modificando seus processos fisiológicos.
“Em adultos e pessoas idosas, o mel é considerado um alimento que facilita o desempenho e a resistência física, diminuindo a fadiga, especialmente a decorrente do esforço repetido. Também promove uma eficiência mental mais elevada.”
Conforme a especialista em Nutrição Funcional e Esportiva, “seu valor nutritivo aumenta com os componentes presentes em menor proporção, como minerais, aminoácidos, ácidos, enzimas e vitaminas, o que diferencia esse alimento em relação aos açúcares comercializados”.
- Trato digestivo: sua aplicação é muito indicada na assimilação dos alimentos e na prevenção e tratamentos de desordens gastrointestinais, tais como úlceras, gastrites e gastroenterites.
“Em casos de consumo de mel em grande quantidade (50 a 100 gramas), pode ocorrer um efeito laxativo suave em indivíduos com insuficiente absorção de frutose que vem dele. As propriedades laxativas suaves desse alimento são usadas para o tratamento de constipação”, relata Ana Paula.
- Saúde cardiovascular: seus efeitos em pacientes com problemas cardiovasculares mostraram uma diminuição do colesterol, LDL-C e o TG (triglicérides), bem como da proteína reativa-C, quando comparados à ingestão de um xarope de açúcar (frutose e glicose na mesma proporção de mel), por exemplo.
Nas mesmas experiências, segundo a nutricionista, além de mostrar os níveis aumentados de óxido nítrico no mel, ainda pode ser observada uma função protetora em doenças cardiovasculares.
- Saúde do sistema respiratório: é muito empregado como remédio para inflamações na boca, garganta ou irritações e infecções bronquiais, devido aos seus efeitos antibacterianos.
- Saúde oral: há muito debate se esse alimento produzido pelas abelhas seria prejudicial ou não aos dentes.
De acordo com Ana Paula, “alguns estudos propuseram que o mel, dependendo da sua origem floral, pode atuar como antimicrobiano muito potente, que tem atividade na inibição do crescimento das bactérias que causam a cárie, tendo um efeito positivo sobre a gengivite e também uma menor erosão do esmalte dos dentes”.
“Esse fato pode estar relacionado à presença de cálcio, fósforo e aos níveis de fluoreto e de outros componentes coloidais no mel. Mas recomenda-se limpar os dentes após o consumo do mel, devido ao seu elevado teor de carboidratos.”
- Anti-inflamatório: em testes experimentais com ratos, foi observada que a ingestão de mel reduziu inflamações nos intestinos desses animais.
“A administração do mel é tão eficaz quanto o tratamento do prednisolona, em um modelo inflamatório de colites. O mecanismo postulado da ação é o impedimento da formação dos radicais livres liberados dos tecidos inflamados”, explica Ana Paula Karam.
Conforme a especialista em Nutrição Funcional e Esportiva, “a redução da inflamação pode estar relacionada ao efeito antibacteriano do mel ou ao efeito anti-inflamatório direto”. “Outra observação, feita a partir de estudos com animais, mostrou que os efeitos anti-inflamatórios do mel foram notados nas feridas, devido à ausência de infecção bacteriana.”
- Saúde da pele: é usado em hidratantes e outros tipos de cosméticos, tais como sabonetes, máscaras e loções, mas também nas preparações farmacêuticas aplicadas diretamente em feridas, queimaduras e úlceras de pele, pois ajuda na regeneração das células superficiais da pele, alimentando o epitélio e ativando a circulação ao nível dos capilares, o que alimenta a pele, hidratando-a.
- Outros benefícios: “Muitos estudos associam outros benefícios do mel à redução da insônia e de febres, além de ter alguns relatos que relacionam seu auxílio na recuperação da intoxicação por álcool, por proteger o fígado.” Entre todos os benefícios já citados, a nutricionista ainda relata que o mel contém triptofano: “Por isso, ele acalma, regula o sistema endócrino e é prebiótico, auxiliando no bom funcionamento do intestino e, consequentemente, na formação da serotonina”.
Mel é calórico?
De acordo com Ana Paula Karam, apesar de nutritivo, o mel é calórico, contendo 320 calorias a cada cem gramas ou 64 calorias em uma porção (uma colher de sopa). Apesar disso, ela afirma que esse alimento não traz nenhum efeito colateral às pessoas saudáveis.
“Existem poucos relatos sobre o quadro de alergia, que pode causar anafilaxia em pessoas alérgicas a mel, mas é raro eles serem também alérgicos ao pólen. A incidência de alergia a mel é explicada pela presença dos componentes da origem da abelha.”
Sem exageros
Também nutricionista, a especialista em Vigilância Sanitária Ana Carolina Medeiros reforça que, “dos alimentos naturalmente doces, o mel é o único que contém, em sua composição, proteínas e sais minerais, como potássio e magnésio”.
“O mel, em excesso, pode causar aumento de peso, como a maioria dos alimentos ricos em açúcar, chegando a conter quase as mesmas calorias do açúcar branco. Quer comparar? Uma colher de sopa de açúcar branco refinado tem 95 calorias, enquanto a mesma medida de mel possui 64 calorias”, diz Ana Carolina.
O consumo diário de mel pode variar de uma colher de chá (10g) a uma colher de sopa (25g). Para pessoas que desejam manter o peso, o ideal é que ultrapassem duas colheres (sopa) por dia.
Ainda assim, ela recomenda a inserção do mel na dieta, com destaque para casos de pessoas com prisão de ventre. “Ele ajuda o intestino a se movimentar, ou seja, aumenta o peristaltismo. Também auxilia na má digestão e úlceras gástricas, pois possui enzimas naturais que auxiliam na digestão. Também é recomendado para bronquites e asmas, devido às suas características antibióticas e antissépticas”.
Ela ainda sugere que é possível potencializar os efeitos do mel com própolis, que estimula o sistema imunológico, tem efeito cicatrizante e regenera os tecidos; e com canela, que age em torno da má digestão. Basta adoçar um chá de canela com mel, pois essa mistura melhora a digestão. Com limão, o indicado é associar o mel para fortalecer o sistema imunológico.
Pureza
Para averiguar se o mel é puro ou não, Ana Carolina sugere que o consumidor observe a cristalização do produto: “Para tirar a dúvida de uma vez por todas, o mel puro cristaliza, ou ‘açucara’. Já o mel adulterado permanece líquido. A relação da cor do mel versus nutrientes é verdadeira também, levando em conta que estudos indicam que o mel de flor de laranjeira é mais claro e possui concentrações de nutrientes diferentes do mel mais escuro, como o de eucalipto”.
Como consumir
Podendo ser puro, misturado a frutas e crepes no café da manhã, no pão, em pratos salgados e no tradicional pão de mel, além das sobremesas irresistíveis, como bolos, pavês, o mel vai bem com outras variedade de alimentos.
A nutricionista Ana Paula Gluck Karam recomenda o consumo do mel como edulcorante, ou seja, para adoçar café, sucos e chás. “Eu, particularmente, prescrevo muito chá de camomila com melissa e adoçado com mel antes de deitar, para ajudar aos pacientes com dificuldades para dormir”.
Ela aconselha também que o mel seja adicionado a frutas, sozinhas ou na forma de saladas. “Mel com banana e canela também tem ação no sono, tranquiliza, principalmente se assarmos a banana. Dessa maneira, rompemos as fibras e liberamos o aminoácido triptofano”, ensina.
“Mel com água morna e ameixa é ideal para quem sofre de problemas de intestino preso”, diz a nutricionista que completa: “Use o mel como a imaginação quiser!”
Receitas salgadas
Para incrementar o molho da salada, que tal um “fio” de mel mesclado com azeite, sal e mostarda? Ou uma colher do doce na carne assada, no frango de forno, no pernil ou lombo suíno?
Dentre os tantos benefícios do mel, seu maior destaque é a versatilidade, podendo fazer parte de diversas composições gastronômicas, inclusive as salgadas!
“Seu sabor adocicado promove uma perfeita harmonização em preparações comuns do dia a dia, tornando-as mais saborosas e nutritivas para o organismo”, oriente Ana Paula.
A nutricionista Patrícia Bertoni Brotherhood, ensina algumas maneiras de utilizar o mel nas inusitadas receitas salgadas.
1 – Carne assada com cebola caramelizada: a tradicional carne assada ganha um complemento altamente saboroso e aquele toque adocicado peculiar. Nessa receita, o mel vem acompanhado da cebola, completando o prato e tornando-o ainda mais nutritivo.
2 – Bruscheta de salmão defumado com abacate: a entrada italiana é conhecida, no Brasil, por sua diversidade de sabores e temperos. Nessa versão saudável, além da presença do abacate e do salmão, dois líderes em ômega 3 para nosso organismo, ela ainda tem o mel para trazer todo aquele toque especial, tornando a bruscheta ainda mais saborosa.
3 – Sanduíche quente de atum com salada: para o lanche no meio da tarde ou para o café da manhã, o tradicional sanduíche é leve, prático, saboroso e muito nutritivo. Temperada com mel, azeite e mostarda, a salada que completa o sanduíche é essencial para proporcionar saciedade e tornar nosso organismo mais saudável.
4 – Papelote de sobrecoxa com legumes orgânicos: quer um almoço saudável e ainda extremamente saboroso? Experimente essa receita de sobrecoxa que leva mel como ingrediente. Misturado com ervas e legumes, o prato fica mais rico em antioxidantes, vitaminas e minerais, que deixam nosso corpo nutrido.
5 – Salada de folhas com frutas e rabanete: refrescante, leve e a cara do verão, as saladas também recebem o toque especial do mel. Nessa receita, os sabores doces, ácidos e picantes se misturam, tornando a entrada uma explosão de sabores. Experimente e se surpreenda!
6 – Dueto de salmão com truta e purê de peras e maçãs: salmão e truta são dois frutos do mar essenciais para nosso bem-estar e também fazem uma perfeita harmonia com o mel. Além disso, esse alimento, aliado a tantos nutrientes benéficos, ajuda a fortalecer nosso sistema imunológico e a controlar os níveis de açúcar no sangue.
7 – Filé de terneiro com batatas ao forno: para quem não resiste a uma suculenta carne vermelha, não pode deixar de conferir essa receita! Rica em proteínas, o mel, além de tornar o prato mais saboroso, completa a preparação, ajudando a proporcionar uma fácil digestão.
8 – Tartar de legumes: utilizado no tempero dos legumes nessa receita, o mel promove um toque levemente adocicado, trazendo seu sabor peculiar ao prato. Aliado aos nutrientes encontrados, tais como a vitamina A e C e a quantidade de minerais, o mel atua em prol do sistema imunológico, combatendo as ações dos radicais livres.
9 – Camarão com mel: nessa receita o mel, o alho e a pimenta têm efeitos antioxidantes que, juntamente com o ômega 3 presente no camarão, ajudam a prevenir doenças imunológicas e inflamatórias.
10 – Lombo com mostarda e mel: por ser uma fonte de vitamina B1, auxilia na prevenção de câimbra e dores musculares juntamente com mel que fornece energia são ótimos para pessoas que fazem atividade física.
Consultoria:
Ana Paula Gluck Karam
Nutricionista especialista em Clínica Funcional e Clínica Esportiva Funcional
Ana Carolina Medeiros
Nutricionista Clínica, especialista em Vigilância Sanitária
Patrícia Bertoni Broterhood
Nutricionista Clínica